quarta-feira, 30 de março de 2011

A " Nova" Mortalidade "Infantil"


O tema já havia passado aqui pelo blog, quando da postagem acerca do Relatório mundial da Infância de 2011 (http://sociometricas.blogspot.com/2011/03/brecha-da-adolescencia.html).

Ele volta agora com a publicação (no dia 28/3/11) de um estudo estatístico que mostra que as taxas de mortalidade na adolescência-juventude já são maiores do que as infantis, em 50 países do mundo. Houve uma transferencia de mortalidade das primeiras faixas etarias para as seguintes.

A mortalidade infantil é em grandissimamente provocada por precárias condições no atendimento de saúde, disponibilidade de comida e por problemas sanitário-ambientais. Assim, os avanços médicos, infraestruturais, economicos, sócio-políticos e a própria demografia (taxas de fecundidade em baixa) fizeram a mortalidade infantil sofrer quedas significativas há 30 anos.

Assim mais crianças chegam à adolescência. E lá encontram problemas de causas mais complexas do que as da Mortalidade Infantil. Algumas destas causas ainda são desconhecidas.

No estudo, publicado pela revista científica Lancet, o autor, usando as tabela da OMS, para causas de mortalidade entre 1-24 anos, de 1955-2004 constata que:
  1. Em 1955, a taxa de mortalidade de 0-4 era a maior entre todas as faixas etarias.
  2. Para a faixa de 0-9, houve uma redução entre 80%-93% nas taxas de mortalidade 0—4 anos, 80—87% para 5—9 anos; 68—78% para 10—14 anos.
  3. Em 2004, a situação se invertera. A Mortalidade de jovens entre 15-24 anos é maior (entre 102% a 221%) do que a de 0-4 anos.
  4. Até o ano 2000, a mortalidade infantil feminina (1-9) era maior do que a masculina. Desde então, elas praticamente se tornaram iguais.
  5. Na mortalidade de 15-24, a sobremortalidade masculina cresce ininterruptamente há 55 anos.
  6. 3 em cada 4 mortes (com causas identificadas) de jovens homens são causadas por violência. Na ordem: trânsito, violência pública, guerras, suicídios.
  7. De 67% a 89% de todas as mortes causadas por uso de drogas (álcool incluso, tabaco excluso) ocorre antes dos 24 anos.
  8. O total de causas de mortalidade identificáveis, as “tradicionais”, caíram em todos os países. Enquanto as causas não identificadas (ou não comunicadas) seguem altíssimas entre jovens. Não sabemos por que 30% deles morrem.


Os autores (Russell M Viner, Carolyn Coffey, Colin Mathers, Paul Bloe, Anthony Costello, John Santelli)  trabalharam com uma amostra com 10 países ricos, 22 medianos, 8 pobres, 7 muito pobres e 3 sem classificação, mas excluiu da análise a África subsaariana, por problemas de disponibilidade de dados. O impressionante é que os resultados não mudam muito quando se trata de constatar que adolescentes e jovens se constituíram como o novo grande grupo de vulnerabilidade.

O estudo reforça uma crescente preocupação global. É necessária a criação de uma plataforma global para melhoria da vida de adolescentes e jovens, enfocada nas principais condicionantes da morte que ronda o grupo.
O abstract do estudo está disponível em:

terça-feira, 29 de março de 2011

A Primeira-Dama e as Medidas do Desenvolvimento


Junte uma pergunta complexa. Dois prêmios Nobel em Economia. Misture uma comissão formada por brilhantes e famosos cientistas, destas que até para servir cafezinho, você precisa ter um PhD. Adicione um presidente em necessidade de recuperar popularidade. Não se esqueça de trazer uma bela, charmosa e inteligente (apesar de casada com o cara) primeira-dama. Bata tudo em reuniões e seminários estrelados. Acrescente muitos dados.

