quinta-feira, 28 de abril de 2011

O QUARTO DA MINHA FILHA & AS EMISSÕES DE CARBONO


Incontáveis vezes repeti a minha filha. - Tire esta bagunça do chão de seu quarto! - Deixe seu espaço organizado! E outros destes conselhos que todos os pais dão e todos são igualmente ignorados.

Noutro dia, entro no quarto dela para a vistoria de rotina. Já com o discurso de sempre na ponta da língua. Mas, tenho uma surpresa. Está arrumado! Associo com a conquista campeonato brasileiro pelo FLU e concluo: Jesus está voltando! :-)

Antes de começar a confessar meus pecados e me preparar para o fim do mundo, decido guardar um livro. Abro o armário. É então que sou atingido por uma avalanche de roupas sujas, papéis, livros e outros objetos até hoje não identificados. Toda a bagunça do quarto, entulhada no armário.

Ao ser confrontada, minha filha responde. - Pai, você disse que não queria nada desorganizado no meu espaço. Dentro do armário não faz parte do meu espaço.

Não há indicador que não possa ser manipulado. Não há político que não tenha sido criança e aprendido a manipular um indicador. Este é o caso das emissões de CO2 e dióxido de carbono.

Quando um país relata suas emissões de carbono para as Nações Unidas, é o dióxido de carbono que sai de chaminés, tubos de escape e incêndios florestais do seu território. Mas e sobre o carbono emitido em outro lugar por pessoas fazendo bens que este país importa? Em outras palavras, e o armário?

Um estudo recém publicado (PNAS, Glen Peters e Outros) examina como o quadro atual das emissões de carbono do mundo se reposicionaria, se o carbono de bens e serviços fosse cobrado contra a conta do consumidor final, não o produtor inicial.

Assim, enquanto Europa se orgulhar de emitir menos carbono em seu próprio território do que em 1990, um consumo do ponto de vista do consumo das importações européias, provenientes somente da já cancela todo o suposto ganho.

Em geral, o estudo constata que as importações líquidas de carbono consagradas em países desenvolvidos cresceram de 400 milhões de toneladas em 1990 para 1,6 mil milhões de toneladas em 2008 — uma taxa de crescimento mais rápida do que a economia mundial ou das emissões globais de carbono.

Na década de 70, o Japão e os EUA já começaram a exportar poluição e consumo de energia barata, quando transferiram grandes siderúrgicas e outras para os países emergentes, como o Brasil. Alumínio, por exemplo, consume quase 3% de toda a energia elétrica brasileira. Depois, exportamos a preços módicos para os europeus e japoneses, que guardam sua energia para produção de maior valor agregado.

Em resumo, minha filha tem futuro no mundo. Só não sei se o armário agüenta.



terça-feira, 26 de abril de 2011

A MÉDIA SOU EU

Sociologia é como um vício. Não existe cura, há abstinência. Nosso ex-presidente e eterno “príncipe-pavão-eu-sou-demais-e-fiz-sorbonne” provocou a polêmica que queria ao escrever para seu partido esquecer povão e se concentrar na classe média. Foi uma recaída do sociólogo em abstinência para que o político sobreviva. Na verdade, FHC só fez ler o já clássico artigo do meu brilhante colega André Singer (neste blog...), que mostra a emergência de uma nova classe média que dá sustentação ao PT.

Mais do que uma conversa de uspianos, o artigo toca em um ponto interessante. Na cultura brasileira falar ou do povão ou dos ricos é místico, porque todo mundo aqui se acha classe média. Inspirado no artigo, José Roberto de Toledo escreveu um interessante artigo no Estadão. José Roberto mostra que ler a leitura que fazemos dos dados não é tarefa de especialistas, é olhar o próprio espelho. Alias, o Rei está Nu e tem barriga ;-). Abaixo o artigo:




“O rico não sabe que é rico. Um em cada cinco pobres não se acha pobre. Ambos sofrem da síndrome de classe média.
Apenas 1% dos que estão no topo da pirâmide social brasileira se reconhece abastado. Praticamente dois terços desses que estão na mais alta faixa de renda dizem que são classe média. O resto não aceita tal régua e se diz "trabalhador".
A camada intermediária incha em toda pesquisa que pede para o entrevistado dizer qual sua classe. Não é preciso ir à Sorbonne para entender o porquê. Como não dá para calcular sua posição na escala social sem se comparar aos outros, seu lugar será sempre relativo. O mesmo 1,80 metro que garante a posição de pivô no time de basquete dos pigmeus, é insuficiente para ser armador na NBA.

