segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Nem Freud explica. Ainda Bem.


Amigos meus passaram a noite de domingo em seus computadores para fazer correlações eleitorais.

Melhor seria terem ido à balada. Todas as tentativas de explicar os votos por renda, escolaridade, IDH, cor não deram em nada digno de nota. As que existem não passam pelo teste do “todos contra mim”. Não se repetem mais do que todas as outras somadas.

Candidatos com menos votos até apresentam correlações. No 1º. Turno, a candidata Maria Silva apresentou um viés muito claro de voto X indicadores sociais. Mas, eleições de 2º. turno já são tradicionalmente refratárias a este tipo de tentativa explicativa. Trata-se de um pleito onde o voto é decidido quase igualmente com base na opção e na rejeição.

Além disto, nesta eleição se aprofundou o fenômeno de descolamento entre indicadores e voto. Ele ainda é percebido nas duas extremidades dos indicadores. Mesmo assim, aparentemente só para renda. Isto é, os muito ricos e os muito pobres divergem profundamente em seus votos. Fora isto, nos casos dos dois candidatos, as demais diferenças forma pífias e não dão base para teses.

Religião, renda, escolaridade, gênero, cor, hábitos de leitura, etc. Nenhum dos indicadores sozinho baseia mais de 8% de viés. E ainda não sustentados, i.e., que não se repetem. Mesmo quando há aparente correlação dentro de um estado, ela não se sustenta na análise nacional. Pessoas com baixa renda votam diferentemente em estados distintos. Pessoas com nível superior em um divergem de seus pares em outro.

O que explica o voto então?  Os indicadores sociais certamente não são neutros na equação da decisão, mas eles não explicam. Eles compõem uma lógica decisória por camadas. Para tristeza dos que crêem em lógicas estruturantes para toda decisão, como se o ser humano fosse determinado a certas escolhas pelo seu contexto, as diferenças de votos parecem ter 3 camadas: familiar, pessoal,  geográfica e estruturante (indicadores).  Famílias votam unidas em 8 de cada 10 casos no Brasil. Pessoas votam como seus amigos mais chegados em 7 de cada 10. Em municípios de até 100.000 habitantes, 68% tiveram comportamentos eleitorais homogêneos. Por fim, há as opções relacionadas às condições.


O complexo na decisão é que estas camadas são sobrepostas e combináveis, e, de acordo com o indivíduo, exercem pesos distintos. O que é a desgraça dos analistas é a fortaleza da Democracia. Eleições com todas suas imperfeições (a principal delas na desigualdade entre candidatos com grandes estruturas/capacidade de arrecadação e os demais) ainda são espaços de opção não controláveis. Por mais que os marqueteiros influenciem, a lógica decisória não é previsível.

Resta a constatação que 99% dos torcedores do Fluminense votaram em Fred porque Washington virou "embaixador da boa-vontade", só conversa com o goleiro adversário.