Até final da década passada, dois assuntos pareciam imutáveis desde a década de 60: a desigualdade brasileira e o azar do Botafogo (do meu amigo Cesar Calonio, UFRPE).
Olhar então o gráfico de evolução anual da linha de desigualdade (GINI) no Brasil era ideal para pessoas com insônia. Parecia um gráfico de paciente terminal, “flat”. Mas, desde 1999 a linha reviveu. E poucos estudaram tanto este comportamento século XXI da desigualdade brasileira quanto Marcelo Neri. Corre a piada na GV, de que Neri é brilhante, mas tem um defeito grave: ele sabe disto rsrsrs.
Tirando a sessão fofoca, Neri vem demonstrando há anos que a primeira década do século 21 mostra uma redução impressionante nos índices de desigualdade. E neste período se concentra o último estudo de Neri e equipe CPS: Desigualdade de Renda.
A desigualdade de renda “evolui tanto” tanto que chegamos aos mesmos níveis dos anos 70. Sim. O país quase conseguiu apagar da linha de GINI os anos de hiper inflação. Nada foi mais desastroso para a desigualdade brasileira do que a inflação. Ou você achava que o BC sobre juros para alegrar bancos e rentistas? Não. O objetivo é reduzir a desigualdade kkkk.
As tendências identificadas no estudo apontam para que o Brasil tenha em 2014 o menor nível GINI da série, que começou a ser medida na década de 60. Em outras palavras, você terá algo para comemorar em 2014, já que a seleção...
Antes de você estourar a champagne, se compararmos o Brasil com seus “pares de PIB”, ele continua o país com maior concentração de renda. Por sinal, um tipo de indicador que deve ser comparado somente entre países industrializados porque o GINI calculado por consumo (aplicado em 3 de cada 4 países de baixo IDH) é de outra natureza.
Da sopa de letrinhas do IBGE, poucos entendem de PME e PNAD como Neri (como homem não resiste à fofoca: o nome do Centro de Políticas Sociais, da FGV, foi escolhido por ele para ter a sigla CPS, a “PNAD” americana). O estudo propõe uma “espécie de metodologia Lego”, ao pegar peças distintas (todas da PME+PNAD) e encaixá-las.
Ao revisar os dados destas duas pesquisas, e trabalhar fortemente com os n;umeros de 2008 e 2009, o estudo reforça duas conclusões importantes:
1. A Pobreza, medida pela combinação PNAD/PME caiu:
- 31,9% da “Era FHC”: incorporando o Real e descontando o imposto inflacionário.
- 50,64% na “Era Lula”: 2003-2010.
- 16.3% somente entre Dez 2009-Dez 2010.
- 67.3% desde o Real até Dez 2010. O que falta reduzir é o “terço” mais difícil, o núcleo duro da pobreza, aquele que não cede com as atuais políticas.
2. A redução da desigualdade no Brasil foi considerável e continua:
A. Causas da Redução:
- Maiormente, ao avanço no emprego (na pesquisa, “esforço trabalho” = jornada, taxas de participação e ocupação).
- Há outros 3 determinantes na redução da desigualdade de renda: Programas Sociais (~1/3 do impacto); Bônus Educacional (+ estudo, + renda); e Educação.
B. A redução da desigualdade mostra uma intensificação nos últimos anos da década (impacto residual positivo) o que melhora as perspectivas até 2014 (mesmo com a seleção de volantes rsrsrs).
Como todo lego, há outras maneiras de montar os dados que Neri usa. Pode-se argumentar que ele está muito enfocado no todo e não percebe os problemas “dentro” do grupo de pobres que revela, por exemplo, estagnação de um grupo de quase 15% da população. Mas, isto não tira a precisão da macro-visão da pesquisa.
Dos temas sem esperança, a desigualdade parece que tem jeito, já o azar do Botafogo... rsrsrs
Vá ao site do CPS e veja a pesquisa toda: