segunda-feira, 21 de junho de 2010

Desconhecido, Ignorado e Muito Sabido

Causada por problemas que vão de uma simples dificuldade em preencher um formulário, até dificuldades estruturais de atendimento, a “causa desconhecida” já aparece como 4ª razão para óbitos no Brasil.

7,4% dos obtidos no Brasil figuram nesta categoria. Qualquer porcentagem acima de 3,5% é considerada inadequada pelos padrões internacionais.

Quanto mais pobre e pequeno o município, mais óbitos seguem desconhecidos em sua causa. Além de dificultar o desenho de políticas públicas, a causa desconhecida é um indicador indireto da precariedade do sistema de saúde e do Sistema de Informações sobre Mortalidade, o SIM.



As causas dos óbitos podem ser desconhecidas, a causa das falhas do sistema de informação não.




''Causa desconhecida'' vira epidemia e mata mais brasileiros que a diabete



Cerca de 80 mil pessoas morrem por ano sem ter a causa da morte identificada, o equivalente a 7,4% dos óbitos do País. Índice elevado expõe imprecisão na coleta de dados, dificultando definição de políticas públicas para prevenção e mapeamento de doenças



(Marta Salomon - O Estado de S.Paulo)
Nos cadastros da área de saúde, o município de Várzea da Roça - tão parecido com outros do sertão nordestino - se destaca por um dos mais altos índices de mortes por "causa desconhecida" no Brasil. O dado oficial mais recente registra 73% dos óbitos do município nessa categoria - quase dez vezes a taxa nacional, de 7,4%. "Motivos ignorados" ou "indefinidos" ainda são a quinta maior causa de mortes no País, à frente de doenças endócrinas e metabólicas como a diabete.
(...)
A busca por precisão nos cadastro sobre causas de mortes não é capricho de burocrata, mas pré-requisito para definir políticas públicas adequadas na área de saúde. Em Várzea da Roça, por exemplo, a secretária Patrícia Ferreira Araújo está assustada com a quantidade de casos de câncer que ainda não aparece nas estatísticas de mortes e deveria determinar uma atenção maior ao diagnóstico precoce da doença. Por ora, a principal causa de morte na cidade, é a tal "causa desconhecida".

O Ministério da Saúde tem como meta informal reduzir o porcentual de mortes com causa mal definida a 5%.

No Nordeste, só a Bahia ainda não cumpriu a meta estabelecida para 2008: reduzir a menos de 10% as mortes por causas mal definidas. Na Região Norte, a situação é mais complicada, ainda que distante da situação de 15 anos atrás, quando seis Estados tinham mais de 30% das mortes sem causa definida. Na época, a Paraíba não identificava a causa em mais de metade dos óbitos.

A redução do problema nos últimos anos já mexeu no ranking das principais causas de mortes no País. Em 2004, as causas mal definidas eram a quarta principal causa no Brasil - atrás somente das doenças do aparelho circulatório, dos cânceres e de causas chamadas de externas.

No ranking nacional mais recente, as mal definidas caíram para o quinto lugar, com quase 80 mil casos ocorridos em 2008 e cuja causa ainda não foi identificada. Nesse ano foram registradas pouco mais de 1 milhão de mortes. A expectativa é que cresça a proporção de mortes por doenças do aparelho circulatório e casos de câncer.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

DIFERENTEMENTE DE NOSSOS PAIS

 



















Dados e opiniões do Seminário “Jovem e Políticas Públicas”, promovido pelo Conselho Nacional de Juventude, realizado 2af, em SP (o mesmo seminário vem se repetindo em várias cidades).

1. A expectativa média de vida do brasileiro na década de 1970 era de 52,4 anos, e em 2007, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), alcançou 72,7 anos, enquanto no mesmo intervalo de tempo a taxa de fecundidade despencou de 5,76 para 1,9 filho por mulher, e o número de casamentos, no civil e religioso, caiu de 64,53% da população para 49,48%.

