terça-feira, 15 de março de 2011

DILMA E OS HOMENS INVISÍVEIS




A Presidente Dilma prometeu acabar com a extrema pobreza, miséria, fundo do poço, perrengue, etc.  “Um país rico é um país sem pobreza” é um slogan perfeito (mesmo que, cá entre nós, seja copiado.  Agora a briga se concentra em duas perguntas: quem são os pobres? Onde eles estão? Sobre a primeira, postei recentemente um artigo (http://sociometricas.blogspot.com/2011/02/onde-esta-linha.html). Vamos à segunda.

É mais fácil (ou menos difícil) que alguns economistas com suas fórmulas geniais (porque não as entendemos) traçem uma linha da pobreza do que encontrar onde estão estes pobres. A briga pelo endereço dos pobres já começou.

Um grupo, ligado à antiga administração do MDS (do saudoso Patrus), defende que o cadastro do Bolsa-família deve ser o GPS para encontrar os pobres. Outro, recém chegado, diz que é melhor esperar os dados do IBGE, por setores.

O grupo pró-cadastro diz que o IBGE não enxergam, apenas estima os mais pobres e que somente os dados do sistema de ação social (SUAS) sabem o endereço deles. O pró-Censo diz que o cadastro tem um sistema institucional (prefeituras-associações-eticéteras) viciado. Ambos talvez estejam certos...

Nunca antes na história deste país, como dizia o guru aposentado, um cadastro foi tão completo como o BF. Anualmente, 1.5 milhão de famílias são recadastradas. Quase 80 mil benefícios são cancelados por fraude. Aproximadamente 65 milhões de brasileiros constam (entre ativos e inativos) do cadastro. Como base nele, o MDS faz análises de perfil e ajusta todo o programa. Hoje, 25% dos beneficiários do BF têm até 9 anos de idade, e mais de 50% têm idade inferior a 20 anos. O aumento médio de R$ 19 (de R$ 96 para R$ 115) no benefício foi baseado no cálculo de gasto mensal deste perfil e equivale com arroz e feijão de família com quatro membros. O mais novo estudo sobre o perfil dos beneficiários (feito até Dezembro-2010) mostra que as famílias direcionam os recursos à compra de alimentos, roupas, remédios e material escolar, dentre outros itens básicos (alguém esperava que fosse distinto? já iamginou um usuário do BF declarando que usa parte do benefício para pagar sua viagem à Paris? :->). A oferta de educação e saúde é condicionante do programa. O índice de crianças e adolescentes fora da escola é 36% menor em relação aos filhos de famílias não atendidas. A evasão de adolescentes no ensino médio cai à metade, comparada aos jovens não beneficiários. Ainda poucos (menos de 30% dos jovens pobres é atendido). A progressão escolar também é maior entre as crianças e jovens do BF. A desnutrição infantil das crianças menores de cinco anos atendidas caiu de 12,5% para 4,8%, nos anos de 2003 a 2008. A de na atendidas é de 6,7%.

Mas a turma pró-Censo diz que os resultados do BF são, em parte, devido a seu erro de cadastro. Explico. O sistema de cadastro do BF deixa de fora um estimado de 2,8 milhões de famílias muito pobres. Logo, ele tem mias impacto proque deixa um grupo significativo de pessoas muito pobres de fora. Este número vem da estimativa de miseráveis, se usarmos os dados do Censo+PNAD. Mais ou menos como fazem os astrônomos para descobrir suas estrelas, quando direcionam o telescópio para áreas onde distorções de luz apontam para algum corpo, este grupo usa os modelos baseados nos dados para dizer que há brasileiros miseráveis fora do BF. Através das pesquisas por amostragem (lembre de que até o Censo, só faz o questionário completo, por amostragem), estima-se que X% de famílias em uma cidade seja pobre, por exemplo. Mas, o cadastro do BF tem (X-Y)%.
O povo pró-cadastro admite que haja famílias miseráveis a serem incluídas, mas diz que este número não passaria de meio milhão. Usam para isto o cadastro. Dizem que se estes pobres existissem, o sistema saberia. Argumentam que é mais fácil as pessoas mentirem ao IBGE do que ao BF, que checa dados e tal.

O novo censo atualizará os dados e os modelos, mas deve manter a discrepância. O problema é que seguiremos com pobres que aparecem (direta ou projetivamente) no IBGE e não chegam ao cadastro do BF. Este número, mesmo atualizado, deve chegar a 1,8 milhão de famílias. Algo como 9 milhões de homens (mulheres e crianças) invisíveis.

Os números estimados do IBGE devem ter sua margem de erro. Mas, não devem estar de todo errados. Por mais falhos que sejam os modelos matemáticos, o sistema institucional é mais. Assim, para acabar com a pobreza como prometeu a presidente, é preciso tornar todos os pobres visíveis...