Nada contra flores e cartões no
dia 8 de Março. Nada contra frases e declarações de efeito (talvez culpa
masculina?:) etc. Mas, além das flores e cartões, este dia é importante como
memorial de que INFELIZMENTE a injustiças e desigualdades de gênero ainda são muitas,
diversas e perpetradas em todos os níveis e atores sociais. Dentre as diversas manifestações desta
injustiça, a violência seja talvez a mais significativa, porque reflete
perversidades culturais, econômicas e políticas.
Que no Brasil mais de 20.000 crianças
e adolescentes são assassinados por ano, sabemos. Que a maioria destes jovens é
do sexo masculino, também. Porém, as mortes inaceitáveis de meninos e
adolescentes são só um minúsculo fragmento do problema as violências: aquelas que
são registradas e institucionalizadas através das certidões de óbito.
Não percebido pelos registros
fatais está um enorme contraste: se a violência letal por causas externas
atinge principalmente crianças e adolescentes do sexo masculino (em torno de
80% dos óbitos registrados na última década e quase 90%, no caso de homicídios),
a relação se inverte nos atendimentos do SUS. Os atendimentos femininos por
violências representaram de 60% das notificações; na faixa dos 10 aos 14 anos de
idade: 68%! (Fonte: SINAM).
Violências físicas representaram
40,5% do total de atendimentos. Em segundo lugar, as diversas formas de
violência sexual, que registram 19,9% dos atendimentos acontecidos em 2011 (Um total de
10.425 crianças e adolescentes, a grande maioria do sexo feminino: 83,2%). A
maior incidência registra-se na faixa dos 10 aos 14 anos de idade. Meninas e Adolescentes são quase 4 vezes mais vítrimas de violência moral do que os meninos e adolescentes do sexo masculino.
A violência sexual mais frequente
é o estupro: 7.155 casos (59% do total). Assédio sexual e atentado violento ao
pudor também são significativos: entre 15 e 20% dos atendimentos.
Como uma estimativa de
subnotificação para estes casos é, no mínimo de 1 em 3 (um caso notificado para
cada 3 acontecidos), podemos afirmar que Mais de 30.000 sofreram violências de
natureza sexual. 20.000 meninas são vítimas anualmente de estupro. A proporção de vítimas com acesso a serviços de apoio psicossocial não chega a 30%. Segundo
o próprio Ministério da Justiça, 350 agressores foram denunciados à justiça. Em
uma conta rápida, a chance de um perpetrador de violência sexual contra meninas
e adolescentes ser levado à justiça é de quase 1 para 100. Para comparar, a
chance de um assaltante de bancos ser preso é mais de 10 vezes maior. Conclusão
difícil de ser admitida: Bancos valem mais do que a vida destas meninas.
Nas “violências que matam aos poucos”,
as meninas e as adolescentes são as principais vítimas. Como são sistematicamente
impunes, as violências contra meninas e as adolescentes torna-se um triste
parâmetro, que se verificará nas mulheres jovens e adultas. Sempre importante
lembrar que 87,8% das mulheres vítimas fatais de violência interpessoal foram agredidas
anteriormente. E nada aconteceu a seu agressor.
Uma triste curiosidade, no Estado
de São Paulo, o total de investimento em centros de referência de apoio a
mulheres vítimas de violência (R$ 3,1 M) é inferior ao orçamento destinado a
troca de serviços de jardinagem (R$ 3,3 M)! As flores são mais importantes, infelizmente.
Portanto, além dos cartões de das
flores, poderíamos nos perguntar como fazer par que mulheres (especialmente
meninas e as adolescentes) tenham direito a ter paz também nos outros 355 dias.
PARABÉNS PELO 8 DE Março.
PARABÉNS PELO 8 DE Março.