quinta-feira, 28 de outubro de 2010

A Corrupção Percebida


A Transparência Internacional divulgou o atualizado Índice Internacional de percepção de Corrupção.



Como o nome diz, reflete o sentimento das pessoas acerca da lisura dos processos públicos e privados. Seria impossível medir a corrupção objetivamente, dentre outros motivos, porque as fontes também são corruptas.


O índice da Transparência tem mais significado de análise local, do que comparativo. Não é possível medir o Chile com a França, por exemplo. Mas, é altamente significativo constatar a evolução dos índices dentro de cada país.


A comparação dos índices com outros fatos também fornece informações. Países que têm trabalhado mais duramente contra a corrupção tendem a aumentar seu índice de percepção da mesma. Parece contraditório, mas é facilmente explicável. Quanto mais se fala no tema, quanto mais ele é exposto, por exemplo, através de grandes investigações e prisões em cadeia nacional (sem trocadilho), mais a corrupção se torna visível.


O índice de percepção é importante também porque antecipa comportamentos. Em sociedades onde as pessoas crêem que haja corrupção, o nível de confiança diminui. Isto gera um custo desconfiança que passa a ser integrado nos modelos de troca, sejam elas econômicas, sejam simbólicas.


Como diria Platão em lagoa com piranha, jacaré nada de costas :-)


Os dados detalhados do índice:


http://www.transparency.org/policy_research/surveys_indices/cpi/2010/results



e o relatório


http://www.transparency.org/content/download/55725/890310

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Mulheres e Conflitos

“Do conflito e crise à renovação: gerações da mudança” é o novo Relatório sobre a Situação da População Mundial 2010 (UNFPA). O texto vincula paz, segurança e desenvolvimento com os direitos e empoderamento das mulheres.


A tese defendida pelos autores é que quando as mulheres têm os mesmos direitos e oportunidades que os homens, elas são mais resilientes a conflitos e desastres e conseguem conduzir os esforços de reconstrução e renovação em suas sociedades, O lançamento do relatório coincide com o décimo aniversário da resolução 1325 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que visa colocar um fim à violência contra mulheres e meninas em conflitos armados e encorajar uma maior participação das mulheres em iniciativas de construção da paz.

O relatório combina histórias e dados. Em uma tendência da ONU: não produzir calhamaços estatísticos mais chatos do que a TV Câmara. Os exemplos são tomados de países que saíram recentemente de conflitos abertos e colocam o tema da recuperação com ênfase em gênero. Em resumo o texto tenta convencer de que conflitos são oportunidades não para reconstruir, mas para construir uma sociedade mais igualitária.

Além de seu tema central, o relatório atualiza os principais dados demográficos e socioeconômicos globais, em uma chuva de dados para deixar qualquer estatístico “mais feliz do que pinto no lixo”, como diria minha avó.

O relatório todo:

A versão em português do Relatório sobre a Situação da População Mundial 2010 do UNFPA está disponível em:


quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Dia Mundial da Estatística