2. Esses fatos evidenciam uma importante mudança social: o Brasil está envelhecendo.

3. A participação da faixa etária entre 15 e 29 anos no total da população brasileira alcançou seu pico máximo no ano 2000, e desde então está declinando, movimento que se acentuará a partir de 2011.

4. Em sentido contrário, até 2020 o segmento da população com 80 anos ou mais deve dobrar, passando dos atuais 3 milhões para 6 milhões

5. Este envelhecimento aumenta a importância das políticas públicas orientadas para o jovem, sobretudo porque questões cruciais para o desenvolvimento do Brasil, como previdência social e crescimento populacional, dependem diretamente da juventude hoje.

6. Na sociedade agrária o tema da juventude era praticamente inexistente, uma vez que nela o ingresso no mercado de trabalho ocorre muito cedo. O Brasil fez a transição da sociedade agrária para a urbana industrial, basicamente da década de 1930 até a de 1980, e esta transição ocorreu num ciclo econômico com forte expansão do nível de emprego, especialmente o emprego assalariado.

7. Até o final da década de 1990, a percepção do jovem na agenda pública brasileira passou historicamente por diferentes etapas: inicialmente a juventude era vista apenas como uma transição da vida infantil para a vida adulta, em seguida o jovem passa a ser visto como ator estratégico do desenvolvimento

8. Só a partir do final dos anos 1990, quando há uma percepção da juventude como uma questão social relevante, que mereceria uma agenda específica. Mas, só em 2005, do ponto de vista das políticas públicas, foi formulada uma política para as questões específicas da juventude.

9. Mas essa nova percepção não altera significativamente a condição do jovem, que continua sendo a segmento que mais sofre com a falta de emprego, educação de qualidade, e segurança.

10. Dados recentes apontam que 37% do total de causas de morte ocorrem entre jovens, 93% das vítimas são do sexo masculino, sendo que 78% das mortes de jovens deste sexo são causadas por motivos externos, com destaque para homicídios e acidentes de trânsito.

11. Os jovens também são as principais vítimas de acidentes de trânsito, respondendo por 26,5% das vítimas fatais, e 37% das vítimas não fatais. Do total de mortes juvenis, 17% ocorrem em acidentes de trânsito.

12. O grupo de 18 a 24 anos registra as maiores taxas de dependência de álcool, com 19%, contra 12% nas demais faixas etárias. Atualmente, 30% dos casos notificados de Aids se concentram no grupo de 15 a 29 anos, sendo a transmissão sexual a principal forma de contágio.

13. Já no aspecto econômico, 30% dos jovens podem ser considerados pobres, ou seja, vivem em famílias com renda familiar per capita abaixo de meio salário mínimo por mês, e apenas 15% são oriundos de famílias com renda familiar per capita superior a dois salários mínimos. Aproximadamente 53% pertencem ao extrato intermediário, com renda familiar per capita entre meio salário mínimo e dois salários mínimos.

14. No segmento etário de 16 a 24 anos havia em 1995 no Brasil 43% dos jovens em condição de pobreza absoluta, sendo que 20% destes estavam na condição de indigência. Já os dados da PNAD 2008 mostraram que para este mesmo segmento etário a taxa de pobreza absoluta encontrava-se em 31,7%, e a parcela de jovens em pobreza extrema hoje representa apenas 12,6% dos jovens brasileiros.

15. A PNAD 2008 apontou 50,2 milhões de jovens no Brasil, ou seja, 26% do total da população do país.

16. Entre a população de 15 a 17 anos, que deveria toda estar no ensino médio, apenas 48% estão frequentando essa etapa, e 44% ainda não concluíram o ensino fundamental, sendo que 18% estão fora da escola. Na faixa de 18 a 24 anos, 31% dos jovens frequentam a escola, mas apenas 13% estão no ensino superior.

17. Entre 18 a 24 anos 50% dos jovens que trabalham não tem carteira assinada, e na faixa que vai de 25 a 29 anos este índice

18. “Com poucas perspectivas, em termos de mercado de trabalho, a juventude passa a ser olhada como um segmento populacional que mais estava sofrendo com as mudanças, e passa a ser encarada como um problema a ser resolvido" (Regina Novaes antropóloga, pesquisadora, e ex-presidente do Conselho Nacional de Juventude.)

