sábado, 5 de junho de 2010

O que Você vai ser quando Crescer?


(com textos editados de "O Globo")

Uma enquete, feita com 726 alunos de 7 a 12 anos de idade, mostrou que 407 (56%) apontam questões relacionadas com a violência como o maior problema do lugar onde vivem. Mas o levantamento vai além e traz um grito de socorro: 206 (29%) citaram especificamente os tiros e 136 (18,7%), os bandidos como os grandes vilões. Por outro lado, a polícia foi apontada por apenas 19 (2,6%) dos que responderam aos questionários

112 disseram que querem ser professores quando crescerem. Os mestres ficaram em primeiro lugar na enquete, superando até os jogadores de futebol, segundo lugar com 107 citações (14,7%), e os médicos, que ficaram em terceiro, com 85 (11,7%).

Perguntar o que a criança quer ser quando crescer faz parte da primeira fase da chamada pedagogia do sonho, parte de um projeto da Prefeitura do Rio para escolas em áreas de risco. Estudos mostram que há uma vinculação muito forte entre ter um projeto de futuro e o desempenho do aluno. Se você tem um projeto, pode até reinventá-lo depois. Um menino de 9 anos pode dizer que quer ser jogador de futebol, mas o desafio é instrumentalizar esse sonho.

Numa escola da Zona Oeste, uma menina de 9 anos pergunta como se escreve astronauta e arranca gargalhadas dos colegas. A reação da turma a faz mudar de ideia ao colocar no caderno o que quer ser quando crescer: vendedora de roupas. A cena resume o que pode parecer simples, mas que é um dos grandes desafios da escola em regiões castigadas pela violência.

Nessa nova fase, os sonhos serão documentados: — A gente chama isso de projeto de vida, no qual as crianças vão poder pesquisar todos os aspectos relacionados às profissões. Elas não vão apenas pesquisar na biblioteca, mas entrevistar profissionais para aprender todos os passos do processo relacionado à criação de um plano de vida. Começa com a pedagogia do sonho para que as crianças se acostumem a sonhar e a planejar o futuro. Elas têm que aprender que mesmo um jogador de futebol não se faz numa peladinha de rua, há todo um processo sério, com centros de treinamento.

Há um outro desafio: ampliar, para além das favelas, o universo de crianças que moram em áreas de risco. Professores e diretores contam que não são raros os casos de estudantes que têm no passeio do colégio uma primeira oportunidade de conhecer algum lugar fora da comunidade.

Na enquete, a praia apareceu como o melhor lugar a que as crianças já tinham ido, com 97 respostas (13,3%). Em seguida, vieram o shopping center, com 44 (6%), e o cinema, com 37 (5%). Uma curiosidade: 17 alunos apontaram a própria escola como o local mais interessante a que já foram