Numa autoclassificação por renda, a maioria dos indivíduos olha para um lado e vê que há gente mais rica do que ele; olha para o outro e nota que há também mais pobres. Logo, seu lugar deve estar no meio.
Em pesquisa CNI/Ibope de 2008, 42% dos brasileiros se autoclassificam como classe média ("alta", "baixa" ou sem adjetivos) e 19% como classe trabalhadora/operária.
Ideologias à parte, os ditos trabalhadores/operários estão mais perto do extrato superior do que do terço que se considera na classe baixa/pobre. Comparando sua renda com a dos outros, pelo menos metade deles seria classe média.
Desde que a pesquisa foi feita, há quase três anos, mais pessoas emergiram economicamente. Mantido o crescimento do consumo, a classe média será ainda mais majoritária em 2014.
Como resultado, se um candidato for à TV e pedir o voto de quem é da classe média, ele terá boas chances de sair com mais eleitores do que inimigos. Há um inconveniente, porém: não será o único político fazendo esse apelo eleitoral.
PT e PSDB vêm buscando o voto da classe média há várias eleições. Descobriram que há diferentes classes nessa média: os emergentes, os decadentes e os estáveis; subdivididos em estudantes, estudados e sem estudo; em crentes, agnósticos e não praticantes; além de ricos, pobres e remediados.
Acertar o discurso para cada segmento é um problema, porque muitas vezes os interesses são contraditórios. Os ricos reclamam dos impostos altos, por exemplo, enquanto os pobres acham que eles são necessários para garantir saúde e educação. É natural: estes usam muito os serviços públicos, aqueles, pouco.
Os ricos têm dificuldades de se saberem ricos porque a dispersão da renda é maior na ponta mais afluente da escala. Proporcionalmente, a desigualdade é mais aguda entre os ricos do que entre os pobres.
Segundo a PNAD 2009, o rendimento do 1% mais rico é o triplo do que ganham os 4% do degrau imediatamente anterior. Ou seja: a não ser que seu nome seja Eike Batista, sempre haverá alguém ganhando muito mais do que você e será fácil de notar pelo modelo do carro, pelo tamanho da casa ou pela autonomia do jatinho.
Na frase entreouvida em um grupo de pesquisa qualitativa sobre a nova classe média: "Rico é quem tem lancha". Com barcos financiados em 48 prestações no cartão de crédito, já há quem diga que rico é quem tem vaga em marina.
Entre os ex-pobres, os signos da diferença social são mais prosaicos: um celular inteligente, uma conexão rápida à internet no computador de casa.
Como nota o pesquisador Maurício Moura, muitas novidades consumidas pelos emergentes implicam mais acesso à informação, o que os torna permeáveis, ou pelo menos acessíveis, ao discurso da oposição. Daí talvez Fernando Henrique Cardoso descartar "as massas carentes e pouco informadas".
Mas não basta ter acesso ao alvo. O discurso precisa acertar. Em propaganda recente, o PSDB reclama das filas nos aeroportos. São filas que incomodam o eleitor tradicional do partido, mas que foram formadas pelo afluxo de novos passageiros, os mesmos emergentes que os tucanos querem conquistar.
O PSDB tem mais um motivo para apurar o discurso. Dilma Rousseff está com aprovação superior ao seu porcentual de votos no 2.º turno de 2010. Logo, uma parcela dos eleitores de José Serra em 2010 aprova o governo da petista. Seriam eles de classe média? Podem não ser, mas acham que são.”

(José Roberto de Toledo)

quarta-feira, 20 de abril de 2011

COBERTOR DE POBRE



Faz duas semanas, a presidente disse, em Belo Horizonte, que será difícil erradicar totalmente a pobreza do País ainda no seu mandato. O mesmo objetivo que apresentara na campanha e repetido nos discursos inaugurais do mandato. O grande Marcelo Neri, do CPS-FGV, já havia dito que "a erradicação é inatingível". Nery e outros defendem uma meta mais concreta, um compromisso: reduzir à metade o contingente atual de pobres.

Uma parte do trabalho de redução da pobreza foi feito (mesmo que nada seja irreversível). Desde 1994 (para que meus alunos tucanos e petistas não me acusem de nada:-), a queda já fora de 67%. Somente nos 8 anos do guru Lula, a queda foi de 50,6%. Isto é, 13 milhões a menos de pobres.

Mas, o Brasil é um país de grandes números. E, mesmo se até 2014, conseguirmos "apenas"a meta proposta por Nery (reduzir a pobreza à metade, ie, de 15,3% para 8,6%), ainda teríamos 16,1 milhões de pessoas abaixo da linha da pobreza (R$ 142 mensais). 8,6% “é baixo”, é muita gente. Significaria dizer, por exemplo, que em 2014, ainda haveria cerca de 6 milhões de crianças (usando a proporção de menores de 18 anos nesta faixa de renda) vivendo com menos do mínimo em comida, educação e abrigo.

O custo para erradicar totalmente a miséria, somente via transferência de renda, ficaria em adicionais R$ 22 bilhões anuais. O custo do Bolsa-Família está menos de R$ 15 bilhões/ano, cerca de dez vezes menos que a despesa com juros, só no plano federal.

Mesmo que a presidente reconheça que sua meta é difícil, mandou seu governo caminhar para alcançá-la. Como primeiro passo, estabeleceu-se que ao mesmo  nas 500.000 famílias cadastrados do BF a miséria será erradicada. Para isto, o governo fez um cronograma de aumentos no benefício. E concedeu, agora em 2011, 19,6% de aumento aos 12,9 milhões de famílias beneficiárias no programa (que reúnem cerca de 40 milhões de pessoas). Mas, como a Matemática é cruel, este "pequeno passo" já teve seu preço. O governo federal fará cortes de R$ 340 milhões em vários outros programas sociais, alguns cortes sociais:
  •  O ProJovem, que só atende 3,5 milhões dos 55 milhões de jovens possíveis beneficiários, perderá R$ 34,3 milhões;
  • O Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI) só terá R$ 250 milhões;
  • R$ 6,21 milhões foram cortados do programa de combate ao abuso e à exploração sexual de crianças;
  • O sistema que protege o adolescente em conflito com a lei perde R$ 2,5 milhões;
  • O Fundo Nacional de Assistência Social terá um corte de 10% nos gastos opcionais;
  • R$ 1,5 bilhão a menos no orçamento do Ministério da Justiça para o Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania e para combate a drogas.
  • R$ 1.8 Bilhão a menos para o Minha Casa, Minha Vida.

Se usarmos todo recurso disponível em transferência de renda, podemos prejudicar políticas estruturantes e inclusivas. E ainda, reduzir o déficit saneamento (essencial para garantir saúde e bom uso da água). Washington Novaes (em artigo do dia 8/4), lembrou que o IBGE aponta para 56% dos domicílios brasileiros, com mais de 100 milhões de pessoas, que não são ligados a redes de coleta de esgotos (e só 29% dos esgotos coletados recebem algum tratamento); quase 10% dos domicílios não recebem água tratada. Já o Atlas Brasil (Agência Nacional de Águas - ANA), expõe que perto de 55% dos municípios brasileiros enfrentarão problemas de escassez de água até 2025. A ANA afirma que o Brasil precisa investir R$ 22,2 bilhões para evitar o risco de colapsos. Já o investimento total em água e esgotos é calculado em R$ 70 bilhões. So' a perda com desperdicio de agua e' R$ 7,4 bilhões anuais”.

A pobreza muda e com ela precisam mudar as políticas. O país precisa ampliar os mecanismos para que mais pessoas possam acessar suas riquezas (“habitabilidade”, educação de qualidade, acesso a crédito produtivo, redução de impostos sobre consumo básico e salários, etc).

A presidente tem uma tarefa mais difícil do que reduzir a pobreza. Enfrentar uma construção de desigualdade estruturante que consolida privilégios. Este sistema está refletidos em tudo: Impostos focados em consumo e que beneficiam rentistas; Isenções focadas na elite (por exemplo: se “você” gastar 500.000 para fazer uma cirurgia plástica em Miami, pode deduzir isto de seu imposto, isto é, transferir a conta à sociedade; se ajuda a creche da sua comunidade ou se compra um livro para seu filho ler, aí é problema seu); Subsídios para setores produtivos controlados por poucos (Açúcar&Álcool, Mineração, Telecomunicações, Energia, etc.), Aposentadorias especiais; Benefícios Sociais não focados em pobres; etc.

A desigualdade e a pobreza não são fenômenos econômicos, são consolidações sociais. O Estado se aperfeiçou em beneficiar a poucos e perpetuar as desigualdades. Ou a presidente consegue destravar pelo menos alguns destes mecanismos ou terá que tirar de um pobre para dar ao outro. Em outras palavras, nao basta descobrir um santo para vestir outro. E' necessario deixar o diabo pelado :-)

segunda-feira, 18 de abril de 2011

A LINHA MÁGICA


Anda intranqüilo para sair pela cidade? Tem medo de que você ou alguém de que você goste seja vítima de violência?

Pois seus problemas acabaram! Chegou a Linha “aceitável” de homicídios. E, estamos abaixo dela. Sim. São Paulo passou em Março para menos de 10 assassinatos para cada 100.000 habitantes. Portanto, segundo a Organização Mundial da Saúde, estamos bem. O homicídio não é mais uma epidemia. Isto foi o que alardeou toda a "imprensa amiga"de SP, na semana passada. Seu senso de insegurança está errado. Certa está a "linha mágica" da violência.

O que isto significa? Comecemos pelo óbvio. Alias só a parte que a imprensa noticiou. Desde um pico triste em 1999, há uma redução no número de homicídios. O Rio também vem reduzindo suas taxas, desde 2002. Mesmo as capitais mais violentas como Recife, Porto Velho, Maceió e Vitória, demonstram diminuição na taxa.

Toda redução é bem vinda. Neste ano, em comparação a 2003, menos 1800 pessoas serão assassinadas no Brasil. Deixamos para trás um período crítico 1994-2004, no qual as taxas de homicídios mais do que dobrou em quase todo o país.

Agora, o que a imprensa não contou, porque não estava no “press release” do governo.

1. A tal linha epidêmica da OMS foi apenas marginalmente vencida. SP está com 9.52 homicídios para cada 100 mil moradores. Em um dado que conta com ocorrências episódicas, bastam 30 homicídios a mais neste trimestre, que voltaremos a passar a tal linha.

2. As desigualdades da linha persistem:
a. A Capital, Região Metropolitana de SP e as outras 5 maiores cidades do estado ainda estão todas acima da linha. A média estadual é que dá outra impressão.

b. A taxa de homicídios de jovens segue quase duas vezes (19.1/100.000) superior a geral.

c. A diminuição nos bairros pobres foi de menos de 40%, em relação aos de classe média. Em SP, em 1999, 3 em cada 10 assassinatos aconteciam fora de um bairro pobre. Em 2010, 9 em cada 10 acontecem nas regiões mais pobres.

3. A polícia apresenta a linha como seu triunfo, mas omite que:
a. As maiores diminuições nos últimos 2 anos foi nos homicídios de caráter interpessoal, i.e., crimes cometidos entre conhecidos, nos quais a ação policial pouco ou nada afeta na sua redução. Ações municipais como “leis secas”, têm mais impacto neste tipo de ocorrência do que ação policial.

b. A diminuição no número de latrocínios é a menor de entre todas as modalidades de homicídio.

c. Quase 30% dos assassinatos em SP sequer têm denúncia ao MP quanto à sua autoria. Na Argentina, este número é de 8%. Apenas 21.8% dos homicídios em São Paulo têm seu autor denunciado, condenado e preso.

d. Pesquisas mostram que um dos fatores que reduziram os homicídios não foi a polícia ou a segurança, mas a melhoria dos serviços de emergência. O número de incidentes violentos que atentam contra a vida (soma dos homicídios com as tentativas) ainda é 3 vezes acima da média “aceitável”. Mas, o número de mortes reduziu porque mais vítimas conseguem atendidas e salvas.

4. Os truques da linha:
a. Todos os assassinatos ainda não proclamados pela polícia e aceitos pelo MP como tal, pendentes de investigação, foram eliminados da taxa. Até 2008, a taxa contava os Boletins de Ocorrência, não as denúncias.

b. Diferentemente de outros países (EUA, EU mais 28), os homicídios considerados “dolosos” pela justiça, são retirados da lista. Mesmo as mortes em trânsito provocadas por comportamento criminoso (velocidade, embriaguez e quebra de regras). Na maioria dos países, quando há qualquer comportamento que ponha em risco o outro, mesmo se houver atenuante de pena, para a estatística esta morte é considerada “homicídio”, no Brasil, não.

Ainda sobre violência, mas na categoria furtos e roubos de veículos, a polícia orgulhosamente apresentou o dado que 43% dos veículos roubados foram devolvidos aos seus donos. Esqueceram de dizer, certamente por problemas de memória :-) que só 16% deles foram recuperados, o restante foi abandonado pelos ladrões. E, dos 16% recuperados, 92% tinham seguro. Coincidência boa para as seguradoras esta que faz com que a polícia só vá recuperar carros já segurados.

Em resumo, se algum ladrão lhe mostrar uma arma, saque o "press release" :-)




P.S. – minhas fontes neste post: INFOCRIM (SNSP/MJ); STATSYSTEM (OMS); Homicídios na RMSP, 2000-2010 (Guaracy Manardi, NEV-USP).

terça-feira, 12 de abril de 2011

THE TIDE AND THE BOAT: CONTEXT DEFINITION, GLOBAL POVERTY DYNAMICS AND WORLD VISION MINISTRY.


                                                                                                  by Eduardo Nunes (1)



Where the poor lives is a central question to Development and the key global operational context defining element. It is highly crucial understanding the changes on poverty demographics to foreseen trends and maximizing operations impact.


World Vision knows that and had long time used context analyses to guide its ministry investments. More recently, organizational strategic development built a consensus, perfected technical parameters and brought context definition to the heart of ministerial decisions.






POVERTY AND CONTEXT DEFINITIONS


Among almost uncountable technical possibilities, WV had reached a very simple, used-focused and technically strong two axis context definition: Child Need X Stability . “Contexts are drawn following the definitions of Low, Med, and High physical need and social stability indices ” (2). Over need-stability grade, WV had added overlays, defined by relevant characteristics in restrictive religion (for e.g., Muslims contexts), demographic (urban) and peace disruptions (conflictive environments).


As in WV, other organizations had developed poverty contexts definitions and had applied them to guide polices, investments and eligibility criteria. However, most of them lacks historical comparable series and/or are not available to all countries. Even WV context definition had been measured for few years and yet did not allow historical trend analysis. Among the most historically and geographically comprehensible are two context definition indexes: a) UNDP HDI (low, medium and high human development based on income per capita, education and health criteria in the Human Development Index ) and; b) the World Bank WDI (based on low/middle income classifications -LIC/MIC- combined with fragile and conflict-affected states, FCAS).


Despite “narrower”, the WDI had been longer measured (with the same criteria) and reaches more countries than HDI. Then, WDI is the current most used classification criteria to analyse worldwide long-term parameters changes. It is the reason WDI was chosen here to look over the past two decades poverty dynamics.


World Bank Classifications thresholds (GNI US$ per capita, Atlas methodology)

  

POVERTY DYNAMICS


Mostly of Europe, US, Canada, Japan and, later, South Korea had experienced an almost correlated economic growth with poverty reduction process, in the second half of 20th century. Those countries and their populations, despite inequalities, streamed toward quite to the same direction. The tide of economic growth lifted the poor’s boat.


On the other hand, mostly of the wealth creation experienced in the last two decades (BRIC group, Southeast Asia, Southern Africa and Latin America high dynamic economies), although had decreased the northern-south inequality, had not been strong domestically distributive.


As consequence of “nouveau riche” countries development did not follow the past developed countries parameters observed. This new growing configuration, allied with some inequality increased even in the developed countries, had changed the poverty portrait.


The new development paradigm had already been noted but is clearly demonstrated in a recently published study by International Development Studies on the last 20 years world poverty context dynamics based on the WDI criteria (above).


The study data, combined with age distribution extrapolation , demonstrated that the different parameters in recently development had transformed the global poverty scenario. Most of the world’s poor no longer live in poorest countries. In the past, poverty has been viewed as an LIC+FCAS countries issue predominantly. Nowadays such, a significant number of countries have graduated into the Middle Income (MIC) category, but their population still are poor. As my intention in this paper is not going detailed over the figures, the new portrait of the poverty can be summed up in three points as follows.


1. In 1990, 93% of the world’s poor people lived in LICs. In contrast, in 2008, three-quarters of the world’s poor (approximately 1.3bn) now live in middle-income countries (MICs).


2. About 28% of the world’s poor – about 370mn people live in the remaining 39 low-income countries, which are largely in sub-Saharan Africa. In 1990, they were 93% of the total.


3. About 2/3 of the world’s poor live in stable MICs. This isn’t just about India and China. The percentage of global poverty accounted for by the MICs minus China and India has risen considerably from 7 per cent to 22 per cent. The findings are consistent across monetary, nutritional and multi-dimensional poverty measures.


4. By 2020, based on BRIC’s countries and the 10 most dynamic new regional economies evolution almost 85% of world’s poor will live in MICs.


5. Children poverty had increased, in proportional terms. Despite birth rates decreasing and consequently, in the children coefficient in global population, proportionally children are more affected by poverty than 20 years ago. In 1994, 54 in each 100 poor are bellow 18. In 2009, 57 are children in every 100 poor.


Poverty had changed neighbourhood and is getting a younger face. In other words, countries are escaping from poverty, not mostly of their populations neither their children.


Mostly of the poorest children do not live in poorest countries anymore. This is a massive scenario change with deep implications to World Vision ministry.

Estimates of the change in global distribution of world’s poor (<$1.25/day/day),  1988 versus 2007–8


HETEROGENEITY AND MINISTRY


At a glance, the data presented on the table above could lead to question the definitions of country categories themselves. If the most used poverty measure is not pointing where the poor are, probably we need better indicators. However, the methodological discussion as indexes and indicators are not my focus here.


WV context definition is built over a wider approach than World Bank’s and was not design to be an academic descriptive tool. For WV, beyond categorization criteria, context definition is a key ministry shaping input. WV operation is context shaped. Then, still poverty profile changes do not invalidate context definition; they bring new perspectives on them and raise all sorts of queries about the poverty reduction strategies. Poverty evolution dynamic brings real challenges to the ministry models defined as the most appropriated ones to each context.


The new demographics of wealth confirm that poverty had already become a mostly heterogeneous context problem. The heterogeneity is defined for contexts where the differences among individuals in the same territory become more prominent than the discrepancies observed amongst distinct territories. The heterogeneity does not mean that injustice among rich and poor countries had disappeared, however implies that overcoming poverty face profound in-boundaries constrains.


Contributing to sustainable changes in the well being of the most vulnerable child is now a challenge to be faced, for mostly world’s most children, in a growing heterogeneous contexts scenario.


In this new configuration on poverty distribution, any effective engagement in sustainable solutions to promote child well being could not be seen more as exclusively inter-countries strategy. Global poverty already can be considered as a major complex in-country distributional problem. It is not a matter of global or local. Both, global and local issues, combine in a scaling up complex poverty perpetuation process. Consequently, global issues (Financial Inequalities, Trade inefficiencies and Climate Changes, major provoked by industrialized countries unsustainable way of life) need to be addressed as they impact and are “translated” into the domestic constrains to children life in its fulfilment.


The traditional agenda for fighting poverty, based in traditional north-south resources transfer, was designed for times when poverty was coincidental with the country average income. The traditional agenda was built on social services (mostly education and health) provision and technology/financial resources transfers. It was based in the credo that if healthy, basic educated and well informed people would advance. However, it not happened.


The heterogeneity questions that agenda. It brings all sorts of issues regarding the reasons why people, and mostly their children, are not moving up alongside their countries. For sure, the answers are not the same to all countries, but the most recurrent factors identified are common. Social investments insufficiency aggravated by the actual investments ineffectiveness or misdirection. Broken governance (and government accountability) mechanisms allied with educational and economic opportunities inequalities. Lack of adequate pro-child focused polices. Behavioural-values practices or omissions based hindrances those perpetuated injustices, prejudices and violence. Those elements, past peripheral issues, must be brought to the core of child well being agenda.


It can be affirmed that World Vision is ahead on this debate. Almost 10 years ago, WV had formally recognized a long time practice and declared as essential in poverty fighting mostly of those elements in its Development Framework . Consistently, all around the globe, programmes had struggled to address those gaps.


However, the heterogeneity calls for reinforcement in the organizational capacity to deepen inequality and structural societal transformation programmatic solutions already addressed. Also, it urges increase design and implement new innovative on ground based built solutions. As the lasting child well being impact relies on structural transformation, contribution definition, results measurements and effectiveness dimensions shall reflect that outcome.


Effectiveness well-being promotion in heterogeneous context means contributing to reduce the inequalities those prevent the most vulnerable children to be benefitted of their country economic growth.


Other elements and indicators need to be considered in Ministry strategy guidance. However, there is enough evidence to affirm the growing importance of assessing the Ministry offer and emphasis vis-à-vis the heterogeneity demands. It is necessary keep one eye on the tide, another on the boat, they are not moving together anymore.

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REFERENCES:


  1. Operations & integrated Ministry Director, Latin American & Caribbean Regional Office. The current paper expresses author’s opinions only and is target to WV internal audience. March, 8. 2010.
  2. The initial methodology uses only the cut-off points for Low, Med, and High HDI as a basis for the cut-off points for High, Med, and Low physical need. This was conducted because of absence of similar cut-off points for the %U5UW Children in the official statistics. Since Physical Need index is the combination of the two indices with equal weights, its context lines should come from both indices. Hence in this revised methodology we attempted to include the %U5UW Children in the identification of context lines for physical need. In the initial context lines for FSI, we found that the context line that separates the low and medium social stability was not based on the Foreign Policy Magazine’s definition. An FSI level of 85 was used instead of 90, the FPM’s cut-off point for Alert. Hence we corrected this discrepancy. Though it was noted in the previous methodology that identification of contexts is based on the Low, Med, and High Physical Need and Social Stability classification, the actual delimitation of the contexts didn’t strictly follow this classification at all times. In this revised methodology, contexts are drawn following the definitions of Low, Med, and High physical need and social stability indices. Justifications are provided when there are exceptions (Office of Strategy Management – Global Center. Page 1 of 8, Version 07. 15 February 2008)
  3. Office of Strategy Management – Global Center. Page 1 of 8, Version 07. 15 February 2008.
  4. In contrast, the new UNDP Human Development Report 2010 Multi-dimensional Poverty Index (MPI) of Alkire and Santos (2010) argues that, if you take a multi- dimensional approach (an index of ten indicators of social development) and consider 104 countries that have data (or 78% of the world’s population).
  5. Classification supports Bank’s operational lending categories (civil works preferences, IDA eligibility, etc.) and thus seeks to give better conditions to poorer countries based on economic capacity measured by GNI per capita.
  6. Brazil, India, Russia and India
  7. Global Poverty and the New Bottom Billion: What if Three-Quarters of the World’s Poor Live in Middle-Income Countries? By Andy Sumner, I.D.S., September 2010.
  8. Personal calculations based on UNDATA, Global Population Charts, 2010.
  9. It is noted there just four countries (India, Pakistan, Indonesia, Nigeria) account for almost 60% of the total number of poor that have ‘moved’ to MIC countries. However, cluster analysis reveals no different patterns in poverty moving to MICs.
  10. World State of Children Reports, UNICEF, 2001, 2010.
  11. Andy Sumner, I.D.S., September 2010.
  12. World Vision Transformational Development Policy, April, 2002.

 



 Source: World Bank: http://data.worldbank.org/about/country-classifications/a-short-history


segunda-feira, 11 de abril de 2011

A Violência do Desenvolvimento


Quando até o Banco Mundial diz que algo precisa mudar, é melhor se preocupar :-) O relatório de Desenvolvimento Mundial 2011, será lançado hoje e seu foco é na Violência e no seu impacto no Desenvolvimento.

A violência mudou. Não se encaixa no molde do século XX. A guerra entre países e a guerra civil são ainda ameaças em algumas regiões, mas têm diminuído nos últimos 25 anos. As mortes decorrentes da guerra civil, ainda inaceitáveis, representam um quarto do que foram na década de 1980. Porém, a violência e os conflitos não foram banidos. Uma em cada quatro pessoas no planeta (mais de 1,5 bilhão) vive fortemente impactado pela violência.

“Este Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial pergunta o que impulsiona os riscos de violência, por que a prevenção de conflitos e a recuperação demonstraram ser tão difíceis de abordar, e o que pode ser feito pelos líderes nacionais e parceiros de desenvolvimento, de segurança e diplomáticos para ajudar a restabelecer um caminho de desenvolvimento estável nas áreas mais frágeis e devastadas pela violência. A mensagem central do Relatório é a de que o fortalecimento da governança e instituições legítimas para fornecer segurança cidadã, justiça e empregos é crucial para quebrar os ciclos de violência. O restabelecimento da confiança e a transformação das instituições de segurança, justiça e economia são possíveis dentro de uma geração, mesmo em países que sofreram graves conflitos. Mas isso requer uma liderança nacional determinada e um sistema internacional “readaptado” para tratar dos riscos do século XXI: novo enfoque da assistência na prevenção de violência política e criminal, reforma dos procedimentos de órgãos internacionais, resposta a um nível regional, e renovação dos esforços cooperativos entre os países de baixa, média e alta rendas. O Relatório prevê uma abordagem estratificada para a ação global eficaz, com funções locais, nacionais, regionais e internacionais.”

O relatório trata de aspectos conhecidamente relacionados com a violência: como governança, participação e igualdade. Praticamente ignora os componentes estruturais do modelo econômico global na violência, como se a paz de algumas regiões não se beneficiasse ou quase dependesse do conflito em outras. O relatório trata da violência como uma desfuncionalidade. Não considera a hipótese (altamente provável) de que a violência seja um efeito colateral de um modelo de desenvolvimento.

Em outras e chulas palavras, o Banco Mundial tira o dele da reta  :-)

Texto Integral:





sexta-feira, 8 de abril de 2011

Jogo dos 600.000 Erros

Crianças, no Noroeste da Índia. Descubra os 600.000 erros revelados nesta foto.

O censo indiano, concluído há um mês, foi um processo gigantesco que envolveu mais de 400.000 pessoas na contagem dos quase 1.2 bilhão de pessoas. As primeiras conclusões mostram sinais positivos de crescimento nas taxas de alfabetização e de estabilidade nas taxas de crescimento. Ainda que a Índia cresça a taxas mais altas do que sua concorrente pelo topo da lista dos países mais populosos, a China.

Junto com as boas notícias, o Censo indiano leva a uma aterradora conclusão: Faltam 600.000 meninas por ano nesta contagem. Em discurso claro: 600.000 serão mortas entre a gestação e os 2 meses de vida, somente neste ano, na Índia. Eu não errei nos zeros. São Seiscentas mil, mesmo. Como o censo nos prova isto? Matemática e Demografia.

O censo mostrou que há 914 meninas (abaixo de 6 anos) para cada 1000 meninos. Mas, sem intervenção, a taxa esperada de sobrenatalidade masculina seria no máximo de 1000 meninos para cada 981 meninas. O que explica a diferença? O aborto é permitido na Índia, mas ele impactaria ambos os gêneros igualmente. A única explicação para o que o censo revelou é o Aborto e infanticídio específico de meninas. Em 18 anos de padrão semelhante, serão mais de 10.000.000 de mulheres a menos, só na Índia.

O “generocídio” (em inglês a palavra “gendercide” é amplamente usada na literatura social) tem motivações culturais e econômicas. Meninas precisam de dotes, não irão cuidar dos pais na velhice (terão que cuidar dos sogros), produzem menos, etc.

O fenômeno é tão brutal que o déficit de mulheres já provoca tensão social em algumas áreas do sul e sudeste asiático (onde 8 em cada 10 “generocídios” são cometidos). Aumento em índices de raptos de meninas, estupros e tráfico de mulheres estão documentados em todo o subcontinente. Embora não seja exclusivo de uma classe social, ele é predominantemente um fenômeno dos mais pobres. Em algumas áreas mais pobres, há menos de 600 meninas para cada 1000 meninos, i.e., as taxas de “generocídio” são muito mais elevadas.

Já se sabia do problema, mas o censo traz evidências. Saber é a parte fácil da equação. Complexo é resolver. E as soluções passam por extensos programas de melhoria das condições de vida das mulheres (escolas, emprego, etc.), ampliação ao acesso à saúde reprodutiva, etc. Os governos da região foram pressionados a tomarem medidas: tornaram ilegal para médicos informarem o sexo do bebe, no ultrassom. Tornaram o aborto sexo-seletivo ilegal. No entanto, para todas estas medidas, a sociedade cria seus atalhos. É mais fácil derrubar um regime do que mudar valores. Daí, ser essencial melhorar a vida das meninas e mulheres para que elas possam tomar escolhas livres, no futuro.

A igualdade, que nem a Escandinávia atingiu plenamente, parece um sonho distante e teórico nestas sociedades. Neste ano, 600.000 meninas pagarão com a vida esta desigualdade.












quinta-feira, 7 de abril de 2011

O NOVO ENVELHECIMENTO


Arnaldo Antunes já disse, “A coisa mais moderna que existe nesta vida é envelhecer”. O envelhecimento é novo. Nunca antes na história desta humanidade, houve tantos velhos. Primeiramente só perceptível em países ricos, o envelhecimento se democratiza. Atinge países de médio desenvolvimento. Conseqüência de melhorias em infra-estrutura e tecnologia em saúde, mudanças em hábitos alimentares, comportamentos demográficos. Em um estudo global, o Banco Mundial acaba de lançar um relatório sobre o envelhecimento do Brasil: “Envelhecendo em um Brasil Mais Velho".

O relatório conclui que Brasil se encontra passando de um país relativamente jovem para um onde predomina a população idosa.  E, como sempre, a nova mudança ocorre mais rapidamente do que na Europa e Ásia.


 Os padrões demográficos no Brasil são caracterizados por cinco características principais:
  1. a transição demográfica é avançada se comparada a outros países da América Latina, mas o Brasil é ainda relativamente jovem se comparado aos países da OCDE;
  2. as taxas de fecundidade são baixas e diminuíram rapidamente;
  3. a redução na mortalidade não tem sido tão rápida e profunda como no caso da fecundidade;
  4. a estrutura etária da população tem mudado rapidamente;
  5. a estrutura etária atual é muito favorável e conducente ao crescimento econômico.
O resultado: a população idosa irá mais do que triplicar nas próximas quatro décadas, de menos de 20 milhões em 2010 para aproximadamente 65 milhões em 2050, passando a representar quase 50% dos habitantes do Brasil.

Diferentemente do discurso comum de que os velhos não são apoiados pelo Estado é falsa. O Brasil já investe mais em seus velhos do que em suas crianças. Por exemplo, a parcela das transferências públicas per capita destinadas à população idosa, se comparada à fração para as crianças, é atualmente muito maior no Brasil do que em qualquer país da OCDE e da América Latina com sistemas proteção social similares. A mudança demográfica acentuaria essa disparidade, aumentando explosivamente os déficits. a transição demográfica é avançada se comparada a outros países da América Latina, mas o Brasil é ainda relativamente jovem se comparado aos países da OCDE.

Com mais idosos, o número de aposentados (tanto por contribuição, quanto pelos Benefícios Continuados), o Estado terá que destinar mais dinheiro público para esta faixa etária. E como a Matemática é cruel, menos para infância e juventude. Enquanto em 2005, os gastos públicos total com educação, saúde e previdência somavam 17,7% do PIB, sem reformas adicionais essas despesas podem chegar a 31,9% do PIB em 2050. Em outras palavras, o modelo atual tornará inviável a conta do envelhecimento.

O estudo aponta que modelo sócio econômico atual, desenvolvido em um contexto demográfico jovem, com grande pobreza, instituições nascentes e alta inflação, tende a desperdiçar os benefícios do dividendo. O Brasil mudou e os princípios com os quais desenha suas políticas não. Por exemplo, ao favorecer as transferências públicas para os idosos, o modelo foi muito eficaz para reduzir a pobreza e a desigualdade, mas levou a gastos semelhantes aos de países desenvolvidos– embora a estrutura etária do Brasil ainda seja relativamente jovem.

O resultado é uma menor capacidade de investimento nas camadas etárias que logo serão responsáveis por sustentar o crescimento do país e os benefícios de idosos, crianças e outros grupos dependentes.

A hora é importante porque até 2020, o Brasil passará pelo chamado bônus demográfico, quando a força de trabalho é muito maior do que a população dependente. O país poderia aumentar o seu PIB per capita em até 2,48 pontos percentuais por ano nesse período. Mas, esse dividendo não é automático, depende de instituições e políticas que transformem as mudanças demográficas em crescimento. E sito se faz por reformas, redistribuição de investimentos e aumento do foco na adolescência e juventude (ensino fundamental II, Ensino médio, saúde, emprego e renda, etc.).

Já dizia meu avô, a única saída para a velhice é cuidar da juventude.


O resumo de relatório em português:

http://siteresources.worldbank.org/BRAZILINPOREXTN/Resources/3817166-1302102548192/Envelhecendo_Brasil_Sumario_Executivo.pdf

sexta-feira, 1 de abril de 2011

DESENVOLVIMENTO E POLÍTICA: COSTA DO MARFIM


Curiosa a memória e seus filtros. Faz 20 anos, muitos fatos talvez mais relevantes se foram, mas nao me esqueço do último dia de uma visita impressionante. O Sol refletido no turquesa da baia da Abdijan dizia, sem pedir licença, um enfático “bom dia” para os hóspedes do hotel. A cortina não era párea para uma luminosidade  que contradizia o relógio, onde ainda aparecia 05h50min. Abdijan dispensa despertadores.

Avenidas largas sonhos de governos megalomaníacos e suas majostosas palmeiras, combinavam com ruas desorganziadas de um passado colonial recente. Transplante europeu deslocado. A herança do colonizador, colonizada. Gente colorida e suas conversas sempre empolgadas. Sorrisos e protestos evidentes. Tudo muito evidente como convém neste lado do mundo. Os tambores sincronizam o coração. A piada e o sorriso sempre presentes, mesmo ou principalmente, na tragédia. O oceano não separa os fortes traços de culturas africanas que nos vieram de toda aquela região. Traços que são, assumidamente ou não, o centro do que chamamos de cultura brasileira. Para um brasileiro, a Abdijan  de 1991 era como a casa de um familiar.

Foram dias de intensas boas surpresas em cidades e vilas alcançadas por estradas muito mais bem cuidadas que as de grande parte do interior brasileiro. Pequeno, então pacífico e com uma distribuição fundiária quase em padrões europeus, a Costa do Marfim desafiara meu pessimismo em relação ao futuro da África. O país vivia um período de democratização, depois de mais de uma década de relataiva prosperidade, mas de um único presidente. Se as Democracias talvez se pareçam, as ditaduras são sempre singulares. Esta tinha um parlamento e um primeiro-ministro eleitos, mas um só partido. Substituía as habituais brutais forças de Inteligência por uma rede de escolas públicas, presentes em toda comunidade. As escolas eram os pontos tanto de controle como de distribuição de benesses sociais. Na liderança um líder carismático, libertador e herói nacional, com preocupações sociais contraditórias. Era o que hoje acostumamos chamar de populista. O presidente, outrora auto-proclamado, agora tinha a legitimidade das urnas, nas primeiras eleições pluripartidárias e fiscalizadas.

As escolas surgidas para controlar haviam se transformado em núcleos comunitários. Cada comunidade, por menor que fosse, tinha sua organização. Jovens, oriundos da primeira geração alfabetizada, chefiavam conselhos comunitários. Era estimulada a crítica a tudo e todos, menos ao presidente. Esta mistura de estabilidade de um regime de partido único, em um país que já multipartidário, a liberdade empreendedora, um povo aberto a estrangeiros e um Estado que não insistia em regular os detalhes da vida, atraiu investimentos de toda a parte. Também foi o contexto que fez da Costa do Marfim um ponto de encontro e diálogo diplomático para países vizinhos então (e a maioria até hoje) em crise.

Esse ambiente de relativa paz, taxas de escolarização superiores à média africana e a boa infra-estrutura possibilitavam uma exploração mininamente racional das riquezas minerais (presente abundamente em quase toda a região, uma das províncias minerais mais ricas do mundo). Naquele ano, o país completava 20 anos de melhoria ininterrupta no seu Índice de Desenvolvimento Humano. A continuar a tendência, em mmenos de 2 décadas, seria um país de desenvolvimento médio e o 3º IDH da África. Esta foi a afirmação que ouvi atento e cédulo de um painel de economistas, chamados pelo Banco Mundial e pelo Banco Africano de Desenvolvimento. Pensava presenciar um país que abandonava a pobreza.

As Organizações humanitárias também eram otimistas. Reduziram ou fecharam seus programas de assistência no país. Abdijan, por sua paz e infra-estrutura, era então a sede administrativa sub-regional de muitos organismos do sistema internacional.

Mas, política não segue tendência estatística. E não há conquista que não possa ser perdida. Desde a década de 90 a Costa do Marfim alternou crises políticas com períodos de normalidade, cada vez mais raros. Conflitos institucionais evoluíram para guerrilhas, Golpes de Estado e guerras civis. Os investimentos se foram pouco a pouco. As agências humanitárias nunca retornaram. Restaram apenas os investidores de alto risco e baixa responsabilidade que trocam diamantes por armas ou até drogas.

Hoje a Costa do Marfim vive talvez os últimos dias da atual guerra civil. Seja qual for o desfecho, outras guerras provavelmente seguirão. A infra-estrutura do país acabou. Da rede de escolas públicas, restam ruínas. Estima-se que as taxas de analfabetismo estão entre as cinco piores do continente africano. Quase 200.000 crianças (abaixo de 16 anos) estão arregimentadas nas forças bélicas. Um levantamento do UNICEF contou quase 10000 crianças órfãs. com menos de 12 anos. somente nas ruas das 4 principais cidades do país. Dois terços das crianças marfinesas sofrem de desnutrição. Todo o ganho social das décadas de 70 e 80 se foi. Mesmo que a paz chegue ao país (e, em curto prazo, não há indícios que virá), seriam necessárias décadas e bilhões para voltar ao ponto de 1990. Até lá, toda uma geração de crianças marfinesas terá morrido ou sobrevivido em condições de fome, violência e abandono.

Costa do Marfim e tantos outros exemplos só corroboram o que se sabe e freqüentemente se tenta esquecer. Há desafios econômicos, sociais, educacionais, mas o Desenvolvimento é uma tarefa primeiramente Política (com o P mais maiúsculo que se pode ter) e sem política não pode avançar.

O Desenvolvimento é um processo sem atalhos, mas com muitos retornos.