sexta-feira, 11 de março de 2011

RÉQUIEM DE UM ZUNIDO


Em 2005, começaram a surgir relatos do sumiço. Primeiramente no Hemisfério Norte, onde todos nossos problemas contemporâneos parecem começar. Depois, foram informes de sumiços africanos, asiáticos e, por fim, sul-americanos.

Há também relatos antigos do problema. Textos indianos do século 5 contam sobre ele. Diversos registros europeus medievais. Alguns textos norte-africanos de mais de 1000 anos falam disto. Hieróglifos do Crescente (então) Fértil de 3000 anos atrás contam fatos semelhantes. Eram tempos onde os homens acreditavam que a natureza era a caligrafia dos deuses. Liam no sumiço delas presságios, avisos e castigos. Os homens faziam algum sacrifício (geralmente dos outros) e a coisa voltava ao normal.

Mas, passados os séculos, criamos a ciência da lei da causa e do efeito. Inventamos também a política da lei que diz que todo efeito ruim é causado por outro. Cientistas financiados por políticos, sempre no hemisfério norte, apressaram-se em “descobrir” a causa: uma bactéria. Bombardeiem a bactéria! Congelem suas contas bancárias! Fomos dormir sossegados.

E sossegados ficamos, porque o zunido delas seguiu ausente, em um silêncio crescente. O problema, que em outras épocas sempre se mostrara passageiro, não foi embora. A população mundial de abelhas (não me perguntem como eles fazem o censo) despenca ano a ano, há 6 anos.

Novos sábios chamados e outros culpados começaram a surgir. Pesticidas, Fertilizantes químicos, Ar rico em tudo, menos de nitrogênio e oxigênio aliado à extração maciça de minerais (parte deles, transportado para que solos sejam mais produtivos) geram uma arma de destruição em massa delas.

Você pode se perguntar. E eu com isto? Mel engorda. Eu fui picado uma vez. Morram todas! “Antes elas do que eu!” Você poderia argumentar. O problema é que a frase é um pouco diferente: “Antes elas, DEPOIS eu”. Sim, os sábios, até os do Hemisfério Norte financiados por políticos, dizem que o sumiço delas não só é consequência de uma bomba química, mas que também tem ( e terá ainda mais) reflexos na produção de alimentos.

A falta delas fará o preço da comida subir ainda mais. A redução nas colônias, diminui sensivelmente as polinização, a riqueza vegetal, desequilibra a população de insetos e aumenta a propagação das pragas. Que muito sabiamente serão combatidas como? Com mais bombas químicas, etc. Apagaremos o incêndio com mais fogo.

Não só da comida, da água também. Espera aí? Tudo por causa delas? Sim. A redução no índice de polinização já reduziu em 3% a diversidade em áreas florestais vizinhas às de produção agrícola. Em algumas espécies, a redução é maior do que 15%. Menos riqueza, pior ciclo de regeneração florestal, menos água.

Você deve pensar que estou viajando. Talvez tenha me convertido a uma seita neo-vegetariana que só come hóstia de trigo orgânico nativo dos montes Urais e colhido por monges tibetanos cegos. Não! Estas informações eu tirei do recente relatório do UNEP, a agência da ONU para meio-ambiente, e elas têm a assinatura de muitos sábios, inclusive os do Hemisfério Norte financiados por políticos.

Para quem gosta de dizer que tudo pode ser indicador econômico, podemos ter que inserir um índice de colméias na nossa próxima contagem de IDH. Quem sabe os antigos estavam certos, o silêncio delas é um aviso dos céus.

Para ver o relatório todo: