sexta-feira, 27 de maio de 2011

A Poesia e Porta de Saída do Bolsa-Família


O conselho para os alunos é sempre o mesmo: Dados são como poesia, não importa a intenção de quem os coletou e sim com o significado para quem os lê.

Alexandre Leichsenring demonstra que tomou o conselho a sério e honra a tradição de fugir ao óbvio, tomar conclusão como dado ou copiar "press release". Em um trabalho apresentado nesta semana (baseado em Desenvolvimento Local e Combate à Pobreza , IME, 2010), ele inverteu a ordem como os dados do Bolsa-Família vinha sendo lidos. Recorrentemente as pesquisas enfatizam que a maioria dos beneficiários trabalha para complementar o benefício; que a taxa de ocupação entre beneficiários é até maior do que entre não beneficiários com as mesmas condicionantes, etc. Já se sabia que o BF não é um desestímulo ao trabalho, que até contribui para o aumento do salário médio, etc. Este tipo de leitura reforça que o BF é um complemento a salários que não cobrem o essencial (um tipo de subsídio aos patrões e seus salários baixos) e que, a despeito de discursos preconceituosos, não estimula o ócio.

Mas Ale, lendo a poesia dos dados, fez outra pergunta: quantos beneficiários do BF realmente dependem dele para viver? Em outras palavras, quem está mais perto de conseguir suprir o básico mínimo para seus filhos, sem o auxílio do programa? Descobriu que 88% dos beneficiados nunca tiveram rendimento proveniente do mercado formal de trabalho (2004 e 2007). Embora a imprensa tenha replicado a manchete de que "88% das famílias não têm outra renda", a pesquisa de Alexandre diz outra coisa:  88% dos beneficiários dependem do BF. Nota 10 para o Ale, Zero para os jornalistas que leram a matéria com sua habitual lente preguiçosa (curioso é que a preguiça empre leva ao mesmo tipo de interpretação, a do dono do veículo) rsrsrs

Dos 51,4 milhões de pessoas (16-64 anos) e 64 anos registradas no Cadastro Único (cuja sigla estamos proibidos de usar por este se tratar de um blog-família:->) do BF, 6,4 milhões, o que representa 12%, apresentaram renda além do benefício pago pelo governo federal.

A pergunta de Leichsenring aponta para a política social, enquanto a leitura dos dados tradicionais analisa a política assistencial. As críticas ao BF vêm de dois lados: os que dizem que é uma bolsa-vagabundagem (coisa que qualquer um minimamente alfabetizado em dados saberia que não é verdade) e dos que dizem que o BF causa dependência. Estes últimos confudem. Programas como o BF há até em países ricos e destinam-se a garantir um direito: sobreviver. O BF é um programa asistencial.  O próprio governo caiu, vez por outra, no discurso que o BF seria política social. O estudo do Ale mostra que não é. O Brasil tem um parco e ineficaz programa social, ie, conjunto de  ações coordenadas para gerar o desenvolvimento. A necessidade de um imenso reforço e melhoria no programa social não implica em reduzir o BF e a área assistencial. Ambos conjuntos de políticas são necessárias. Sobreviver é um direito, assim como poder incrementar renda, escolaridade e demais condições de vida. O desenvolvimento seria a tal "porta de saída" que os dados de Ale mostram não estarem abertas para 88% dos beneficiários.

Os motivos para a tal porta de saída ( que é desejável, mas não obrigatória) estar trancada são explorados no trabalho de Alexandre. Aqui ele não encontou nenhuma novidade (porque talvez não haja mesmo). Para gerarem renda estavelmente e em níveis que tornem o BF desnecessário, haveria que se incrementar a escolaridade (quase 75% dos tem menos do que o ensino fundamental), melhorar condições de saúde, disponibilizar infra-estrutura de creches e a acessibilidade (principalmente dos transportes públicos). Destrancar as portas de saída para uma política que reduza a demanda de assistência não é uma tarefa fácil, mas as chaves já são conhecidas.









terça-feira, 24 de maio de 2011

A MOQUECA NOTURNA & A GEOPOLÍTICA DA ESCASSEZ

Meu filho não acreditava no que via. Eu, sentado sozinho na mesa da sala, comendo triunfante uma perfumada moqueca capixaba (há outro tipo?). Era 1 da manhã. 3 horas antes, a família saciava a fome do final de 6af com sanduiches. Eu não. Havia tido um desejo forte (há outro tipo?), quase uma saudade, de comer moqueca. Depois de uma vista noturna ao Luis da peixaria (sim, SP tem uma peixaria 24 hrs, Box 36- CEAGESP, diga que eu indiquei), o dourado jazia tenro no prato, acompanhado de pirão, como convém.

Inconformado com meu ímpeto culinário noturno, meu filho filosofou (engenheiro também filosofa, só não admite): “O que um homem não é capaz de fazer por comida?”

Ele está absolutamente correto. A busca por alimentos é a dinâmica mais antiga e talvez a mais forte na história do Homo Sapiens. E não só dos Homo Sapiens gulosos, como eu. Engana-se quem pensa que em tempos de geladeiras e entregas em domicílio o alimento não é mais a espinha de uma economia, da própria divisão do trabalho e da organização da riqueza.

Lester R. Brown, na Foreign Policy deste mês, traz um contunde artigo sobre a Economia do Alimento. Mais precisamente, a Economia da Escassez. Abaixo, resenho fatos trazidos por Brown e acrescento alguns outros. No fim, a idéia é mostrar que a fome tem tudo para ser a próxima “novidade” da política global. Bem-vindos à nova economia alimentar de 2011. A nova geopolítica dos alimentos parece muito mais vulnerável do que era. A escassez é a nova norma.

Até pouco tempo atrás, altas súbitas de preços eram rapidamente seguidas por um retorno aos preços relativamente baixos dos alimentos que ajudaram a moldar a estabilidade do fim do século 20 em boa parte do planeta. As coisas mudaram. Como diz Dorothy a totó: “Acho que não estamos mais em Kansas”. As altas de preços de hoje são causadas por tendências que estão contribuindo tanto para o aumento da demanda como dificultando o aumento da produção. A crise dos alimentos de 2011 é real.

A alta dos preços não tem impacto equitativo. Para uma família de classe média, que gasta menos de um décimo da sua renda no supermercado, a alta do preço dos alimentos é um incômodo, não uma calamidade. Mas para os 2 bilhões de pessoas mais pobres do planeta, que gastam de 50% a 70% de sua renda em comida, essa disparada dos preços pode significar passar de duas refeições por dia para uma. Para outros 3.5 bilhões, que gastam de 30% a 50% para comer, a alta significa troca de alimentos por outros com menos valor nutritivo.

Como toda equação econômica, esta tem dois lados: Demanda e produção. E entre eles, um sistema econômico mundial desigual. A duplicação dos preços mundiais dos grãos desde o início de 2007 foi impelida principalmente por dois fatores: o crescimento acelerado da demanda e a dificuldade crescente de expandir rapidamente a produção. A geopolítica dos alimentos numa nova era dominada pela escassez traça seus contornos.

No lado da demanda, há o crescimento vegetativo de 80 milhões de pessoas anualmente. A população mundial quase dobrou desde 1970 e mesmo com a redução do ritmo demográfico, caminhamos para os 9 bilhões em 2040. Além do aumento populacional, o incremento de renda nos países emergentes faz como que as pessoas consumam mais comida. A industrialização de alimentos faz com que os grãos viajem muito, encareçam e se tornem commodities, reguladas por bolsas e especulação.

No lado da oferta, há duas novidades preocupantes: Energenização e Água.


Comida virou combustível. EUA e o Brasil, que atuavam como amortecedores contra safras ruins, agora estão convertendo (e/ou dedicando terras férteis) quantidades imensas de grãos/gramíneas em combustível. Se o consumo mundial de grãos (+/- 2,2 bilhões de toneladas métricas/ano) cresce em velocidade acelerada, a taxa de conversão de grãos em etanol tem crescido ainda mais rapidamente. Essa capacidade massiva de converter grãos em combustível significa que o preço dos grãos está agora atrelado ao preço do petróleo. Assim, se o petróleo sobe para US$ 150 o barril ou mais, o preço dos grãos acompanhará a alta já que se torna mais lucrativo converter grãos em substitutos do petróleo. A União Européia anunciou (e foi celebrada pelos verdes do mundo) que pretende obter 10% de sua energia de transporte de energias renováveis, em sua maioria bicombustível até 2020. Para isto, a EU está desviando terras de culturas alimentares para energia. Hoje, o etanol já é responsável por quase 1/4 da majoração dos alimentos. Alguém precisa avisar que ecologicamente correto não é usar etanol, é usar menos combustível, não sair de casa às 11 da noite para ir comprar peixe rsrsrsrs, etc.

Além da energenização da comida, a escassez de água é outro fator restritivo da oferta. Do esgotamento de lençóis freáticos à erosão de solos e às conseqüências do aquecimento global, tudo significa que a oferta mundial de alimentos provavelmente não acompanhará nossos apetites coletivamente crescentes. No caso a mudança climática: a regra prática entre ecologistas da produção vegetal é que, para cada 1 grau Celsius de aumento da temperatura acima do ótimo para a estação de crescimento, os agricultores podem esperar uma quebra de 10% no rendimento dos grãos. Essa relação foi confirmada dramaticamente durante a onda de calor de 2010 na Rússia, que reduziu a safra de grãos do país em quase 40%.

Com a elevação das temperaturas, os lençóis freáticos estão diminuindo na medida em que os agricultores bombeiam em excesso para irrigação. Isso infla artificialmente a produção de alimentos no curto prazo, criando uma bolha dos alimentos que estoura quando os aqüíferos são esgotados e o bombeamento é necessariamente reduzido à taxa de recarga. Índia e China estão há menos de 10 anos desta situação, segundo estimativas de seus próprios governos.

E há a crescente competição entre homens e plantas pela água. Homens gastam mais água em ambientes urbanos. No conjunto, mais da metade da população mundial vive em países onde os lençóis freáticos estão diminuindo. O Oriente Médio árabe politicamente convulsionado é a primeira região geográfica onde a produção de grãos atingiu o pico e começou a declinar por escassez de água, apesar de as populações continuarem a crescer. No Iêmen, a água é mais determinante no atual conflito do que qualquer ideologia e religião. Ao mesmo tempo em que estamos secam poços, criam-se novos desertos. A erosão do solo decorrente do excesso de cultivo e do manejo indevido da terra já atinge 1/3 das terras cultiváveis do mundo (FAO). Petróleo é simples de substituir. Água, não.

Não é de se estranhar que a capacidade de cultivar alimentos está rapidamente se tornando uma nova forma de alavancagem geopolítica, e os países estão tratando de garantir seus próprios interesses paroquiais à custa do bem comum. O crescimento do Brasil e da África do Sul tem evidente vínculo com isto. Outros países estão resolvendo seus problemas com as terras de outros. Arábia Saudita, Coréia do Sul e China, desde 2006, começaram a comprar ou arrendar terras em outros países para cultivar grãos para si próprios. A maioria dessas compras de terras é na África, onde alguns governos arrendam terras cultiváveis por menos de US$ 2,5 por hectare/ano. Entre os principais destinos estão Etiópia e Sudão, países onde milhões de pessoas estão sendo sustentadas pelo Programa Mundial de Alimentos da ONU. A FP contou 36 registros de revoltas e novos campos de refugiados. Africanos expulsos das terras que usavam há séculos para que asiáticos produzam sua comida. Madagáscar teve um dos raros casos, em que os afetados conseguiram reverter o quadro. A empresa sul-coreana, a Daewoo Logistics, havia tentado obter direitos a mais de 1,2 milhão de hectares. Notícias sobre o acordo ajudaram a criar um furor político que derrubou o governo e obrigou o cancelamento do acordo. Essas aquisições representam um investimento potencial de estimados US$ 50 bilhões em agricultura em países em desenvolvimento. Só isto? Não. Uma análise do Banco Mundial indica que somente 37% dos projetos serão dedicados a culturas alimentares. A maioria da terra adquirida até agora será usada para produzir bicombustíveis e outras culturas de interesse industrial. Os países de baixa renda que hospedam apropriações de terras ou importam grãos provavelmente sofrerão uma deterioração de sua situação alimentar.

A atual acirrada disputa pela presidência da FAO (Francisco Graziano é um dos candidatos) mostra que também no caso dos alimentos, o mundo parece estar se afastando da cooperação internacional. O nacionalismo alimentar poderá ajudar a garantir suprimentos alimentares para países ricos individuais, mas faz pouco para melhorar a segurança alimentar do mundo. Embora a FAO colete e analise dados agrícolas globais e forneça assistência técnica, não há nenhum esforço organizado para garantir uma adequação dos suprimentos mundiais de alimentos.

O que fazer? Desistir da moqueca e emigrar para a Lua? Não. A agenda para a crise alimentar é sabida, mas exige esforço global e imediato:

1. Prioridade para a produção de alimentos. E, quanto mais perto dos consumidores, melhor.

2. Política agrícola atenuada das regras da comoditização (Sarkozy tem defendido isto, mas não há agenda para isto).

3. Estrutura que integre agricultura com políticas para energia, população e água, que afetam diretamente a segurança alimentar.

4. Recuperação de solos, ampliação do uso de técnicas menos água-energia-intensivas e conservação dos solos férteis

5. Acelerar a velocidade dos esforços para estabilizar o clima.

Com esta agenda, os movimentos mais estranhos (e inofensivos) atrás de comida serão de um gordo procurando um bom dourado em uma peixaria na madrugada.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

O TESTE NÃO PASSA NO TESTE


Na semana passada, a Coréia do Sul comemorou o Dia das Crianças. Feriado nacional. Todo mundo vai fazer piquenique, passear pelos belos e harmônicos parques coreanos. Neste dia foram divulgados os resultados de uma pesquisa ( da Universidade de Yonsei, Seul )que mostram que os adolescentes coreanos são, de longe, o mais infelizes da OCDE (o clubinho quase exclusivamente freqüentado pelos países ricos, que o Brasil decidiu esnobar:).

A pesquisa revela que 76% das crianças e adolescentes coreanos se sente infeliz. Você pode argumentar que nenhuma adolescente (exceto o Neymar) se acha perfeito. Mas, a média é menos da metade da existente em outros países da OCDE. 8 em cada 10 crianças e adolescentes coreanos dizem que sua tristeza é a escola. Bem, minha filha também acha que a tristeza dela é a escola. O que há de diferente nisto? Na Coréia, as crianças e adolescentes declaram que se sentem abaixo do que deveriam desempenhar. Quase 15% destes adolescentes já tentaram suicídio, um índice 5 vezes maior do que a média mundial. Na Coréia do Sul, o índice o suicídio entre os jovens é a principal causa de morte entre aqueles com idade entre 15-24.

O curioso é que a Coréia é usada como exemplo e modelo em todo mundo na questão da educação. Todo político gosta de dizer que Coréia é onde deveríamos estar. E dá-lhe exemplo coreano para tudo. Este fixação de modelo é baseada nos resultados de exames como o PISA e o ELSC. Mas, isto é tudo o que crianças e adolescentes precisam? Bons resultados em testes padronizados? Diante de um quadro de múltipla escolha padrão, 7 em cada 10 crianças e adolescentes coreanos declararam que seu maior sonho na vida é tirar mais de 90% nos testes nacionais (qualquer coisa abaixo disto é considerado vergonha na Coréia). Apenas 1 colocou entre seus sonhos que seus pais e irmãos sejam felizes e tenham boa saúde (outra opção do cartão).

Pesquisas deste tipo não têm insumos suficientes para conclusões. Respondemos perguntas segundo aquilo que achamos que as pessoas querem ouvir, combinado (de formas inúmeras e complexas) com o que queremos que elas achem de nós. Felicidade também é um conceito de difícil comparabilidade. Então, se os resultados não são suficientes para fazer um Infelicitômetro da infância. Mas, as conclusões são suficientemente fortes para serem combinadas com outros indicadores.
 

Para ir bem em testes, a criança média coreana freqüenta, além da escola regular, uma série de "academias" privadas. Nelas, aperfeiçoam Inglês, Matemática, e a fluência na "respeitáveis" instrumentos musicais, piano e violino (Coreano não estuda berimbau). Apenas de ilegal (mas, não fiscalizado) 39% das crianças e adolescentes coreanos passam mais de 10 horas por dia estudando. 9% estudam 14 horas por dia. Mesmo com uma educação pública muito boa (boa para os testes ao menos), a competitividade força a classe média a investir dinheiro nestas academias. Para conseguir ir melhor ainda nos testes, os pais pagam as melhores academias. O custo de educação na Coréia já é maior do que países onde a classe média coloca filhos em escola privada (como o Brasil e México). Este custo é um dos responsável por diminuir as taxas de fecundidade ainda mais doq eu a média mundial. O que faz com que a Coréia do Sul esteja numa curva de envelhecimento populacional artificial. Em 2026 o país já terá escassez de crianças.

Na pesquisa coreana, um grupo de análise (formados por “colegas” da Carol e da Angela, ie, todos da Faculdade de Psicologia) diz que a culpa é da cultura. A explicação faz sentido. Mas, não resolve. É sabido que a cultura asiática tem se mostrado extremamente ajustada à competitividade (Slavo Zizek até defende que o capitalismo só encontrou seu campo perfeito de desenvolvimento na Ásia, sem as “amarras da ética ocidental”). Mas, a cultura não excetua a responsabilidade de uma sociedade pelas crianças, pelo modelo de sociabilidade que se quer gerar. O desenvolvimento é sabidamente muito mais do que a capacidade de responder a testes. Educação se vincula ao Desenvolvimento não só por sua correlação com produtividade, mas porque se presupõe que ela melhore a vida das pessoas. Se Pisa for igual a Educação (como se diz hoje) países com altíssimo Pisa deveriam ser de fato lugares melhores para as pessoas viverem. A pesquisa Coreana põe em dúvida isto.

Talvez a Coréia do Sul seja realmente um modelo. Só que não para ser copiado.

terça-feira, 17 de maio de 2011

BRANCOS E NEGROS: MAIS OU MENOS QUASE ISTO

José de Souza Martins é um analista ímpar. Combina uma historiografia dos grandes pequenos movimentos com Sociologia “da boa”, mescla muita Economia e reveste tudo com um profundo compromisso humanista. Martins não faz ciência para exibir, pendurar na parede ou mandar para o prelo. É dos que ainda acredita que ciência é UM DOS caminhos para mostrar o que não sabemos a fim de que sejamos o que devemos ser. Um homem conservador em sua radicalidade.

É do Professor Martins o artigo (dia 8/5, Suplemento ALIAS) abaixo sobre as mudanças na “cor” dos brasileiros, apontada pelos dados preliminares do Censo 2010. Meu mestre Martins traz as estatísticas para um debate sociológico acerca do preconceito, auto-afirmação e, principalmente, identidade. Toca neste traço que parece marcar a sociedade brasileira, a média. Gostamos de nos afirmar médios.

Eu achei que o artigo um "pouco Gilberto Freire demais", ao equivaler média a ponto de equilíbrio. Armistício não é o mesmo que Paz. Minha ousadia em questionar o mestre é  que talvez a declaração de média não signifique que agimos como tal. "Apenas" aponta que nos achamos assim. Mas, mesmo se você aceitar este meu "porém", a auto-declaração traz também revelações. Afinal, nossas mentiras dizem mais a nosso respeito do que as verdades.

Vale discordar do Professor Martins , só não vale não se deixar ser provocado por ele.



Radicais do meio-termo

(JOSÉ DE SOUZA MARTINS)


A divulgação dos primeiros dados do Censo 2010 constitui o esboço de um retrato do brasileiro, sua cara e mesmo sua mentalidade, suas identificações e vacilações. As primeiras notícias dizem que os brasileiros ficaram "mais escuros" ou "menos brancos", o que é improvável, pois este país se constituiu sobre a escravidão indígena e a escravidão negra e só nas décadas finais do século 19 tivemos a imigração maciça de propriamente brancos. A tendência provável seria a do aumento da mestiçagem, já que o Brasil desde as origens é essencialmente um país de mestiços, ainda que culturalmente preconceituoso. Se politicamente estimulada ao branqueamento, em decorrência de uma deliberada política de imigração de trabalhadores brancos, histórica e culturalmente a sociedade brasileira criou e disseminou valores que justificam e favorecem a mestiçagem. Somos um país mameluco e mulato.


O Censo 2010 parece confirmar essa tendência histórica. Parece porque a consciência da diferenciação de cor entre nós é tênue, limitada à pigmentação da pele e distante de distinções propriamente raciais. Os brancos perderam a consciência da diferenciação de brancuras que há entre originários da imigração eslava, da latina, da germânica. Os negros também perderam a consciência de sua diferenciação étnica, originários de distintas nações africanas. Os amarelos são os que ainda mantêm a consciência das diferenças profundas entre japoneses, chineses e coreanos.


O grande número dos que não indicaram a respectiva cor nos últimos três censos demográficos é um enorme problema para decifrar a autoclassificação por cor. Em 1991, eram 534,9 mil, quase tanto quanto os amarelos e quase o dobro da população indígena. Em 2000, a coisa ficou pior: 1,2 milhão não se definiram quanto à cor, quase tanto quanto a soma de indígenas e amarelos. Em 2010, esse número caiu para 315 mil, o que afeta menos a classificação por cor, mas ainda afeta. Essa redução de algum modo tem a ver com a campanha entre os afrodescendentes para que se identificassem no censo como pretos.


A campanha parece que deu parcialmente certo no caso da população preta, que dobrou de 1991 para cá e saltou de 10,6 milhões, em 2000, para 14,5 milhões, em 2010. No entanto, o salto foi proporcionalmente modesto nos últimos dois censos, de 6,2% da população brasileira para 7,6%, cerca de 4 milhões de pessoas, o mesmo tanto do intervalo censitário anterior. Enquanto isso, o grupo assumidamente mestiço dos pardos, teve sua proporção aumentada de 38,5% para 43,1%, 17 milhões de pessoas, a taxas bem desiguais, respectivamente 1,4% e 4,6%. O grupo branco, que havia tido um grande crescimento entre 1991 e 2000, de mais de 15 milhões de pessoas, diminuiu quase 250 mil pessoas entre 2000 e 2010.

Se levarmos em conta a campanha em favor da autoidentificação dos mestiços como negros, tanto a modesta redução do grupo branco quanto o acentuado crescimento do grupo pardo sugerem que a campanha não sensibilizou os destinatários. O significativo crescimento do grupo negro parece dever pouco a essa campanha e muito mais a seu próprio crescimento vegetativo. Mesmo sendo o grupo com maior crescimento do que os outros grupos, nos últimos 20 anos, esse ritmo de crescimento (dos negros) caiu em 6,5% na última década. Não se pode deixar de considerar que campanhas para afirmação de identidade em favor de um grupo, como o negro, sempre motivam os grupos não abrangidos a também afirmarem a sua, coisa que acabou favorecendo os brasileiros identificados com a ideologia difusa, mas consolidada e tradicional, da mestiçagem.


Se considerarmos que o período entre os dois últimos censos foi o de algum êxito da reivindicação de políticas compensatórias restritas à população negra e de um significativo acolhimento da demanda de racialização da sociedade brasileira durante o governo Lula, através da política de cotas, os resultados do censo dão muito que pensar. Eles sugerem a opção pela tradição brasileira do meio-termo em relação a tudo, nas opções mornas pelas médias e na recusa dos extremos. Estamos vendo isso em outros campos, no declínio dos movimentos sociais de confronto, como os relativos à questão agrária, os estudantis e o próprio movimento operário.


No caso da cor da pele, a opção preferencial pela categoria intermediária dos pardos indica um esforço consciente para evitar classificações estigmatizadoras, como a de negro (mas, também, a de branco, já que ser branco passou a ser politicamente incorreto). A aceitação da política compensatória das cotas e mesmo de outras políticas de ação afirmativa pode estar levando à manifestação da nossa cultura do preconceito, não como preconceito contra o negro, embora o seja, mas preconceito contra os beneficiados por favorecimentos que anulam a ideologia da valorização do trabalho e da competição entre nós disseminada com o fim da escravidão negra. Os dados indicam que a aceitação de compensações raciais não significa a aceitação da identidade racial.


 PROFESSOR EMÉRITO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, É AUTOR DE A SOCIABILIDADE DO HOMEM SIMPLES (CONTEXTO)

quarta-feira, 11 de maio de 2011

MUITOS NUMEROS, UM DESAFIO (ou porque 16 = 25 = 5)


O grupo de música clássica dos anos 80, Blitz já cantava “Tá tudo muito bem, tá tudo muito bom, Mas eu realmente... “

As principais conclusões do Censo 2010 já tinham sido antecipadas aqui, no mês passado. Refuto as acusações de ter acesso privilegiado só porque tenho um homônimo presidente do IBGE kkk Nenhum Eduardo tem culpa disto. A culpa é da Estatística. Pelos dados da contagem, lançados há 2 meses, já era possível antecipar boa parte dos resultados preliminares divulgados na semana passada. Afinal, como nossas pesquisas por amostragem (principalmente a PNAD) são bem feitas, logo era de se esperar que não tivéssemos surpresas. Apaixonantes mágicas da estatística que corroboram que as principais matérias-primas de Deus ao fazer o universo foram Matemática e Poesia :-)

De volta ao Censo, comecemos pelo assunto do momento: Miséria, Extrema Pobreza, Perrengue, etc. Quando as estatísticas eram tão assustadoras que só revelavam que não poderíamos mudar a situação, acostumamo-nos a olhar percentuais e fitar neles para nossos desafios. Perdido de um, perdido de 10.

Mas, a situação mudou. A dinâmica populacional e melhoria socioeconômica brasileira tornaram o quadro mais definido, nas últimas duas décadas. Como um tempero de salada que parado, começa a revelar claramente seus ingredientes. Paradoxalmente, quanto menor, mais os grupos vulneráveis tornam-se visíveis. E para ver os ingredientes é preciso ir além dos percentuais.

Assim, precisamos atentar para os números absolutos que nos desafiam. Todos já viram nas manchetes: “16.000.000 de pessoas estão abaixo da linha da extrema pobreza (miséria)”. Vamos ao que a imprensa não conta porque tem preguiça de escrever e você preguiça de ler:

1. O IBGE contou 11.430.465 pessoas com renda entre R$1,00 e R$70,00. De onde vêm os 16 milhões?

2. O Censo também contou outras pessoas que declararam renda ZERO, 4.836.732.

3. Você pode pensar: É gente que quer esconder o que tem. Alguém no IBGE é tão espero quanto você, e para evitar isto aplicou um filtro. Assim, só contam os que declararam renda ZERO e moravam em domicílios sem água, esgoto, banheiro ou sem energia elétrica e tinham pelo menos um morador com +de 15 anos analfabeto e sem moradores acima de 65 anos. Em resumo, gente realmente pobre, embora saibamos que a renda ZERO não existe. Somados aos do item#1, temos os 16.267.197 pessoas extremamente pobres. O número das manchetes. Mas, se fosse para ficar nas manchetes teria sido jornalista rsrsrs.

4. Estes 16.267.197 são os que vivem em “domicílios permanentes”. Isto é, estes são os muito pobres com CEP. E os que não têm? Censo não serve para este tipo de população, mas ela existe. Vários estudos, aplicados às regiões metropolitanas das capitais e às outras 5 maiores cidades em cada estado, estimam o número desta população móvel. Na hipótese mais otimista, há nas condições de extrema precariedade, sem domicílio permanente o equivalente a 0,8% da população estável. Daí, somemos aos 16.267.197 outros 1.518.328. Logo, haveria no Brasil 17.785.525 pessoas com renda inferior a R$70,00 per capita.

5. Mas, estas 17.785.525 têm companhia. São aquelas pessoas que estão na faixa de extrema volatilidade, isto é, sua renda não vem de fontes estáveis, por isto elas podem passar para o outro lado da linha facilmente. Dos 19.738.897 que estão na faixa de pobreza (a quem vem acima da de pobreza, entre R$71,00 e R$140,00), 3.553.001 estão muito próximas à linha de miséria e não têm fontes estáveis. Logo, são miseráveis também. Assim chegamos a 21.338.526 de pessoas extremamente pobres no Brasil.

6. A conta acaba aqui, certo? Errado. Vamos aplicar outro filtro. Regiões. O próprio IBGE mede o preço da cesta básica em vários pontos do país. Daí é possível corrigir o número mágico de R$70. Mas, se R$70 é média já não seria corrigido? Sim, se a distribuição dos pobres acompanhasse a média populacional, mas não acompanha. Algumas regiões mais caras têm proporcionalmente mais pobres do que outras. Logo, nestas regiões precisaríamos elevar a linha de extrema pobreza. Se assim fizermos, outros 1.904.630 extremamente pobres aparecem na nossa contagem. Para ser justo, vamos descontar as regiões onde o custo de vida é menor. Isto retira 299.507 pessoas da lista. Novo número de extremamente pobres: 22.943.649.

7. Além da correção de custo de vida regional, há outra raramente estimada. O custo-criança. Para cada pessoa abaixo dos 15 anos (até 5 por família) o custo de vida sobe em média, 6.5%. A pirâmide etária na faixa dos mais pobres é bem diferente das existentes nas demais faixas (vide grafico, ao fim). Enquanto na ponta dos mais ricos (acima de R$1.120,00 per capita) 7.2 em cada 100 pessoas têm menos de 15 anos; na ponta dos mais pobres, 17.1 estão nesta faixa etária. Usando a média de 3.1 crianças abaixo de 15 anos por domicílio nesta faixa de renda, e corrigindo pelos custos regionais, o novo número de miseráveis seria 25.008.577.

8. Logo havia no Brasil, em Novembro de 2010, mais de 25 milhões de pessoas na extrema pobreza. Destas, 4.276.466 miseraveis tem menos de 15 anos.

9. Ainda na pobreza infantil, some a essas, outras 803.766 crianças que estão na faixa de pobreza imediata, mas não têm família (são sustentadas por não familiares ou estão abrigadas).

10. O principal desafio do país é mudar a vida de 5.080.232 crianças. É um número imoral para a 7ª economia do mundo, como gostamos de nos lembrar.






























segunda-feira, 9 de maio de 2011

CONTRADIÇÃO? NÃO. PARADOXO



Quando alguém lhe pegar em uma contradição, faça como os cientistas. Não admita. Diga que isto é um Paradoxo.
Assim explicou-se a recente pesquisa que constatou que os “Países mais 'felizes' têm maiores taxas de suicídio”. O estudo da University of Warwick (UK) e o Hamilton College (Nova York) está disponível no “Journal of Economic Behavior & Organization”.

O que já tinha sido constatado em países nórdicos foi verificado em várias nações (entre elas, Canadá, Estados Unidos, Islândia, Irlanda e Suíça). Países com altos índices de felicidade relativamente altos e, também, altos índices de suicídio. Muitos países com altos índices de felicidade felizes têm índices de suicídio altos.

Os pesquisadores também utilizaram os parâmetros do estudo para comparar distintos estados nos EUA. Assim, esperavam minimizar os fatores de diferenças culturais e comprovar os dados comparativos entre países. Conseguiram. Os resultados observados nas comparações mais amplas entre os países se repetiram nas comparações entre diferentes Estados americanos. Estados onde a população se declarou mais satisfeita com a vida apresentaram maior tendência a registrar índices mais altos de suicídio do que aqueles com médias menores de satisfação com a vida.

O Havaí, por exemplo, ficou em segundo lugar no ranking ajustado de satisfação com a vida, mas possui o quinto maior índice de suicídios no país. Nova Jersey, por outro lado, ocupa a posição 47 no ranking de satisfação com a vida e tem um dos índices mais baixos de suicídio - coincidentemente, ocupa a posição 47 na lista. Isto prova o quê, surf deprime? Conheço gente que preferiria se matar no Hawai a viver até os 100 em New Jersey, mas tudo bem...

No estudo, os especialistas (e há especialistas em tudo, eu sou especialista em especialistas) utilizaram sua imaginação acadêmica para listar possíveis causas. Possíveis já que este é o tipo de pesquisa com baixíssima chance de ser comprovada. Há coisa mais chata do que um dado que cisma em teimar com sua teoria?

O estudo sugere que a explicação para o fenômeno estaria na tendência dos seres humanos de se compararem uns aos outros. Sentir-se infeliz em um ambiente onde a maioria das pessoas se sente feliz aumentaria a sensação de infelicidade e a probabilidade de que a pessoa infeliz recorra ao suicídio.

A isto chamam de paradoxo da felicidade, isto é, quanto mais feliz é um entorno, mais obrigado a ser feliz as pessoas se sentem. E, ao fim, ficam infelizes com tanta felicidade. Pessoas descontentes em um lugar feliz podem sentir-se particularmente maltratadas pela vida. A infelicidade seria mais tolerável em um ambiente onde todos estão infelizes. A correlação é ainda mais evidente entre mulheres. Parece até a frase (machista) de um escritor brasileiro: "uma mulher suporta tudo, menos 3 meses de felicidade".

Se você aplicasse a lógica ao extremo, você deveria procurar um grupo bem infeliz e se juntar a ele. Seria uma pessoa bem feliz asssim. rsrsrsrs O curioso no estudo é que ele não questiona o que parece ser o mais evidente: a própria validade dos dados sobre felicidade com os quais eles trabalham. 'Não há evidências de que estas pesquisas meçam algo além da reação a uma pergunta. 

O anglo-saxão costuma considerar a felicidade como a satisfação de certos fatores concretos: educação, renda, lazer, saúde. Você imagina um dinamarquês, abrindo o coração com um pesquisador de rua e dizendo: Ainda bem que você perguntou, eu sou mesmo muito infeliz. Quer ser meu amigo? Já nos países latinos e africanos onde a pesquisa é feita, o termo é constantemente interpretado como referente a um estado de ânimo. Nestes países, a felicidade é interpretada mais como bem-estar emocional. Combine isto com o fato de que estas culturas são mais tolerantes com relação à expressão de sentimentos em público. Isto talvez explique porque as pesquisas de felicidade variam mais nestes países. Por fim, os países asiáticos onde a pesquisa é feita parecem interpretar a pergunta como relativa ao seu entorno. Onde há paz na família e vizinhos, há felicidade. Logo, não é surpresa que estes países sempre aparecem no topo do ranking feliz. 

"O que te faz feliz?" fica bem em slogan de supermercado, mas não se encaixa nos modelos de pesquisa comportamental usados nas 2 maiores pesquisas sobre felicidade (IFB e CSH). Antes de explicar comparativamente, estas pesquisas deveriam ser usadas para analisar o que escondem.

No meu caso, o que me deixa feliz é não ler estudos assim. Quer ser meu amigo? :-)
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domingo, 1 de maio de 2011

DADOS X OTIMISMO


Eu sou otimista, os dados não, dizia meu pai. Eu sou um otimista com o avanço dito inevitável da liberdade, a intitualda "revolução democrática” do Oriente Médio, de 2011.

A mídia tentou ajudar meu otimismo. Levantes foram retratados com enredos cinematográficos. Criaram-se propósitos, lógicas. Principalmente, mocinhos e bandidos. Onde existe uma realidade política-social complexa, vendeu-se a idéia de jovens internéticos lutando contra tanques. Parafraseando Vandré, “da força do twitter, vencendo canhões”.

Há quem compre isto. Eu gostaria de comprar. Mas, os dados conspiram contra meu otimismo.

Na Tunísia, o mesmo grupo apoiador da ditadura segue no poder e manobra para que nas eleições só seus apoiadores sejam candidatos viáveis. Conseguirá.

No Egito, o exército, que esteve no poder junto com Mubarak (e com Sadat, seu antecessor), segue intocavelmente forte e já garantiu junto aos potenciais candidatos de “oposição” (praticamente, todos ex-colaboradores íntimos do regime destituído) não só a garantia de seu espaço, mas até a ampliação. Exemplo, os tribunais independentes para militares, que Mubarak havia aceitado para aplacar a oposição das ruas, já foram revogados.

Na Líbia, EUA+UE (mesmos que fizeram as guerras do Iraque e Afeganistão) armam radicais e bandos desorganizados (o Talibã afegão é fruto da política "inimigo de inimigo meu, é meu amigo") para garantir o fluxo de petróleo. Bombardeiam alvos civis. Elegeram para o papel de vilão do momento, o mesmo ditador com o qual conviveram e eram sócios até 3 meses atrás (já vi este filme com outro ator, Sadam). O massacre da população civil líbia, a guerra civil e o crescimento de grupos radicais islâmicos são os únicos resultados concretos até agora. Diante da realidade tribal líbia, da profunda divisão do país e da inexistência de sociedade civil (ou partidos) esses serão os únicos resultados a se esperar, no futuro próximo.

Síria e Bahrein estão reprimindo com eficiência a oposição e o medo de mudanças radicais fará retroceder em uma ou mais décadas a lenta abertura que se operava nestes países.

Além das mortes, os movimentos no Norte da África provocaram outra mudança concreta. As políticas imigratórias européias. França e Espanha recusam os barcos e trens de refugiados dos conflitos. Ameaçam rever os acordos de livre circulação dentro da UE. Seus representantes, com gravatas italianas, farão longos debates em Francês, citarão filósofos alemães. Ao final, usarão o conflito africano como desculpa para retroceder, ainda mais, suas políticas migratórias.

O que é vendido como avanço democrático, fora a troca de meia dúzia de corruptos, redundou em sangue e retrocesso. Sigo otimista, os dados é que teimam em contradizer meu otimismo.