19. Há uma trajetória irregular nessa faixa etária. Os jovens entendem educação como um caminho para melhorar a vida, ou seja, no seu imaginário a educação é uma força positiva, mas observamos que ele enfrenta problemas de desigualdade de oportunidades no processo de escolarização (Abrahão)

20. Uma das principais ações neste sentido é o desenvolvimento do Programa Nacional de Jovens, mais conhecido como Projovem.

  • a. Sua primeira versão surge em 2005, com o objetivo de contemplar 4,5 milhões de brasileiros, de 15 a 29 anos que não têm ensino fundamental, e estavam fora da escola e do mercado de trabalho.

  • b. Até 2007 podiam participar do Programa jovens de 18 a 24 anos, sem o ensino fundamental mas que tivessem cursado até a 4ª série. Mas os alunos não podiam ter emprego formal, com carteira assinada.

  • c. Em 2007 foi lançado o Projovem Integrado, que surgiu de seis programas voltados para esse público, mas que estavam distribuídos por diferentes ministérios: Juntos, esses programas atenderam 683,7 mil jovens entre 2007 e 2008.

  • d. Em 2008 o programa entra em vigor, e passa a atuar com as modalidades: Projovem Urbano (o antigo Projovem original), Projovem Campo (Ministério da Educação); Projovem Adolescente (Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome) e Projovem Trabalhador (Ministério do Trabalho e Emprego).
21. O total de jovens atendidos nos programas sociais nos 3 níveis é de apenas 24% da população meta.

22. Políticas sociais têm resultados em médio-longo prazo. Antes de 4-5 anos será difícil ter dados consistentes sobre os resultados dos programas sociais focados em Juventude.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Brasil em 13 Pontos






































José Eustáquio Diniz Alves, professor titular da da Escola Nacional de Ciências Estatísticas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (ENCE/ IBGE) fez um resumo brilhante da demografia brasileira:

1. A renda per capita da população brasileira cresceu 12,7 vezes de 1900 a 2000.


2. As duas melhores décadas foram as de 1950 e 1970, quando houve um grande aumento do Produto Interno Bruto (PIB) e do PIB per capita.


3. A década de 1980 foi a pior de todas, com baixo crescimento do PIB per capita


4. As taxas de crescimento e de fecundidade da população estão baixas. O Brasil tem tendência à queda de fecundidade. Dentre os determinantes estruturais desta queda estão a urbanização, a industrialização e a inserção da mulher no mercado de trabalho. Arranjos institucionais como o fortalecimento das políticas públicas de telecomunicações, educação, previdência; e mudanças nas relações de gênero também colaboram com esta tendência


5. Atualmente, a taxa de fecundidade é de 2,1. Se ela for mantida neste número, o crescimento se conserva; acima de 2,1, aumenta o crescimento; abaixo deste número diminui.


6. Em 2040 é provável que a população pare de crescer (No continente americano, a taxa mais baixa é de Cuba.)


7. Todos os determinantes da queda de fecundidade no passado continuarão afetando hoje. O envelhecimento da população é inevitável


8. Em 1980, a População Economicamente Ativa (PEA) representava 1/3 da população. Hoje, mais de 50%.


9. A mudança da estrutura etária e a presença da mulher no mercado de trabalho influenciaram a PEA. A taxa de participação da mulher na PEA aumentou de 13,6 em 1950, para 52,4 em 2007, contra 80,8 e 72,4 dos homens, respectivamente.


10. Quanto mais avançada a educação, mais próximas ficam as taxas femininas das masculinas. "Em 2008, quase 15 milhões de mulheres não estavam na PEA.


11. O desemprego atinge mais o sexo feminino, que tem peso maior na informalidade. Mas a PEA vai crescer até 2020, independente de qualquer cenário.


