Quando se trata da Amazônia Legal, o tema cobertura vegetal aparece, via de regra, como a principal preocupação. Mas o patrimônio ambiental dessa extensa parcela do território brasileiro vai além da floresta e outros tipos de vegetação. Inclui, por exemplo, um subsolo formado por rochas com alto potencial de armazenamento e transferência de água potável e um solo com um estoque considerável de carbono, que, se liberado para a atmosfera, pode alterar o balanço dos gases de efeito estufa.
E quanto vale este patrimônio? Pergunta difícil. De diversas respostas “corretas”. Mas, necessária. O IBGE publicou o estudo: “Geoestatísticas de Recursos Naturais da Amazônia Legal” (IBGE. 2011), com informações sobre os recursos naturais da região - vegetação e cobertura da terra; relevo; solos; e rochas e recursos minerais que pode ajudar a responder a esta pergunta.
A Amazônia Legal ocupa 5.016.136,3 km2 (quase 59% do território brasileiro). Nela vivem em torno de 24 milhões de pessoas, em 775 municípios (AC, AP, AM, MT, PA,RD, RR, 98% de TO, 79% do MA, 0,8% de GO). Além de conter 20% do bioma cerrado, a região abriga todo o bioma Amazônia, o mais extenso dos biomas brasileiros, que corresponde a 1/3 das florestas tropicais úmidas do planeta, detém a mais elevada biodiversidade, o maior banco genético e 1/5 da disponibilidade mundial de água potável.
O estudo investigou 14 indicadores (potencial hídrico, ~ 45% de toda a água subterrânea do país está na região; combustíveis fósseis; e da formação de concentrações de minérios e outros). O conjunto de informações é pertinente não só pelo que informa, mas pelo que ignora. Em épocas de grandes projetos de impacto ambiental amplo, mudanças em modelos de produção agrícolas, marcos legais, etc. O estudo ajuda a conhecer um pouco mais de um sistema pouco conhecido. De tão pouco conhecido, o risco de grandes intervenções torna-se maior. Quando não entendemos, temos que ser cautelosos. Algo que os homens já deveriam ter aprendido com a experiência com as mulheres rsrsrs.
O custo do Patrimônio Natural amazônico pode ser calculado sob várias perspectivas, que podemos simplificar em 3:
1. Valor dos bens naturais aplicados imediatamente no mercado. O tipo de cálculo que fazem os madeireiros e mineradores na região. Se vale, venda. Neste critério, as estimativas de valor vão de USD 82 trilhões a 400 trilhões Como eles calculam isto? preços de mercado dos bens disponíveis.
2. Valor de manter reservas de recursos finitos que tem potencial exponencial de aumento de valor. Guardar para vender, mais caro, depois. Neste critério, a Amazônia poderia gerar até USD 2 Quatrilhões em vendas mitigadas pelos próximos 50 anos.
Estas duas perspectivas tratam do valor como referenciado ao potencial de compra/venda, ie, pelo mercado. Outra perspectivas seria:
3. Valor de manter recursos, utilizando-os em níveis bem baixos, para não gerar impactos negativos em clima e nos demais ecossistemas. Guardar para não vender. Neste caso, o valor da Amazônia está em sua capacidade de mitigar efeitos negativos das mudanças climáticas. O PNUMA calcula que neste caso, a preservação da maior parte deste bioma evitaria perdas de estimadas em USD 50 trilhões, fora o custo em vidas.
Não só a opção #3, toda escolha de uso de recursos da Amazônia passa pelo custo de oportunidade. Não utilizar recursos da região (por exemplo, seu potencial hídrico para geração de energia) representaria ter que usar de outras fontes (petróleo, por exemplo), não ampliar a oferta de energia para a região, ter menos empregos na área, etc. Por outro lado, utilizar dos mesmos recursos significa reduzir a capacidade futura de exploração, impactar (possivelmente) o clima, etc. Cada ação, ou falta de ação tem um custo que precisa ser combinado com o preço do estoque natural.
Por último, mas primeiramente também há 24 milhões de pessoas que vivem na região e em condições dentre as piores do país. A região apresenta alguns dos piores índices nacionais de: Mortalidade infantil, desnutrição, subregistro civil, escolaridade, igualdade entre gêneros, etc. O custo de um modelo de exploração de riquezas precisa tomar em conta o preço social para o desenvolvimento desta população.
Muito se fala de uso sustentável. No powerpoint é tudo muito bonito. É possível produzir sem agredir a natureza, etc... No mundo real, não existe exploração não-subdisiada, em escala suficiente para manter a população local, sem impacto no estoque ambiental. É possível minimizar, adminstrar este impacto. Mas, ele é inevitável. Não se trata de uma equação E/OU, é OU/OU mesmo. Não explorar a região agora, tem um custo de subsídio (para manutenção das condições sócio-economicas das populações da área) que deve ser pago pelo restante da sociedade. Explorar tem o custo da redução de estoques e no impacto (danoso) no restante das condições de sustentabilidade. O complexo politicamente é que alguns custos são presentes e facilmente identificados, outros são potenciais e difusos. As decisões tendem a se basear na análise dos custos imediatos e óbvios.
Em resumo, os dados do IBGE ajudam a perceber que há uma conta a ser feita, antes de ligar ou mesmo desligar os motosserras.
O Estudo todo está em: