quarta-feira, 21 de setembro de 2011

RÉGUA MASCULINA: RELATÓRIO DESENVOLVIMENTO 2012


Com mais eventos do que lançamento de novela, o Banco Mundial prepara a divulgação do seu Relatório de Desenvolvimento 2012””. A maratona iniciou-se nesta semana com seminários on-line, conferências de imprensa com especialistas de todo o mundo e uma reunião na sede da ONU, que contou com participação do "animado" Ban-Kin-Moon (receita para os insones, gravem o secretário geral da ONU falando. Ninguém resiste 5 minutos acordado), de atrizes (inclusive Angelina Jolie, que deve ter aproveitado para encomendar ao 1º Ministro cambojano uma dúzia mais de órfãos kkk) e de chefes de governo (Dilma não foi porque teve que se reunir com o Obama e recusar a sua oferta para comprar o Texas. Não seria uma má idéia, comparmos o Texas e trocamos com a Família Sarney, pelo Maranhão kkk)

“Ficando Quites” (Getting to Equal) seria uma tradução apropriada, para a edição deste ano, focada em um dos temas que mais tem desafiado à eficácia das políticas sociais: Gênero.

O relatório, que será liberado somente na próxima semana, traz inovações ao mesclar dados estatísticos (que só meia dúzia de chatos com eu, lê até o final) com uma extensa pesquisa de opinião que perguntou a mais de 20000 mulheres em 108 países: O que é ser igual?

Curioso é que a coleta tradicional de dados sobre gênero não segue no mesmo sentido das respostas. Os dados que tradicionalmente usamos para definir igualdade entre os gêneros são oriundos de uma visão simplista, masculina para usar um termo provocativo. A visão das mulheres sobre igualdade não se foca (embora inclua) na equiparação de renda, matrículas escolares ou posição em postos públicos/privados. A pesquisa mostra que igualdade é mais definida mais como “liberdade para ser diferente”.

Com os dados que temos, podemos afirmar que a última década assistiu em todo o mundo uma redução (em alguns casos até superação) da brecha de gênero na escolaridade, renda e poder (singelamente definido aqui como ocupação de postos de mando). O Relatório 2012, por exemplo, mostra que a África já entrou na tendência mundial de redução da brecha, que a Ásia reduz a brecha de renda em ritmo acelerado e que a América Latina, depois de um período tímido (1960-1980) caminha para encontrar os patamares médios dos países desenvolvidos, em 2030. O relatório também mostra que nos países desenvolvidos a brecha (menor) reduz mais lentamente, e até estagnou-se em alguns países. Sinal claro de que a equidade de gênero, definida com base renda/escolaridade/poder encontrou um “núcleo duro”. Aquele conjunto de fatores causais complexos e que as políticas sociais tradicionais não altera.

A despeito do avanço, as entrevistas revelam que as mulheres percebem sua situação de maneira menos otimista do que os dados. Relatos de violências de todos os tipos e origens, opressão social, preconceito no acesso a serviços públicos, cargas horárias excessivas, desprezo pela especificidade, etc. Surpresa para alguns será perceber que a visão das mulheres dos países considerados mais iguais não difere tanto de outras. Um sinal evidente de que quanto mais igualdade formal, mais conflituosa e explícita se revela a desigualdade social.

Para ir além da medição tradicional da equidade é necessário tomar a palavra das mulheres como norte. Indicador de gênero não é sinônimo de desagregar dados pela categoria “feminino/masculino”. Como medir a equidade em termos de possibilidades de escolha? Este é o desafio dos novos indicadores de gênero.

Como em toda a discussão de desigualdade, o problema não reside no grupo ao qual chamamos de desigual, mas no que consideramos incluídos. Não se trata de estender uma igualdade masculina às mulheres. Para perceber a desigualdade é necessário assumir a diferença.

Não se trata de medir a igualdade nos termos de condições de oprimir. A visão atual de medição é baseada na pressuposição de que existe um só parâmetro de desenvolvimento, uma régua (masculina) somente e a tarefa seria medir em que posição dela determinado grupo está.


O Relatório de Desenvolvimento Mundial 2012 é mais um indício de que torta é a régua.