segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Países deixam pobreza, mas População Não.


Países deixam pobreza, mas população não. 75% dos pobres do mundo não vivem mais em países pobres.

É o que revela o estudo “E se Três Quartos dos Pobres do Mundo Viverem em Países de Renda Média?”, conduzido por Andy Sumner, do Instituto de Estudos sobre Desenvolvimento (IDS, Reino Unido), publicado pelo CIP-CI/UNDP.

O estudo de Sumner é um reforço na tese de que a linha de medição de pobreza internacional do Banco Mundial está se descolando da realidade.

A hipótese é simples. Se um indicador não capta a situação das pessoas, ela se tornou caduco. A linha de pobreza do Banco Mundial ainda funciona para analisar o “desenvolvimento potencial”, ie, os recursos nacionais disponíveis.

As assimetrias na correlação entre riqueza de um país e de sua população já tinham sido apontadas. Com exceção de dois pequenos grupos: os extremamente pobres e os alto-médios ricos, em todo o restante não há sincronia.

A constatação levanta questionamentos sobre a classificação das nações de acordo com o PIB per capita, adotada desde o início dos anos 1970 pelo Banco Mundial (BIRD). A renda de uma série de países ultrapassou a barreira dos US$ 995 nos últimos 20 anos, mas apenas uma pequena parcela de sua população efetivamente vive com mais de US$ 1,25 por dia.

Para o BIRD, uma economia de renda média tem PIB per capita situado entre US$ 996 e US$ 12.196.

Número de nações pobres caiu de 60 para 39 desde 1990; economias médias passaram a reunir 75% da população em condição de miséria.

Com a diminuição do número de países pobres de 60 para 39 desde 1990, e a consequente ascensão desses territórios à categoria de economias de renda média, cerca de 75% das pessoas que vivem com menos de US$ 1,25 por dia estão hoje em nações cujo PIB per capita está acima da linha que define se um Estado é pobre ou não, avaliada em US$ 995.

Em 1990 cerca de 93% das pessoas em situação de miséria viviam em economias frágeis. Em contrapartida, entre 2007 e 2008, três quartos dos cerca de 1,3 bilhão de pobres do mundo viviam em nações de rendimento médio.

Imagine que hoje o Objetivo do Milênio 1 (redução da pobreza) fosse atingido em 100% dos países pobres do mundo. Ainda haveria900 milhões de pessoas pobres vivendo nos países estáveis e com rendimento médio.

Houve uma redução de pobres nos países mais pobres (ou frágeis). 23% das pessoas em situação de miséria vivem em Estados frágeis e afetados por conflitos, dez pontos percentuais a menos do que o estimado há duas décadas.

Sumner coloca sua opinião sobre o motivo do deslocamento: “Crescimento sem transformação social, econômica ou política são um ponto de partida para explicar a persistência de altos níveis de pobreza absoluta nos países de renda média. Quando se faz uma análise desse grupo, mudanças no emprego agrícola são evidentes, mas, surpreendentemente, há poucas alterações na desigualdade e nas receitas fiscais”.