quinta-feira, 18 de agosto de 2011

BRASILEIRO NÃO É "TÃO BONZINHO"...


Eu sou muito novo para ter visto :-), mas me contaram, vi no Youtube, etc que na década de 80 havia em um quadro de humor na TV onde uma personagem (a atriz americana Kate Lira) era sempre enganada, mas ingenuamente repetia o bordão: “brasileiro é tão bonzinho”.

Bem, a julgar por Duas pesquisas recentes (excelentes trabalhos dos “sociólogos de sabonete”, isto é, sociologia aplicada a pesquisas para que as pessoas comprem mais). Brasileiro não é bonzinho.

Era de se esperar que os últimos 5 anos de crescimento econômico que fazem a festa do consumo de carros a iogurtes, também tivessem reflexo no montante de brasileiros que doa e no montante doado pelos brasileiros. Não teve.

Em países em crise como Espanha e Irlanda, não houve queda na quantidade de pessoas que doam. E mesmo a queda do montante médio foi pequena. No Brasil, nada mudou nas duas versões da pesquisa (2008 e 2011). Somos um país onde poucas pessoas doam pouco. Pelo menos, através dos mecanismos sociais de doação (entidades filantrópicas, religiosas, de ajuda mútua, etc.).

Um das pesquisas, feitas pela GFK em 14 países (13.950 pessoas com mais de 15 anos em 14 países: Alemanha, Bélgica, Brasil, Espanha, EUA, França, Holanda, Hungria, Itália, Polônia, Portugal, Reino Unido, República Tcheca e Romênia.) estima que 29%, ou um em cada três brasileiros é doador para instituições filantrópicas.

A média mundial é de 38%. 2 em cada 3 das pessoas na Holanda e 50% da população do Reino Unido e da Suécia contribuem com dinheiro todo ano. No entanto, os alemães fazem jus à fama de mão fechada :-) 20% somente doam. (PS- Nos EUA, 41% dos americanos afirmam ter o hábito de doar dinheiro.)

Das pessoas que doam dinheiro, mais da metade (52%) revela que pretende doar este ano o equivalente a R$ 456,00 (até 200 euros). Já no Brasil, 73% doam até este teto.

A pesquisa mostra ainda que quem doa mais roupas e cestas de alimentos, tende a doar menos dinheiro. Na outra via, quem destina mais tempo para trabalho voluntário, doa mais dinheiro também.

1. Para quem doam?

1.1. No Brasil: Para as organizações de bem-estar de crianças estão em 1º no ranking (56%) e para as organizações religiosas (24%).
1.2. Na Europa: As crianças ganham também (39%) e Programas humanitários e/ou combate à pobreza (34%).

2. Por que doam?
2.1. Brasil: 74% afirmam que realizam doações por conta da orientação religiosa ou filosófica. Índice + alto do mundo. 18% por se sentirem relacionados à causa
2.2. Europa: 50% afirmam que realizam doações por conta da orientação religiosa ou filosófica. 35% dos europeus porque se sentem relacionados com a causa

3. Por que não doam?
3.1. Brasil:
  • 61% dos que não doam, afirmam que não tem recursos ou que já doaram, mas não doam mais.
  • Outros 28% dizem que não confiam nas instituições. Por exemplo, antes de para as crianças, os doadores do Criança Esperança doam porque confiam na Rede Globo (8 em 10 diz nem conhecer a parceira UNESCO). E isto vale para o bem e para o mal. Do lado dos que não doam, a antipatia também não e com a causa, é com a Globo.
  • Um pequeno contingente (sincero) diz que não doa porque não quer.
3.2. Na Europa: 21% dos que não doam afirmam ser por vontade própria.


Os fatores de análise dos motivos das doações encontra os dados de outra pesquisa, de Mário Matos. Nela, ela analisa o quanto um “selo socioambiental” influencia na decisão de compra. Quantos estão dispostos a pagar a mais pelo valor socioambiental agregado?

A conclusão é que o valor agregado por uma imagem socioambiental existe, embora seja limitado, mais forte em mulheres e não vinculado a uma causa. Além disto, Matos aponta para a constatação de que a decisão é baseada mais na reputação e consistência da marca do produto do que na causa em si.

Por esta pesquisa, o famoso ditado “dize-me com quem andas que te direi quem és”, no caso de valor socioambiental é o contrário: “dize-me quem és e te direi com quem andas”

Difícil concluir muito deste tipo de pesquisa. Mas, os dados parecem indicar o crescimento econômico brasileiro tem tido reflexos na conta de supermercado, mas não nas doações. 

E, quando doamos, fazemos mais por orientação e confiança do que por destino ou resultado. Curioso é que nos vemos como um povo muito bom. 84% dos entrevistados se consideram generosos. Nossa auto-imagem é de Madre Teresa de Calcutá, nossa ação não.