Resultado: o relatório “La mesure des performances économiques et du progrès social" . Amartya Sen e Joseph Stiglitz apresentaram, há 2 semanas, as conclusoes da comissão formada a pedido do presidente francês, Nicolas Sarkozy.

O relatório partiu de uma missão: determinar os limites do PIB como indicador de desempenho econômica e progresso social. E identificar a necessidade e viabilidade de indicadores complementares. A Comissão para Mensuração do Desempenho Econômico e Progresso Social contou com outros renomados 21 integrantes, gente como Angus Deaton e James Heckman.

O relatório é um belo produto de análise, mas provocou muitas críticas. Afinal, em ciência quem não escreve, é contra. E cientista respeita somente o espelho. Deixo de lado, por hora, as análises mais detalhadas do relatório. E pego a reflexao feira  pelo grande Marcelo Neri que tratou dos  4 principais  pontos do relatorio, aplicando-os `a realidade brasileira:


1) PIB X PNAD – O relatório ressalta o perigo em não se aprimorarem as atuais medidas de desempenho econômico que se centram no Produto Interno Bruto (PIB). O relatório propõe outro caminho: enfatizar a perspectiva da renda e consumo do domicílio para melhor aferir padrões materiais de vida médios. Para países como o Brasil, isto tem se revelado um excelente caminho. Porque se no longo prazo no caso brasileiro a evolução de agregados como PIB das contas nacionais e a renda da PNAD apresentam tendências semelhantes, há um forte descolamento no período 2003 a 2009 quando a renda média cresceu 11,3 pontos percentuais a mais que o PIB. De acordo com a percepção os padrões médios de vida estão crescendo mais do que o PIB sugere. Na maioria dos outros países, inclusive China e Índia, tem acontecido o reverso, as respectivas PNADs indicam crescimento menor que o do PIB.

2) Sustentabilidade – O relatório propõe também que se considerem estoques de ativos (por ex.: incorporar atributos ambientais) para analisar a sustentabilidade dos indicadores de desempenho ao longo do tempo. Em outras palavras se os atuais níveis de bem-estar podem ser mantidos para gerações futuras. A lista de estoques ambientais seria enorme e divergente, mas Neri calculou a relação crescimento com os estoques de ativos captados pela PNAD. De um lado, a equação traz salários e indicadores de potencial de geração e utilização de renda (ativos produtivos como capital humano, como a educação; capital social (associativismo) e capital físico. A isto, usando o mesmo método e métrica, ele comparou os índices de potencial de consumo (duráveis, moradia, etc.). Resultado: No período entre 2003 e 2009, os primeiros (ativos) cresceram 38% a mais que os segundos (consumo). Logo, isto indicaria um aspecto sustentabilidade dos padrões de vida assumidos. Na década de 90, o indicador de consumo subiu mais do que o de capacidade de produção. Agora, mesmo com a importância do crescimento do crédito ao consumidor e das transferências públicas sociais (Bolsa Família, Previdência, etc.), o crescimento da educação e do emprego formal (embora em níveis ainda muito precários) são comparativamente mais relevantes para explicar as transformações em curso, sugerindo sustentabilidade do processo de crescimento.

3) Inclusão – Medidas de renda, consumo e riqueza devem estar acompanhadas por indicadores que reflitam sua distribuição. Por aqui, a média esconde mais do que revela. No período 2003 a 2009 o crescimento da renda real per capita da PNAD dos 10% mais pobres foi 69%, caindo regularmente na medida em que nos aproximamos, décimo a décimo, dos 10% mais ricos quando atinge 12,6%. Ou seja, a taxa de crescimento dos mais pobres foi 550% maior que a dos mais ricos. Nas classes pobres, crescemos mais do que a China. A desigualdade ainda é terrivelmente alta. Mas, reduziu significativamente e, lembrem-se, na China e na Índia ocorre o oposto. Lá há o aumento de desigualdade.

4) Percepção – Outro indicador que o relatório usa é o Índice de Felicidade Geral (IFB). Uma viagem na maionese econométrica, mas com aspectos úteis. Entre 2006 e 2009 o IFB foi do 22º lugar para ocupar o 17º lugar entre 144 países. Em outras palavras, você é mais feliz, sabia? Isto compara a melhoria de indicadores chamados objetivos com a percepção. Há países onde as pessoas acham que vivem em pior condição do que os indicadores mostram. Em outras, o contrário. Como a PNAD não dispõe de informações quanto à percepção das pessoas, Neri usa os índices globais do IFB (Gallup World Poll). Em 2009, o Brasil se situava em 17º lugar entre 144 países. Entre 2006 e 2009 a felicidade geral da nação sai do 22º lugar entre 132 países para 17º lugar em 144 países.

Em suma, se utilizamos dos mesmos aspectos do relatório Stiglitz-Sen, pode-se afirmar que o avanço econômico brasileiro nos últimos seis ou sete anos não constitui um espetáculo de crescimento, o PIB Brasil tem crescido na mediana da América Latina que não tem sido a região mais dinâmica do mundo. Mas, a PNAD nos sugere crescimento maior que o do PIB. E, segundo os critérios da comissão, a qualificação desse crescimento seria inclusivo e sustentável, não apenas em termos da objetividade e percepção.

E a primeira-dama com tudo isto? Bem, ela não tem nenhuma relação com o relatório, nada a ver com nenhum dos dados, reunioes, etc... Mas qual é a graça de falar do Sarkozy sem mencionar a Carla Bruni?

Antes que me perguntem, eu não fui convidado. Já tinha gente para servir cafezinho.



O relatório completo pode ser encontrado abaixo.


terça-feira, 15 de março de 2011

DILMA E OS HOMENS INVISÍVEIS




A Presidente Dilma prometeu acabar com a extrema pobreza, miséria, fundo do poço, perrengue, etc.  “Um país rico é um país sem pobreza” é um slogan perfeito (mesmo que, cá entre nós, seja copiado.  Agora a briga se concentra em duas perguntas: quem são os pobres? Onde eles estão? Sobre a primeira, postei recentemente um artigo (http://sociometricas.blogspot.com/2011/02/onde-esta-linha.html). Vamos à segunda.

É mais fácil (ou menos difícil) que alguns economistas com suas fórmulas geniais (porque não as entendemos) traçem uma linha da pobreza do que encontrar onde estão estes pobres. A briga pelo endereço dos pobres já começou.

Um grupo, ligado à antiga administração do MDS (do saudoso Patrus), defende que o cadastro do Bolsa-família deve ser o GPS para encontrar os pobres. Outro, recém chegado, diz que é melhor esperar os dados do IBGE, por setores.

O grupo pró-cadastro diz que o IBGE não enxergam, apenas estima os mais pobres e que somente os dados do sistema de ação social (SUAS) sabem o endereço deles. O pró-Censo diz que o cadastro tem um sistema institucional (prefeituras-associações-eticéteras) viciado. Ambos talvez estejam certos...

Nunca antes na história deste país, como dizia o guru aposentado, um cadastro foi tão completo como o BF. Anualmente, 1.5 milhão de famílias são recadastradas. Quase 80 mil benefícios são cancelados por fraude. Aproximadamente 65 milhões de brasileiros constam (entre ativos e inativos) do cadastro. Como base nele, o MDS faz análises de perfil e ajusta todo o programa. Hoje, 25% dos beneficiários do BF têm até 9 anos de idade, e mais de 50% têm idade inferior a 20 anos. O aumento médio de R$ 19 (de R$ 96 para R$ 115) no benefício foi baseado no cálculo de gasto mensal deste perfil e equivale com arroz e feijão de família com quatro membros. O mais novo estudo sobre o perfil dos beneficiários (feito até Dezembro-2010) mostra que as famílias direcionam os recursos à compra de alimentos, roupas, remédios e material escolar, dentre outros itens básicos (alguém esperava que fosse distinto? já iamginou um usuário do BF declarando que usa parte do benefício para pagar sua viagem à Paris? :->). A oferta de educação e saúde é condicionante do programa. O índice de crianças e adolescentes fora da escola é 36% menor em relação aos filhos de famílias não atendidas. A evasão de adolescentes no ensino médio cai à metade, comparada aos jovens não beneficiários. Ainda poucos (menos de 30% dos jovens pobres é atendido). A progressão escolar também é maior entre as crianças e jovens do BF. A desnutrição infantil das crianças menores de cinco anos atendidas caiu de 12,5% para 4,8%, nos anos de 2003 a 2008. A de na atendidas é de 6,7%.

Mas a turma pró-Censo diz que os resultados do BF são, em parte, devido a seu erro de cadastro. Explico. O sistema de cadastro do BF deixa de fora um estimado de 2,8 milhões de famílias muito pobres. Logo, ele tem mias impacto proque deixa um grupo significativo de pessoas muito pobres de fora. Este número vem da estimativa de miseráveis, se usarmos os dados do Censo+PNAD. Mais ou menos como fazem os astrônomos para descobrir suas estrelas, quando direcionam o telescópio para áreas onde distorções de luz apontam para algum corpo, este grupo usa os modelos baseados nos dados para dizer que há brasileiros miseráveis fora do BF. Através das pesquisas por amostragem (lembre de que até o Censo, só faz o questionário completo, por amostragem), estima-se que X% de famílias em uma cidade seja pobre, por exemplo. Mas, o cadastro do BF tem (X-Y)%.
O povo pró-cadastro admite que haja famílias miseráveis a serem incluídas, mas diz que este número não passaria de meio milhão. Usam para isto o cadastro. Dizem que se estes pobres existissem, o sistema saberia. Argumentam que é mais fácil as pessoas mentirem ao IBGE do que ao BF, que checa dados e tal.

O novo censo atualizará os dados e os modelos, mas deve manter a discrepância. O problema é que seguiremos com pobres que aparecem (direta ou projetivamente) no IBGE e não chegam ao cadastro do BF. Este número, mesmo atualizado, deve chegar a 1,8 milhão de famílias. Algo como 9 milhões de homens (mulheres e crianças) invisíveis.

Os números estimados do IBGE devem ter sua margem de erro. Mas, não devem estar de todo errados. Por mais falhos que sejam os modelos matemáticos, o sistema institucional é mais. Assim, para acabar com a pobreza como prometeu a presidente, é preciso tornar todos os pobres visíveis...

sexta-feira, 11 de março de 2011

RÉQUIEM DE UM ZUNIDO


Em 2005, começaram a surgir relatos do sumiço. Primeiramente no Hemisfério Norte, onde todos nossos problemas contemporâneos parecem começar. Depois, foram informes de sumiços africanos, asiáticos e, por fim, sul-americanos.

Há também relatos antigos do problema. Textos indianos do século 5 contam sobre ele. Diversos registros europeus medievais. Alguns textos norte-africanos de mais de 1000 anos falam disto. Hieróglifos do Crescente (então) Fértil de 3000 anos atrás contam fatos semelhantes. Eram tempos onde os homens acreditavam que a natureza era a caligrafia dos deuses. Liam no sumiço delas presságios, avisos e castigos. Os homens faziam algum sacrifício (geralmente dos outros) e a coisa voltava ao normal.

Mas, passados os séculos, criamos a ciência da lei da causa e do efeito. Inventamos também a política da lei que diz que todo efeito ruim é causado por outro. Cientistas financiados por políticos, sempre no hemisfério norte, apressaram-se em “descobrir” a causa: uma bactéria. Bombardeiem a bactéria! Congelem suas contas bancárias! Fomos dormir sossegados.

E sossegados ficamos, porque o zunido delas seguiu ausente, em um silêncio crescente. O problema, que em outras épocas sempre se mostrara passageiro, não foi embora. A população mundial de abelhas (não me perguntem como eles fazem o censo) despenca ano a ano, há 6 anos.

Novos sábios chamados e outros culpados começaram a surgir. Pesticidas, Fertilizantes químicos, Ar rico em tudo, menos de nitrogênio e oxigênio aliado à extração maciça de minerais (parte deles, transportado para que solos sejam mais produtivos) geram uma arma de destruição em massa delas.

Você pode se perguntar. E eu com isto? Mel engorda. Eu fui picado uma vez. Morram todas! “Antes elas do que eu!” Você poderia argumentar. O problema é que a frase é um pouco diferente: “Antes elas, DEPOIS eu”. Sim, os sábios, até os do Hemisfério Norte financiados por políticos, dizem que o sumiço delas não só é consequência de uma bomba química, mas que também tem ( e terá ainda mais) reflexos na produção de alimentos.

A falta delas fará o preço da comida subir ainda mais. A redução nas colônias, diminui sensivelmente as polinização, a riqueza vegetal, desequilibra a população de insetos e aumenta a propagação das pragas. Que muito sabiamente serão combatidas como? Com mais bombas químicas, etc. Apagaremos o incêndio com mais fogo.

Não só da comida, da água também. Espera aí? Tudo por causa delas? Sim. A redução no índice de polinização já reduziu em 3% a diversidade em áreas florestais vizinhas às de produção agrícola. Em algumas espécies, a redução é maior do que 15%. Menos riqueza, pior ciclo de regeneração florestal, menos água.

Você deve pensar que estou viajando. Talvez tenha me convertido a uma seita neo-vegetariana que só come hóstia de trigo orgânico nativo dos montes Urais e colhido por monges tibetanos cegos. Não! Estas informações eu tirei do recente relatório do UNEP, a agência da ONU para meio-ambiente, e elas têm a assinatura de muitos sábios, inclusive os do Hemisfério Norte financiados por políticos.

Para quem gosta de dizer que tudo pode ser indicador econômico, podemos ter que inserir um índice de colméias na nossa próxima contagem de IDH. Quem sabe os antigos estavam certos, o silêncio delas é um aviso dos céus.

Para ver o relatório todo:












quarta-feira, 9 de março de 2011

CASAMENTO PRECOCE


Ainda sobre o Dia internacional da Mulher, uma reflexão sobre o problema mundial que afeta meninas.

Eu tenho um amigo que diz que todo casamento é precoce :-) mas tecnincamente casamento precoce são aqueles empreendidos por mulheres de menos de 18 e homens com mais de 21, e incluem todos os tipos de formato de união matrimonial. Um relatório recente da UNSRID tenta estabelecer uma relação entre escolaridade e idade de casamento.

No Sul da Ásia e em África subsaariana 38% das mulheres casam-se antes dos 18 anos. Quase 23% antes dos 16. A maioria de uniões da criança ocorre entre as idades de 15 e de 18, mas em três países, Níger, Chade e Bangladesh, mais de 1/3 das mulheres de 20-24, casaram antes dos 15. Isto mesmo em países onde a lei formalmente proíbe. Um exemplo de política pública ineficaz foi a proibição por lei destes casamentos. Além de não reduzir a incidência, lançou estas meninas na condição de “esposas ilegítimas”.

Casamento precoce reduz as chances de uma menina permanecer na escola, contribui para a piora de indicadores de saúde (mulheres que tiveram seu primeiro filho, antes dos 16 anos, têm expectativa de vida reduzida em quase 2,5 anos). Mais do que efeitos econômicos e físicos, o casamento precoce geralmente se associa a  falta de opçoes, restrição à liberdade e opressão destas meninas.

Acreditava-se que mulheres são forçadas a casar cedo porque tem baixo acesso à escola. Os dados recentemente compilados mostram que isto é só parcialmente verdade. Há países aonde a escolaridade das meninas vem crescendo sem que se reduza significantemente o casamento precoce.