12. A esperança de vida mundial dobrou em 100 anos, fenômeno inédito na história da humanidade.


13. No Brasil, em 2009, constatou-se que a esperança de vida está próxima de 77 anos para mulheres e 70 para homens.

domingo, 13 de junho de 2010

A OUTRA METADE...

A queda da pobreza é inequívoca. Celebre. Comemore com os vizinhos.
Com esta seleçao perna-de-pau, não espero que  o Brasil disputará o Septa em 2014, mas a pobreza deve continuar caindo até lá.
Nunca é bom se esquecer que medida de pobreza é um corte hipotético, baseado em renda, não regionalizado e estimado. Porém, esta medida estimativa e média tem evidentes e comprovados fatos que a corroboram: redução da desnutrição, exploração do trabalho infantil, escolaridade, consumo, etc.
Questões que não podem ser esquecidas durante as comemorações da redução da pobreza:

  1. O Brasil ainda tem quase 20 milhões de pobres. Proporcionalmente bem menos do que há 20 anos (pouco mais de 10% da população contra 23% em 1990). Em números absolutos, isto significa mais de duas vezes a população da Bolívia.

  2. Dos quase 10 milhões que deixaram a pobreza nos últimos 10 anos, quase metade ainda se encontra em uma faixa de vulnerabilidade, ie, podem retornar à pobreza (passar a linha pontilhada estatística para baixo) em caso de crise econômica com duração de 2 anos ou mais.
  3. Não é porque estão fora da linha da pobreza que 20 milhões passaram a viver na Suiça Tropical. Este grupo ainda têm baixo acesso à saúde, educação, mora mal, tem precária coleta de lixo/saneamento/transporte e é mais vítima das violências.

  4. A redução proporcional facilita e dificulta a erradicação da pobreza. Facilita porque, em teoria, há mais recursos para resolver o problema de menos pessoas. Dificulta porque o grupo remanescente representa uma parcela com a qual as soluções atuais (programas sociais e crescimento econômico) ou não funcionam ou não alcançam. Erradicar a pobreza não é uma tarefa “mais do mesmo” (sic).

  5. Um dos motivos para a ineficácia das políticas com os 20 milhões de pobres remanescentes é que eles não têm um perfil igual aos quase 35 milhões de 20 anos atrás, nem aos que saíram da pobreza. Há mais crianças, adolescentes e jovens metropolitanos e escolarizados .




Total de pobres deve cair à metade no Brasil até 2014


Ritmo de redução da pobreza se acelera por conta de mais emprego formal


Número de miseráveis, de 29,9 milhões hoje, ruma rapidamente para cerca de 14,5 milhões, ou 8% da população


FERNANDO CANZIAN (FOLHA DE SP)

Nos anos Lula, até a crise de 2009, o número de pobres (pessoas com renda familiar per capita mensal de até R$ 137,00) caiu 43%, de 50 milhões para 29,9 milhões.O total deve cair de 29,9 milhões para cerca de 14,5 milhões, o equivalente a menos de 8% da população.Mantida a tendência de crescimento médio da economia no governo Luiz Inácio Lula da Silva, o Brasil cortará à metade o número de pessoas pobres até 2014.

A diminuição do número de pobres e a ascensão de 31,9 milhões de brasileiros às classes ABC entre 2003 e 2008 estiveram relacionadas, principalmente, ao aumento do emprego formal e da renda do trabalho, à política de valorização do salário mínimo e aos programas sociais, como o Bolsa Família.