1. "42,7% de todas as estatísticas são feitas na hora." 
2. 33% dos acidentes de trânsito envolvem pessoas embriagadas, portanto 67% estão sóbrias, logo devemos dirigir bêbados que é mais seguro."
3. "A estatística é a arte de nunca ter que dizer que você está errado." –
4. "A estatística é um método sistemático para se ter uma conclusão errada com 95% de confiança."
5. "A loteria é um imposto sobre pessoas que não são bons em Estatística." -
6. "A menor distância entre dois pontos depende de onde eles estão."
7. "A morte de uma pessoa é uma tragédia; a de milhões, uma estatística."
8. "A probabilidade de cruzar com um conhecido aumenta quando você está com alguém com quem não quer ser visto."
9. "A taxa de natalidade é o dobro da de mortalidade, portanto uma em cada duas pessoas é imortal!"
10. "Acreditamos em Deus, todos os demais devem utilizar dados." -
11. "Alguns usam a estatística como os bêbados usam postes: mais para apoio do que para iluminação."
12. "As estatísticas afirmam que os homens casados vivem mais do que os solteiros. Mas tem um desejo maior de morrer."
13. "As soluções, eu já as possuo há muito tempo. Mas ainda não sei como cheguei a elas." -
14. "Assim como sonhos, estatísticas são uma forma de alcançar um desejo."
15. "Até relógio parado fica certo duas vezes ao dia!"
16. "Dados são muito parecidos com pessoas. Nascem, amadurecem, casam com outros dados, se divorciam e ficam velhos. Só não morrem, precisam ser mortos."
17. "Daria tudo que sei em troca da metade do que ignoro."
18. De cada 10 pessoas, 6 sabem contar e 5 não."
19. "É bom lembrar que a população inteira do universo, com apenas uma insignificante exceção, é composta por 'outros'." - Andrew J. Holmes
20. "É ótimo ser estatístico! Você nunca precisa estar "absolutamente certo" sobre algo, estar "razoavelmente certo" é o suficiente." –
21. "Estatísticas podem ser forjadas para provar qualquer coisa - até mesmo a verdade."
22. "Estatísticas são iguais a biquínis; o que revelam é sugestivo, mas o que elas escondem é essencial. "
23. "Fatos são teimosos, mas estatísticas são flexíveis." - Mark Twain.
24. "Há três tipos de mentiras: mentiras, mentiras descabeladas, e estatísticas."
25. "Hipótese é uma coisa que não é, mas a gente faz de conta que é, pra ver como seria se ela fosse."
26. "Mais vale um estatístico a favor do que um matemático contra!"
27. "Metade das pessoas que você conhece está abaixo da média."
28. "100% dos divórcios começam com o casamento."
29. "O diabo se delicia tanto com estatísticas quanto citando as escrituras."
30. "O esperto só acredita em metade, e o gênio sabe em que metade deve acreditar!
31. "O estatístico é um sujeito que pode morrer afogado ao cruzar um rio com profundidade média de apenas 50 cm." -
32. "Quando a única ferramenta que se tem é um martelo, então todo problema fica parecido com um prego."
33. "Se o estat;istico está com o rabo no forno e a cabeça na geladeira, não se pode dizer que ele está com uma ótima temperatura média."
34. "Sem dados você é apenas outra pessoa com uma opinião."
35. "Você sabia que 87,186145 % de todas as estatísticas dizem ter uma precisão que não se justifica pelo método empregado?"
36. "Todas as constantes são variáveis."
37. "Estatísticas são percentuais da verd..."


terça-feira, 19 de outubro de 2010

ROTA e o país onde ser pobre = criminoso


A ROTA (Ronda Ostensiva do Batalhão Tobias Aguiar) completou 40 anos. Orgulho da PM paulista.

Na festa foram lembrados os 168 soldados mortos desde 1970. Ninguém mencionou as 20804 pessoas mortas por ela.
Quase no mesmo período (1970-2009, com dados do Strategic Foresight Group), o Exército Israelense perdeu 902 soldados e matou 11.804 palestinos.  Ponto para ROTA.
A polícia nos EUA matou quase 3.000 pessoas no mesmo período. Ponto para a ROTA.
Tb nos EUA, 1304 pessoas foram executadas por pena de morte nestes 40 anos. Ponto para a Rota.

Dados de levantamentos feitos até o ano de 2006 (diversos+dados NEV-USP) mostra o perfil dos mortos pela ROTA: 
  • 7% tinha menos de 12 anos.
  • 21% Menos de 18 anos (incluem o dado anterior)
  • 18% deles "até segundo a própria ROTA admite" não estava engajada na troca de tiros (foram mortas por estar no “cenário da ação”)
  • 58% delas sem ficha criminal. 
  • 93% delas com renda inferior a 3 SM’s.
  • 67% era negro..
  • A abordagem autoritária da ROTA fez escola nas PMs do país todo: é marcada pelo direito absoluto do agente policial que investiga, julga e muitas vezes executa a sentença.
    Ela praticamente só se aplica a pobres, jovens/adolescentes. A ROTA diz que não tem medo de bandido, mas tem medo da classe média e de branco. Em uma conta simples, a ROTA matou 1456 negros/pobre/jovem para cada 1 branco/+25aa/>3SM.
    O estilo de policiamento ostensivo é profundamente ineficaz para a redução da criminalidade. Todos os indicadores de violência pioraram profundamente nestes 40 anos.
O que comemorar no aniversário da ROTA?

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Dois Milhões de Jovens NEM-NEM e Dois Candidatos NEM-NEM aí

Aumenta a parcela de jovens brasileiros que vive sem estudar ou trabalhar


(com textos de ÉRICA FRAGA + análises próprias)
 
Nem estudando, nem trabalhando. Mais de dois em cada dez jovens brasileiros entre 18 e 20 anos se encontravam nessa espécie de limbo em 2009, à margem da crescente inclusão educacional e laboral registrada no país em anos recentes.

Essa geração "nem-nem" (tradução livre do termo ni-ni, "ni estudian ni trabajan", usado em espanhol) representa uma parcela crescente dos jovens de 18 a 20 anos.

Eram 22,5% dessa faixa etária em 2001 e 24,1% em 2009 (o equivalente a 2,4 milhões de pessoas). Nesse mesmo período, a taxa de desemprego no país recuou de 9,3% para 8,4%.

Os dados são da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) e foram levantados pelo pesquisador Naercio Menezes Filho, do Centro de Políticas Públicas do Insper.

Segundo especialistas, essa tendência é resultado de várias causas:
  1. Entre elas, paradoxalmente, o maior aquecimento no mercado de trabalho -que tem acirrado a competição. "Há mais vagas sendo criadas, mas a concorrência também é maior. E esses jovens têm pouca ou nenhuma experiência", diz Menezes. A hipótese é confirmada pelos próprios jovens que fazem parte dos "nem-nem".
  2. À falta de experiência se soma outro problema: a formação educacional precária. "Temos hoje um cenário de jovens com escolaridade crescente mas de péssima qualidade. Nos últimos 15 anos, a política educacional privilegiou o ensino universitário, em detrimento do fundamental e do médio", diz Cláudio Dedecca, professor de economia da Unicamp. Quem recruta jovens faz eco a esse diagnóstico.  A baixa capacidade de produção escrita, de entendimento de texto e competências matemáticas básicas apresentada mesmo em jovens com o ensino médio completo é um fator de exclusão do mercado. Em situação ainda pior está quem nem terminou o ensino médio.
  3. Mas, há jovens em situação oposta. São os NEM-NEM "de boa":-). Aqueles que decidem adiar os planos de trabalhar porque a renda da família engordou com transferências do governo. Em um cruzamento que fiz (usando as médias de renda entre jovens apontadas pela mesma PNAD) sobre os dados organizados por Laércio, mostraria que uma parcela de 5,3% se encontraria nesta situação.

Assim mesmo ainda podemos afirmar que há cerca de 2.000.000 de jovens nem-nem no Brasil.  Este problema representa um duplo desafio para as políticas públicas. As atuais não impedirão a piora do problema.

O 1o. é como prevenir o aumento dos "NEM-NEM". Neste ponto, há pouco o que inventar, mas muito a fazer:
a) Melhoria da qualidade do ensino médio/tecnológico (todo o investimento hoje é na ampliação, inclusive com o co-financiamento de vagas particulares de 3o. graus precaríssimos, s/ a correspondente infra-estrutura p/garantir qualidade) associada a; 
b) políticas de manutenção do adolescente/jovem na escola (por exemplo, a ampliaçao do ainda incipiente pró-jovem);
c) reformulação dos atuais programas (caros e ineficientes) de primeiro-emprego.

O 2o. é como tratar destes Dois Milhões de jovens que precisam ser incluídos. Os programas atuais privilegiam o adoslescente/jovem que ainda está na escola. É preciso atentar para os já-excluídos. A experiência diz que é necessário intervir, com:  
a) criação de bolsas-estudo (1 a 2 anos) para os que pecisam terminar o médio e 
b) programas de capacitação profissional de curta-duração associados à
 c) criação de vagas específicas.

O mais interesssante é que os programas dos 2 candidatos falam generalidades e dizem que ampliarão programas que seus respectivos partidos já fazem. Só não dizem que estes não têm impedido a piora da situação. Os 2 candidatos estão NEM-NEM aí para o tema. O meu trocadilho foi pobre, admito. Mas, os programas de governo deles são mais ainda).

sábado, 16 de outubro de 2010

Tolerância à Desigualdade


Meu amigo Welinton Pereira me chamou a atenção para o “Custo do Aumento da Desigualdade”. Nos EUA. Sim, porque por aqui a desigualdade vem diminuindo e já é apenas vergonhosamente alta. Há 10 anos era assustadora impudorada e vergonhosamente alta. Mas, o artigo sobre os EUA usa tecnologia brasileira na sua análise. Em assuntos de desigualdade, nada supera nossa experiência.

David Pearlstein (The Washington Post) analisa várias causas para o aumento da desigualdade nos EUA (a desigualdade também aumentou na Europa e Japão), como o aumento das transações globais, o mercado financeiro (no Brasil, o principal transferidor de renda dos pobres para as os não-pobres). Mas, o autor usa a sabedoria verde-amarela quando afirma que a principal causa do aumento da desigualdade é o aumento da tolerância social em relação a ela.

Nisto, ele, sem citar talvez porque nem saiba, bebe da fonte que vem dos economistas da UNICAMP, desde a década de 80 (quando meu amigo Welinton ainda era um menino brincando pelas ruas de Ipatinga, o PT ainda era de esquerda e o FHC era sociólogo).

Pearlstein diz que a sociedade americana tem ficado mais leniente com a desigualdade. Quando uma sociedade não vê problemas em alguns sempre ganharem muito mais do que outros, ela não apóia ações para reduzi-la.