Mais um dado que contradiz os que acreditam que desenvolvimento sócio-econômico movimenta automaticamente empecilhos culturais. Mais e mais casos nos mostram que mesmo quando aumentado o acesso e a renda, preconceitos e desigualdades drasticamente não se reduzem sem outros componentes de mudança.

No Brasil, depois de 10 anos de piora, a idade de uniões civis e da primeira maternidade entre mulheres jovens inverteu a tendência. Desde 2007, a idade voltou a  subir. Mas, é impressionante que, mesmo com elevados índices de escolaridade e renda, haja mais mães (proporcionalmente falando) entre meninas de menos de 19 anos do que há 30 anos atrás. A redução nas taxas de fertilidade foi e é muito menor nesta faixa etária.  Outro dado, a diferença de idade entre a mãe adolescente para o pai de seu filho, voltou a aumentar. Aproximadamente 3/4 são meninas que têm filhos com adultos (acima de 21). 

Este dado certamente é o reflexo de um complexo de fatores, mas traz o desafio de entender porque na ainda insuficiente evolução da garantia dos direitos das mulheres, as meninas são menos beneficiadas do que as adultas.







quarta-feira, 2 de março de 2011

A BRECHA DA ADOLESCÊNCIA


Nem os personagens ficcionais escapam da adolescência. Descobri na banca de jornal da esquina, que o Cebolinha, agora adolescente, admitiu que a fixação dele em apanhar da Mônica era um tipo de amor. Eu já sabia.

A maioria dos pais de adolescentes já sentiu vontade de ser um índio Bororo ou parte da tribo isolada dos Jarawa Nova-Guiné. Nos grupos tradicionais, dorme-se criança, acorda-se adulto. Algum rito ou fato marca a transição.  Mas, as sociedades modernas inventaram a adolescência.

Embora adolescência nao signifique a mesma coisa em todo o mundo, por critérios etários, há 1,2 bilhão de adolescentes no mundo. O UNICEF foca seu relatório Situação Mundial da Infância 2011 nesta fase, O relatório inverte a lógica que vê a adolescência como risco e vulnerabilidades e a trata como oportunidade. Conclui que investimentos focados na adolescência podem romper ciclos de pobreza e iniqüidade.

Os investimentos realizados nas duas últimas décadas permitiram grandes avanços para os períodos inicial e intermediário da infância: Queda da taxa de mortalidade infantil, redução da brecha de gênero na educação e outros. No entanto, menos avanços foram observados em áreas que afetam os adolescentes.

No Brasil, as reduções na taxa de mortalidade infantil entre 1998 e 2008 salvaram a vida de mais de 26 mil crianças; no entanto, no mesmo período, 81 mil adolescentes brasileiros, entre 15 e 19 anos de idade, foram assassinados. No Brasil há mais de 21 milhões de adolescentes. 30% dos 191 milhões de habitantes têm menos de 18 anos e 11% da população entre 12 e 17 anos.

A única maneira de tornar sustentáveis as conquistas obtidas na primeira década de vida é com políticas nacionais e programas específicos que ofereçam aos adolescentes acesso à educação de qualidade, saúde e proteção. Um grupo tão significativo e estratégico para o desenvolvimento do País pode estar invisível em meio às políticas públicas que focam prioritariamente na primeira fase da infância e na fase seguinte da juventude. Políticas educacionais, culturais, de saúde (principalmente de saúde reprodutiva) pouco entendem as especificidades desta fase da vida.

É para adolescência que se transferiram os impactos das desigualdades, antes concentrados na primeira infância. Além dos dados sobre o Brasil incluídos no relatório, o UNICEF também divulgou o Caderno Brasil, publicação que contextualiza para a realidade brasileira as reflexões e dados do relatório global.

Relatório Completo:


Caderno de Dados sobre o Brasil: