quinta-feira, 19 de maio de 2011

O TESTE NÃO PASSA NO TESTE


Na semana passada, a Coréia do Sul comemorou o Dia das Crianças. Feriado nacional. Todo mundo vai fazer piquenique, passear pelos belos e harmônicos parques coreanos. Neste dia foram divulgados os resultados de uma pesquisa ( da Universidade de Yonsei, Seul )que mostram que os adolescentes coreanos são, de longe, o mais infelizes da OCDE (o clubinho quase exclusivamente freqüentado pelos países ricos, que o Brasil decidiu esnobar:).

A pesquisa revela que 76% das crianças e adolescentes coreanos se sente infeliz. Você pode argumentar que nenhuma adolescente (exceto o Neymar) se acha perfeito. Mas, a média é menos da metade da existente em outros países da OCDE. 8 em cada 10 crianças e adolescentes coreanos dizem que sua tristeza é a escola. Bem, minha filha também acha que a tristeza dela é a escola. O que há de diferente nisto? Na Coréia, as crianças e adolescentes declaram que se sentem abaixo do que deveriam desempenhar. Quase 15% destes adolescentes já tentaram suicídio, um índice 5 vezes maior do que a média mundial. Na Coréia do Sul, o índice o suicídio entre os jovens é a principal causa de morte entre aqueles com idade entre 15-24.

O curioso é que a Coréia é usada como exemplo e modelo em todo mundo na questão da educação. Todo político gosta de dizer que Coréia é onde deveríamos estar. E dá-lhe exemplo coreano para tudo. Este fixação de modelo é baseada nos resultados de exames como o PISA e o ELSC. Mas, isto é tudo o que crianças e adolescentes precisam? Bons resultados em testes padronizados? Diante de um quadro de múltipla escolha padrão, 7 em cada 10 crianças e adolescentes coreanos declararam que seu maior sonho na vida é tirar mais de 90% nos testes nacionais (qualquer coisa abaixo disto é considerado vergonha na Coréia). Apenas 1 colocou entre seus sonhos que seus pais e irmãos sejam felizes e tenham boa saúde (outra opção do cartão).

Pesquisas deste tipo não têm insumos suficientes para conclusões. Respondemos perguntas segundo aquilo que achamos que as pessoas querem ouvir, combinado (de formas inúmeras e complexas) com o que queremos que elas achem de nós. Felicidade também é um conceito de difícil comparabilidade. Então, se os resultados não são suficientes para fazer um Infelicitômetro da infância. Mas, as conclusões são suficientemente fortes para serem combinadas com outros indicadores.
 

Para ir bem em testes, a criança média coreana freqüenta, além da escola regular, uma série de "academias" privadas. Nelas, aperfeiçoam Inglês, Matemática, e a fluência na "respeitáveis" instrumentos musicais, piano e violino (Coreano não estuda berimbau). Apenas de ilegal (mas, não fiscalizado) 39% das crianças e adolescentes coreanos passam mais de 10 horas por dia estudando. 9% estudam 14 horas por dia. Mesmo com uma educação pública muito boa (boa para os testes ao menos), a competitividade força a classe média a investir dinheiro nestas academias. Para conseguir ir melhor ainda nos testes, os pais pagam as melhores academias. O custo de educação na Coréia já é maior do que países onde a classe média coloca filhos em escola privada (como o Brasil e México). Este custo é um dos responsável por diminuir as taxas de fecundidade ainda mais doq eu a média mundial. O que faz com que a Coréia do Sul esteja numa curva de envelhecimento populacional artificial. Em 2026 o país já terá escassez de crianças.

Na pesquisa coreana, um grupo de análise (formados por “colegas” da Carol e da Angela, ie, todos da Faculdade de Psicologia) diz que a culpa é da cultura. A explicação faz sentido. Mas, não resolve. É sabido que a cultura asiática tem se mostrado extremamente ajustada à competitividade (Slavo Zizek até defende que o capitalismo só encontrou seu campo perfeito de desenvolvimento na Ásia, sem as “amarras da ética ocidental”). Mas, a cultura não excetua a responsabilidade de uma sociedade pelas crianças, pelo modelo de sociabilidade que se quer gerar. O desenvolvimento é sabidamente muito mais do que a capacidade de responder a testes. Educação se vincula ao Desenvolvimento não só por sua correlação com produtividade, mas porque se presupõe que ela melhore a vida das pessoas. Se Pisa for igual a Educação (como se diz hoje) países com altíssimo Pisa deveriam ser de fato lugares melhores para as pessoas viverem. A pesquisa Coreana põe em dúvida isto.

Talvez a Coréia do Sul seja realmente um modelo. Só que não para ser copiado.