Pearlstein lembra que um país desigual pode até crescer, mas não se desenvolve como nação, como comunidade. Esta é uma lição que parecemos ignorar. Mesmo no ritmo intenso de redução da desigualdade no Brasil, para chegar a patamares toleráveis, precisaríamos dobrar o investimento/eficiência em educação pública, triplicar o valor real do salário-mínimo, levar os progrmas de transferência de renda à sua 3ª geração e ampliá-los para 100% da população pobre. Feito isto, em 10 anos teríamos um índice de desigualdade semelhante ao dos EUA.

No Brasil estamos tão acostumados à desigualdade que a achamos natural, quase divinamente instituída. Nos EUA, eles ainda chegam lá.

O artigo ainda nao está disponível na internet.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Opinião e Religião


Em época de discussões acaloradas sobre fé e lei, esta curiosa correlação foi apresentada pela Pew Research (líder mundial em análises de comportamentos), baseadas uma pesquisa feita nos EUA (no Brasil, como seria o resultado?).

Como diz a pesquisa, os brancos evangélicos são os mais contrários a união entre pessoas do mesmo sexo. Mas esta posição vem mudando com o tempo.

Pela primeira vez desde que o Pew Research Centre começou a conduzir pesquisas sobre o assunto em 1995, menos de metade dos americanos (48%) se opõem ao casamento gay, enquanto 42% são favoráveis. Todos os grupos religiosos são mais aceitação do que eram em enquetes tomadas entre 2008 e 2009. A mudança mais notável é entre branco mainstream protestantes e católicos, 49% dos quais estão agora a favor, e esse número foi ainda maior para aqueles que freqüentam a Igreja menos de uma vez por semana.

Diga-se de passagem, Bento XVI é coerente, no tocante ao clero, é também contrário a união entre pessoas de sexos distintos kkkk

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Você tem Fome de quê? ~6.000.000 de crianças brasileiras ainda tem fome de pão mesmo.


Saiu a mediçao 2010 do Índice Global de Fome.

O índice, medido bienalmente, e mostra a evolução da fome, no mundo.

África e alguns países na América Latina (Venezuela, Paraguai, Panamá e Guatemala) tiveram aumento. Em outros, a fome não se reduziu.

Menos de 30% dos países apresentam redução significativa no número de pessoas que ingerem menos do que precisam. No Brasil, a fome despencou (exclui a SPFW -pobre esta :->). A incidência de baixo-peso caiu de 37% (em 1974-1975) para 7% (2006-2007).

O relatório de 2010 traz especial atenção às crianças, ainda as maiores vítimas mundiais da fome.

Assim, no Brasil de 2010, do pré-sal, dos IPGs, quase 6.000.000 de crianças ainda são subnutridas. Durma-se com uma informação destas.



Mais dados sobre cada país



Relatório


terça-feira, 5 de outubro de 2010

Os Mistérios do Voto Feminino



Neste domingo algumas surpresas eleitorais acenderam a luz de alerta nos institutos de pesquisa. Diferentemente do usual, as pesquisas do dia 1 e 2 não se confirmavam nas sondagens do dia 3, as chamadas "bocas-de-urna". Porquê? Rapidamente, analistas do IBOPE, Vox Populi e Datafolha fizeram os cruzamentos e encontram os culpados. Melhor, as culpadas.

O voto feminino se desgrudou da margem de erro. Uma em quase 5 mulheres, principalmente as moradoras das cidades com mais de 500.000 habitantes, mudaram sua tendência de voto, nos últimos dias.

Deixo os porquês específicos de lado. Política anda assunto religioso, no Brasil. Mas há aspectos sócio-econômicos que explicçao a "brecha de gênero". 

Pesquisas realizadas em vários países têm revelado que o voto feminino tem duas condicionantes: uma estrutural, outra incidental. 

A primeira é a que diz que o voto feminino tende a ser mais igual ao masculino em duas situações: Onde há menor desigualdade entre os gêneros e onde há maior. Parece que nos extremos da desigualdade, mulheres e homens votam de maneira similar. As hipóteses são que em locais com muita desigualdade há menos “consciência” desta brecha e/ou maior poder dos homens na determinação do voto feminino. Nos países com as 10 menores brechas de gênero do mundo não há praticamente distinção entre perfil de voto. Mas, onde existe a brecha de gênero é significativa, mas não das mais altas, como no caso brasileiro, mulheres tendem a votar distintamente dos homens.


O outro condicionante do voto feminino é incidental, mas se repete em todos os páises onde este tipo de análise é feita. Mulheres votam mais diferentemente de homens, quando há candidatas. Os homens candidatos são alvo de menor diferenciação de gênero do que suas pares. Por quê? Bem, aí as hipóteses ficam mais complexas. Alguém poderia dizer que as mulheres são mais rígidas com outra mulheres, mas isto já seria machismo ":-)