segunda-feira, 9 de maio de 2011

CONTRADIÇÃO? NÃO. PARADOXO



Quando alguém lhe pegar em uma contradição, faça como os cientistas. Não admita. Diga que isto é um Paradoxo.
Assim explicou-se a recente pesquisa que constatou que os “Países mais 'felizes' têm maiores taxas de suicídio”. O estudo da University of Warwick (UK) e o Hamilton College (Nova York) está disponível no “Journal of Economic Behavior & Organization”.

O que já tinha sido constatado em países nórdicos foi verificado em várias nações (entre elas, Canadá, Estados Unidos, Islândia, Irlanda e Suíça). Países com altos índices de felicidade relativamente altos e, também, altos índices de suicídio. Muitos países com altos índices de felicidade felizes têm índices de suicídio altos.

Os pesquisadores também utilizaram os parâmetros do estudo para comparar distintos estados nos EUA. Assim, esperavam minimizar os fatores de diferenças culturais e comprovar os dados comparativos entre países. Conseguiram. Os resultados observados nas comparações mais amplas entre os países se repetiram nas comparações entre diferentes Estados americanos. Estados onde a população se declarou mais satisfeita com a vida apresentaram maior tendência a registrar índices mais altos de suicídio do que aqueles com médias menores de satisfação com a vida.

O Havaí, por exemplo, ficou em segundo lugar no ranking ajustado de satisfação com a vida, mas possui o quinto maior índice de suicídios no país. Nova Jersey, por outro lado, ocupa a posição 47 no ranking de satisfação com a vida e tem um dos índices mais baixos de suicídio - coincidentemente, ocupa a posição 47 na lista. Isto prova o quê, surf deprime? Conheço gente que preferiria se matar no Hawai a viver até os 100 em New Jersey, mas tudo bem...

No estudo, os especialistas (e há especialistas em tudo, eu sou especialista em especialistas) utilizaram sua imaginação acadêmica para listar possíveis causas. Possíveis já que este é o tipo de pesquisa com baixíssima chance de ser comprovada. Há coisa mais chata do que um dado que cisma em teimar com sua teoria?

O estudo sugere que a explicação para o fenômeno estaria na tendência dos seres humanos de se compararem uns aos outros. Sentir-se infeliz em um ambiente onde a maioria das pessoas se sente feliz aumentaria a sensação de infelicidade e a probabilidade de que a pessoa infeliz recorra ao suicídio.

A isto chamam de paradoxo da felicidade, isto é, quanto mais feliz é um entorno, mais obrigado a ser feliz as pessoas se sentem. E, ao fim, ficam infelizes com tanta felicidade. Pessoas descontentes em um lugar feliz podem sentir-se particularmente maltratadas pela vida. A infelicidade seria mais tolerável em um ambiente onde todos estão infelizes. A correlação é ainda mais evidente entre mulheres. Parece até a frase (machista) de um escritor brasileiro: "uma mulher suporta tudo, menos 3 meses de felicidade".

Se você aplicasse a lógica ao extremo, você deveria procurar um grupo bem infeliz e se juntar a ele. Seria uma pessoa bem feliz asssim. rsrsrsrs O curioso no estudo é que ele não questiona o que parece ser o mais evidente: a própria validade dos dados sobre felicidade com os quais eles trabalham. 'Não há evidências de que estas pesquisas meçam algo além da reação a uma pergunta. 

O anglo-saxão costuma considerar a felicidade como a satisfação de certos fatores concretos: educação, renda, lazer, saúde. Você imagina um dinamarquês, abrindo o coração com um pesquisador de rua e dizendo: Ainda bem que você perguntou, eu sou mesmo muito infeliz. Quer ser meu amigo? Já nos países latinos e africanos onde a pesquisa é feita, o termo é constantemente interpretado como referente a um estado de ânimo. Nestes países, a felicidade é interpretada mais como bem-estar emocional. Combine isto com o fato de que estas culturas são mais tolerantes com relação à expressão de sentimentos em público. Isto talvez explique porque as pesquisas de felicidade variam mais nestes países. Por fim, os países asiáticos onde a pesquisa é feita parecem interpretar a pergunta como relativa ao seu entorno. Onde há paz na família e vizinhos, há felicidade. Logo, não é surpresa que estes países sempre aparecem no topo do ranking feliz. 

"O que te faz feliz?" fica bem em slogan de supermercado, mas não se encaixa nos modelos de pesquisa comportamental usados nas 2 maiores pesquisas sobre felicidade (IFB e CSH). Antes de explicar comparativamente, estas pesquisas deveriam ser usadas para analisar o que escondem.

No meu caso, o que me deixa feliz é não ler estudos assim. Quer ser meu amigo? :-)
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