domingo, 13 de junho de 2010

A OUTRA METADE...

A queda da pobreza é inequívoca. Celebre. Comemore com os vizinhos.
Com esta seleçao perna-de-pau, não espero que  o Brasil disputará o Septa em 2014, mas a pobreza deve continuar caindo até lá.
Nunca é bom se esquecer que medida de pobreza é um corte hipotético, baseado em renda, não regionalizado e estimado. Porém, esta medida estimativa e média tem evidentes e comprovados fatos que a corroboram: redução da desnutrição, exploração do trabalho infantil, escolaridade, consumo, etc.
Questões que não podem ser esquecidas durante as comemorações da redução da pobreza:

  1. O Brasil ainda tem quase 20 milhões de pobres. Proporcionalmente bem menos do que há 20 anos (pouco mais de 10% da população contra 23% em 1990). Em números absolutos, isto significa mais de duas vezes a população da Bolívia.

  2. Dos quase 10 milhões que deixaram a pobreza nos últimos 10 anos, quase metade ainda se encontra em uma faixa de vulnerabilidade, ie, podem retornar à pobreza (passar a linha pontilhada estatística para baixo) em caso de crise econômica com duração de 2 anos ou mais.
  3. Não é porque estão fora da linha da pobreza que 20 milhões passaram a viver na Suiça Tropical. Este grupo ainda têm baixo acesso à saúde, educação, mora mal, tem precária coleta de lixo/saneamento/transporte e é mais vítima das violências.

  4. A redução proporcional facilita e dificulta a erradicação da pobreza. Facilita porque, em teoria, há mais recursos para resolver o problema de menos pessoas. Dificulta porque o grupo remanescente representa uma parcela com a qual as soluções atuais (programas sociais e crescimento econômico) ou não funcionam ou não alcançam. Erradicar a pobreza não é uma tarefa “mais do mesmo” (sic).

  5. Um dos motivos para a ineficácia das políticas com os 20 milhões de pobres remanescentes é que eles não têm um perfil igual aos quase 35 milhões de 20 anos atrás, nem aos que saíram da pobreza. Há mais crianças, adolescentes e jovens metropolitanos e escolarizados .




Total de pobres deve cair à metade no Brasil até 2014


Ritmo de redução da pobreza se acelera por conta de mais emprego formal


Número de miseráveis, de 29,9 milhões hoje, ruma rapidamente para cerca de 14,5 milhões, ou 8% da população


FERNANDO CANZIAN (FOLHA DE SP)

Nos anos Lula, até a crise de 2009, o número de pobres (pessoas com renda familiar per capita mensal de até R$ 137,00) caiu 43%, de 50 milhões para 29,9 milhões.O total deve cair de 29,9 milhões para cerca de 14,5 milhões, o equivalente a menos de 8% da população.Mantida a tendência de crescimento médio da economia no governo Luiz Inácio Lula da Silva, o Brasil cortará à metade o número de pessoas pobres até 2014.

A diminuição do número de pobres e a ascensão de 31,9 milhões de brasileiros às classes ABC entre 2003 e 2008 estiveram relacionadas, principalmente, ao aumento do emprego formal e da renda do trabalho, à política de valorização do salário mínimo e aos programas sociais, como o Bolsa Família.

SALÁRIO MÍNIMO
Consideram também viável o país manter um ritmo de crescimento até maior do que a média dos últimos anos. A previsão de crescimento para 2010, por exemplo, já varia de 6,5% a 7,5%.Outros especialistas ouvidos pela Folha concordam com essas previsões, consideradas realistas ante a tendência dos últimos anos.O economista diz que a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, do IBGE) mostrou crescimento médio de 5,3% ao ano per capita real (além da inflação) no Brasil entre 2003 e 2008."Estamos entrando em um processo de redução da desigualdade mais forte que no período de 2003 a 2008. O rápido crescimento no início do ano só reforça essa tendência", afirma Neri.Hoje, a velocidade da queda do número de pobres é ainda maior, de cerca de 10% ao ano, segundo cálculos do economista Marcelo Neri, chefe do Centro de Pesquisas Sociais da FGV-Rio.
Para Lena Lavinas, especialista no assunto no Instituto de Economia da UFRJ, a pobreza no Brasil cai especialmente por conta da criação de vagas formais no mercado de trabalho.
"Cerca de 90% dos novos empregos formais nos últimos anos pagam até três salários mínimos (R$ 1.530,00). Isso favorece diretamente os mais vulneráveis", diz Lena.
Além de criar quase 13 milhões de empregos formais (de 28,7 milhões para 41,5 milhões), o governo Lula patrocinou um aumento real (acima da inflação) de 53,6% para o valor do salário mínimo.
Com isso, o piso básico no país voltou em 2010 próximo ao nível de 1986 -depois de atingir um fosso logo após o governo Collor (1990-92).

PODER DE COMPRA
Por conta dessa recuperação, os R$ 510 do mínimo de hoje (cerca de US$ 280) compram 2,2 cestas básicas, ante 1,4 no início do governo Lula. Nessa comparação, é o maior poder de compra desde 1979.
Ademir Figueiredo, coordenador do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), afirma que a recuperação do salário mínimo "foi o grande "programa social" de Lula". "Pois ele tem impacto direto sobre o crescimento da renda familiar."
A construção civil é exemplar dentro dessa tendência. Os salários no setor, que emprega mão de obra pouco escolarizada, aumentaram 19,5% acima da inflação no governo Lula. Já o emprego formal saltou de 1,5 milhão de vagas para 2,5 milhões.
"As contratações devem crescer ainda mais por conta dos investimentos para diminuir o deficit habitacional, na infraestrutura e nos relacionados a Copa e Olimpíadas, que mal começaram", diz Ana Maria Castelo coordenadora de Projetos da Construção da FGV-SP.