SALÁRIO MÍNIMO
Consideram também viável o país manter um ritmo de crescimento até maior do que a média dos últimos anos. A previsão de crescimento para 2010, por exemplo, já varia de 6,5% a 7,5%.Outros especialistas ouvidos pela Folha concordam com essas previsões, consideradas realistas ante a tendência dos últimos anos.O economista diz que a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, do IBGE) mostrou crescimento médio de 5,3% ao ano per capita real (além da inflação) no Brasil entre 2003 e 2008."Estamos entrando em um processo de redução da desigualdade mais forte que no período de 2003 a 2008. O rápido crescimento no início do ano só reforça essa tendência", afirma Neri.Hoje, a velocidade da queda do número de pobres é ainda maior, de cerca de 10% ao ano, segundo cálculos do economista Marcelo Neri, chefe do Centro de Pesquisas Sociais da FGV-Rio.
Para Lena Lavinas, especialista no assunto no Instituto de Economia da UFRJ, a pobreza no Brasil cai especialmente por conta da criação de vagas formais no mercado de trabalho.
"Cerca de 90% dos novos empregos formais nos últimos anos pagam até três salários mínimos (R$ 1.530,00). Isso favorece diretamente os mais vulneráveis", diz Lena.
Além de criar quase 13 milhões de empregos formais (de 28,7 milhões para 41,5 milhões), o governo Lula patrocinou um aumento real (acima da inflação) de 53,6% para o valor do salário mínimo.
Com isso, o piso básico no país voltou em 2010 próximo ao nível de 1986 -depois de atingir um fosso logo após o governo Collor (1990-92).

PODER DE COMPRA
Por conta dessa recuperação, os R$ 510 do mínimo de hoje (cerca de US$ 280) compram 2,2 cestas básicas, ante 1,4 no início do governo Lula. Nessa comparação, é o maior poder de compra desde 1979.
Ademir Figueiredo, coordenador do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), afirma que a recuperação do salário mínimo "foi o grande "programa social" de Lula". "Pois ele tem impacto direto sobre o crescimento da renda familiar."
A construção civil é exemplar dentro dessa tendência. Os salários no setor, que emprega mão de obra pouco escolarizada, aumentaram 19,5% acima da inflação no governo Lula. Já o emprego formal saltou de 1,5 milhão de vagas para 2,5 milhões.
"As contratações devem crescer ainda mais por conta dos investimentos para diminuir o deficit habitacional, na infraestrutura e nos relacionados a Copa e Olimpíadas, que mal começaram", diz Ana Maria Castelo coordenadora de Projetos da Construção da FGV-SP.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Custo da Guerra de Cada Dia


Há rankings para todos os gostos e motivações no mundo. A rankingmania ataca desde as artes (afinal é muito importante saber que o álbum X é o 7º mais vendido em ano ímpar de pianistas destros) até a economia e o desenvolvimento.

Um destes rankings muito populares é o Global Peace Index (GPI). O GPI juntamente com o Failured State Index (FSI), é amplamente usado pelo setor financeiro e corporativo para medir o grau de segurança de um país.

O mais recente relatório do GPI coloca o em 83º (dentro de 149 países). Assim, segundo o GPI há 82 países mais tranqüilos de se viver do que o Brasil.

A criminalidade, o número de homicídios, a percepção da violência pela sociedade, a facilidade de acesso a armas de fogo e o nível de respeito aos direitos humanos são apontados como os principais pontos negativos do país entre os mais de 20 indicadores analisados para o índice.

Em uma pontuação que vai de 1 (mais pacífico) a 5 (menos pacífico), o Brasil teve 2,048 neste ano, numa leve piora em relação ao ano passado, quando teve um índice de 2,022. Ainda assim, o país subiu duas posições no ranking em relação a 2009.

O GPI usa indicadores secundários, medidos em condições desiguais. Mas, se não é um retrato da paz é um bom instantâneo de aspectos de paz social que geram custos econômicos (o objetivo final do GPI).

O GPI pode ser acessado (o site permite a montagem de mapas, linhas de tendência e outras diversões).


Segundo cálculos do último GPI , o Brasil ganharia US$ 101 bilhões anuais sem violência interna.

O BID já havia feito um cálculo de cerca de 110 B de perdas pelas violência. É impossível fazer as contas do custo exato da violência, mas é fácil saber que ele é bem superior ao da paz.


segunda-feira, 7 de junho de 2010

O que fez Fernandinho virar Beira-Mar e os preconceitos do Senso-Comum

Se uma boa pergunta vale mais do que duas boas respostas, leia a matéria de “O Globo” deste Domingo. A pergunta é o que faz de um menino um mega-bandido, cruel e temido. O jornal foi atrás de outros colegas de escola. Em tom de espanto e texto verifica que nenhum dos “coleguinhas” de Beira-Mar virou bandido. A conclusão risível da matéria, tirada de um depoimento é que “Não é porque você nasce e mora numa comunidade carente que você vai virar bandido”.


