quinta-feira, 7 de abril de 2011

O NOVO ENVELHECIMENTO


Arnaldo Antunes já disse, “A coisa mais moderna que existe nesta vida é envelhecer”. O envelhecimento é novo. Nunca antes na história desta humanidade, houve tantos velhos. Primeiramente só perceptível em países ricos, o envelhecimento se democratiza. Atinge países de médio desenvolvimento. Conseqüência de melhorias em infra-estrutura e tecnologia em saúde, mudanças em hábitos alimentares, comportamentos demográficos. Em um estudo global, o Banco Mundial acaba de lançar um relatório sobre o envelhecimento do Brasil: “Envelhecendo em um Brasil Mais Velho".

O relatório conclui que Brasil se encontra passando de um país relativamente jovem para um onde predomina a população idosa.  E, como sempre, a nova mudança ocorre mais rapidamente do que na Europa e Ásia.


 Os padrões demográficos no Brasil são caracterizados por cinco características principais:
  1. a transição demográfica é avançada se comparada a outros países da América Latina, mas o Brasil é ainda relativamente jovem se comparado aos países da OCDE;
  2. as taxas de fecundidade são baixas e diminuíram rapidamente;
  3. a redução na mortalidade não tem sido tão rápida e profunda como no caso da fecundidade;
  4. a estrutura etária da população tem mudado rapidamente;
  5. a estrutura etária atual é muito favorável e conducente ao crescimento econômico.
O resultado: a população idosa irá mais do que triplicar nas próximas quatro décadas, de menos de 20 milhões em 2010 para aproximadamente 65 milhões em 2050, passando a representar quase 50% dos habitantes do Brasil.

Diferentemente do discurso comum de que os velhos não são apoiados pelo Estado é falsa. O Brasil já investe mais em seus velhos do que em suas crianças. Por exemplo, a parcela das transferências públicas per capita destinadas à população idosa, se comparada à fração para as crianças, é atualmente muito maior no Brasil do que em qualquer país da OCDE e da América Latina com sistemas proteção social similares. A mudança demográfica acentuaria essa disparidade, aumentando explosivamente os déficits. a transição demográfica é avançada se comparada a outros países da América Latina, mas o Brasil é ainda relativamente jovem se comparado aos países da OCDE.

Com mais idosos, o número de aposentados (tanto por contribuição, quanto pelos Benefícios Continuados), o Estado terá que destinar mais dinheiro público para esta faixa etária. E como a Matemática é cruel, menos para infância e juventude. Enquanto em 2005, os gastos públicos total com educação, saúde e previdência somavam 17,7% do PIB, sem reformas adicionais essas despesas podem chegar a 31,9% do PIB em 2050. Em outras palavras, o modelo atual tornará inviável a conta do envelhecimento.

O estudo aponta que modelo sócio econômico atual, desenvolvido em um contexto demográfico jovem, com grande pobreza, instituições nascentes e alta inflação, tende a desperdiçar os benefícios do dividendo. O Brasil mudou e os princípios com os quais desenha suas políticas não. Por exemplo, ao favorecer as transferências públicas para os idosos, o modelo foi muito eficaz para reduzir a pobreza e a desigualdade, mas levou a gastos semelhantes aos de países desenvolvidos– embora a estrutura etária do Brasil ainda seja relativamente jovem.

O resultado é uma menor capacidade de investimento nas camadas etárias que logo serão responsáveis por sustentar o crescimento do país e os benefícios de idosos, crianças e outros grupos dependentes.

A hora é importante porque até 2020, o Brasil passará pelo chamado bônus demográfico, quando a força de trabalho é muito maior do que a população dependente. O país poderia aumentar o seu PIB per capita em até 2,48 pontos percentuais por ano nesse período. Mas, esse dividendo não é automático, depende de instituições e políticas que transformem as mudanças demográficas em crescimento. E sito se faz por reformas, redistribuição de investimentos e aumento do foco na adolescência e juventude (ensino fundamental II, Ensino médio, saúde, emprego e renda, etc.).

Já dizia meu avô, a única saída para a velhice é cuidar da juventude.


O resumo de relatório em português:

http://siteresources.worldbank.org/BRAZILINPOREXTN/Resources/3817166-1302102548192/Envelhecendo_Brasil_Sumario_Executivo.pdf