O preconceito se revela na matéria partir da premissa de Beira-Mar seria explicado pelo contexto do entorno. No caso, pobreza. E constatar a “surpresa” de que isto não é verdade. Já se sabe há décadas que não há nenhum dado que mostre correlação entre comportamento criminoso e classe social. Mesmo que o preconceito nos leve a achar que a maioria dos criminosos é pobre.

A matéria conclui que cada um escolhe a vida que leva. O mesmo que dizer: nós os não pobres não somos culpados por Beira-Mar.

A pergunta é válida na medida em que ela leve a descobrir o que informa as decisões de uma criança. Os 3 equívocos da matéria: a) afirmar que tudo é escolha, mas não apontar que as escolhas possíveis não são as mesmas para todos. b) procurar a explicação para Beira-Mar dentro da comunidade dele.; c) transpor os contextos.

A primeira falha é o fato de que, embora haja um sempre existente grau de escolha em toda decisão humana, isto não significa que tudo são escolhas. As opções são feitas dentre as existentes e segundo os informadores da escolha (valores, exemplos, incentivos, etc...). Ter um mínimo de opções e acesso a informadores funcionais de escolha é um direito. Uma criança em uma área de conflito não tem acesso às mesmas escolhas e informadores. Ela é privada de direitos inalienáveis dela. Limitar as escolhas e restringir os informadores da escolha são responsabilidades da família, estado e sociedade.

O segundo erro, típico de um preceito caro à classe média é achar que Beira-Mar é um produto da “favela”. A indústria criminosa do tráfico do qual faz parte é produto do contexto social. Fernandinho escolheu ser um bem-sucedido homem de negócios crimonosos. A "oportunidade"que ele aproveitou veio do contexto de Brasília, do Palácio da Guanabara, prefeituras, da corrupção de órgãos públicos, do sistema jurídico moroso e excludente, do centro financeiro paulista, da matriz de valores da sociedade de classe média, dos países consumidores, etc. Enfim, a escolha de Beira-Mar foi dele, o contexto que lhe permitiu se tornar um dos maiores atacadistas de drogas do mundo  é o exponencial aumento no consumo de drogas, a cartelização no tráfico e a ineficiência da sociedade e estado em detê-lo. 

Por fim, o derradeiro erro da matéria é transpor o contexto da infância de Beira-Mar e seus colegas para a das crianças hoje. A matéria mescla a investigaçao com a discussão sobre a educaçao em áreas de risco, em 2010. Duas diferenças básicas foram esquecidas. Uma nas crianças da escola, outra no contexto. Uma análise mais cuidadosa teria revelado que a escola pública de 1975, tinha uma “clientela” distinta. Na época, quase 25% das crianças pobres estavam fora da escola na cidade do Rio. Isto nos faz concluir que a turma de Beira-Mar não tinha a mesma composição social (em relação ao entorno) de uma turma atual, quando quase 100% crianças pobres vão à escola. Em segundo lugar, a diferença no contexto. A insegurança e violência atuais são muito mais sérias e limitadoras do que há 35 anos. A turma de 1975 não viveu na mesma comunidade da de 2010. Nao terá as mesmas escolhas.

A resposta tem seus erros, revela preconceitos, mas a pergunta continua boa. Afinal, não é porque a pessoa é jornalista de O Globo que não vale a pena ser lida :-)



(trechos da matéria)

“Dos 23 alunos que estudaram juntos há mais de 30 anos numa escola pública em Caxias, apenas o traficante optou pela vida no crime

Em 1975, quando começou a estudar na Escola Municipal Joaquim da Silva Peçanha, na comunidade da Beira-Mar, em Duque de Caxias, Luiz Fernando da Costa tinha 8 anos e era um aluno aplicado e participativo. Da 1aà 4asérie, não repetiu de ano, nunca ficou em recuperação e sempre passou com bom desempenho.

Trinta e cinco anos depois, Luiz Fernando virou Fernandinho BeiraMar, o mais famoso bandido brasileiro, um traficante e homicida condenado a mais de cem anos anos de prisão que cumpre pena no presídio federal de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul.

Basta acompanhar a trajetória dos colegas de turma de Beira-Mar para derrubar a premissa de que o caminho do crime é a única opção para quem nasce pobre e favelado.

Dos 23 alunos que fizeram juntos as primeiras quatro séries do atual ensino fundamental na Joaquim da Silva Peçanha, de 1975 a 1978, apenas Luiz Fernando optou pela vida no crime. O restante driblou a pobreza e as drogas, e se tornou exemplo de superação entre parentes e amigos.

Nos últimos dois meses, O GLOBO foi em busca dos coleguinhas de escola do traficante, para contar o que aconteceu com eles três décadas depois. Encontrou relatos emocionantes de pessoas bem-sucedidas, sobre oportunidades perdidas e aventuras, exemplos de muita força de vontade para vencer na vida.

Dos 22 amigos que estudaram com Luiz Fernando, um morreu: Jorgemar da Costa Fróes, ex-soldado da Brigada de Paraquedistas do Exército, faleceu aos 35 anos de insuficiência respiratória e tuberculose no dia 12 de agosto de 2002. Filho de um tenente do Exército, jogou por terra a carreira militar para viver de biscates e em rodas de pagode, mas sempre longe do crime e da droga. Jorginho Mocotó, como os amigos o chamavam, não chegou a passar da 7asérie do ensino fundamental. Está enterrado no Cemitério do Anil, em Duque de Caxias.

Dos outros, 13 são pessoas bem-sucedidas, mesmo quando desempenham um ofício relativamente simples: de cortar cabelos a dirigir Kombis. No grupo, também há suboficial da Aeronáutica, policial militar, marceneiro, mecânico, professores universitários e frentistas de posto de gasolina. Sete ainda vivem na comunidade; outros se casaram e deixaram o lugar. A maioria sequer concluiu o ensino fundamental. Uma professora universitária foi morar nos Estados Unidos. Tem um PM vivendo no Nordeste e um mecânico trabalhando na Base Aérea de Anápolis, em Goiás, onde ficam caças supersônicos da Força Aérea Brasileira (FAB). Oito não foram localizados ou não quiseram falar com o jornal, mas nenhum deles tem antecedentes criminais.

Ivan Chiara fez o antigo primário na Joaquim da Silva Peçanha. Daquele tempo, guarda boas recordações de todos os colegas de classe, inclusive de Luiz Fernando: - Leio muita história dele, mas nem todas são verdadeiras. O estudante Beira-Mar era um ótimo aluno. Depois nos afastamos, perdemos contato. Ele foi para outro caminho.

A professora Luciana Pires Alves, doutoranda em Educação na Universidade Federal Fluminense (UFF), trabalha na rede municipal de Duque de Caxias desde 2001. Entre 2004 e 2007, estudou o modelo de aprendizagem de crianças do ciclo de alfabetização da Favela Beira-Mar, para escrever um artigo acadêmico. Conheceu alunos pobres, mas cheios de sonhos.

- Apesar da pobreza e da carência material, as crianças frequentavam as aulas nas escolas da região e faziam planos para o futuro longe do crime. Dizer que pobreza e carência material são condições determinantes para o crime é um absurdo. Não conheço nada científico confirmando essa tese de que negro, pobre e favelado tem uma tendência para o crime - diz Luciana.

No Rio, cerca de 1,5 milhão pessoas vivem em favelas e apenas um percentual muito pequeno está envolvido em crimes.

Mas motivos não faltam para que áreas de risco recebam investimentos em educação.

Para a doutora em Antropologia Neiva Vieira da Cunha, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), é preconceituosa a ideia de que pobres e moradores de favelas estão fadados a se tornarem bandidos: - Os moradores são permanentemente criminalizados por isso. Isto se deve ao fato de recair sobre os espaços de habitação popular, particularmente sobre as favelas, uma representação que perpetua uma série de preconceitos e estereótipos a respeito dos setores populares em nossa sociedade - afirmou a antropóloga.

Formada pela Universidade de São Paulo (USP), a antropóloga Ana Paula Mendes de Miranda, professora do curso de pós-graduação em Antropologia da Universidade Federal Fluminense (UFF) e pesquisadora do Instituto Nacional de Estudos Comparados em Administração Institucional de Conflito, observou que vários estudos demonstram que, quando a escola reproduz práticas de intolerância às diferenças, a consequência é muito pior: os estudantes acabam construindo uma relação de ódio ou descrença com a escola. O professor universitário de História Medieval e Religião Marcelo Guerra Dib concorda: ex-colega de turma de Fernandinho, ele só têm elogios à escola Joaquim da Silva Peçanha do seu tempo: - Os professores não faltavam, cobravam empenho nas aulas e quando algum aluno faltava, uma professora ia até a casa dele para saber o que tinha acontecido - lembrou Marcelo.

sábado, 5 de junho de 2010

O que Você vai ser quando Crescer?


(com textos editados de "O Globo")

Uma enquete, feita com 726 alunos de 7 a 12 anos de idade, mostrou que 407 (56%) apontam questões relacionadas com a violência como o maior problema do lugar onde vivem. Mas o levantamento vai além e traz um grito de socorro: 206 (29%) citaram especificamente os tiros e 136 (18,7%), os bandidos como os grandes vilões. Por outro lado, a polícia foi apontada por apenas 19 (2,6%) dos que responderam aos questionários

112 disseram que querem ser professores quando crescerem. Os mestres ficaram em primeiro lugar na enquete, superando até os jogadores de futebol, segundo lugar com 107 citações (14,7%), e os médicos, que ficaram em terceiro, com 85 (11,7%).

Perguntar o que a criança quer ser quando crescer faz parte da primeira fase da chamada pedagogia do sonho, parte de um projeto da Prefeitura do Rio para escolas em áreas de risco. Estudos mostram que há uma vinculação muito forte entre ter um projeto de futuro e o desempenho do aluno. Se você tem um projeto, pode até reinventá-lo depois. Um menino de 9 anos pode dizer que quer ser jogador de futebol, mas o desafio é instrumentalizar esse sonho.

Numa escola da Zona Oeste, uma menina de 9 anos pergunta como se escreve astronauta e arranca gargalhadas dos colegas. A reação da turma a faz mudar de ideia ao colocar no caderno o que quer ser quando crescer: vendedora de roupas. A cena resume o que pode parecer simples, mas que é um dos grandes desafios da escola em regiões castigadas pela violência.

Nessa nova fase, os sonhos serão documentados: — A gente chama isso de projeto de vida, no qual as crianças vão poder pesquisar todos os aspectos relacionados às profissões. Elas não vão apenas pesquisar na biblioteca, mas entrevistar profissionais para aprender todos os passos do processo relacionado à criação de um plano de vida. Começa com a pedagogia do sonho para que as crianças se acostumem a sonhar e a planejar o futuro. Elas têm que aprender que mesmo um jogador de futebol não se faz numa peladinha de rua, há todo um processo sério, com centros de treinamento.

Há um outro desafio: ampliar, para além das favelas, o universo de crianças que moram em áreas de risco. Professores e diretores contam que não são raros os casos de estudantes que têm no passeio do colégio uma primeira oportunidade de conhecer algum lugar fora da comunidade.

Na enquete, a praia apareceu como o melhor lugar a que as crianças já tinham ido, com 97 respostas (13,3%). Em seguida, vieram o shopping center, com 44 (6%), e o cinema, com 37 (5%). Uma curiosidade: 17 alunos apontaram a própria escola como o local mais interessante a que já foram