quinta-feira, 26 de agosto de 2010

EUA: Super-Ricos Benemerentes e Pobreza Crescente


A corrosão da classe média nos EUA

(English Version)

http://www.spiegel.de/international/zeitgeist/0,1518,712496,00.html

(Editado)



Thomas Schulz - DER SPIEGEL




Ventura é uma pequena cidade da costa do Pacífico, a cerca de uma hora de carro de Los Angeles. Casas luxuosas com vista para o oceano foram construídas nas colinas e as praias são muito frequentadas pelos surfistas. Ventura é uma Califórnia de conto de fadas. "Mas 20% dos que vivem na cidade correm em risco de ficar sem teto" "(Capitão William Finley, da filial local do Exército da Salvação)


No verão passado, a cidade implementou um programa-piloto, administrado por Finley, permitindo às pessoas dormir nos seus carros dentro dos limites da cidade. O que normalmente é ilegal, não só em Ventura como no resto do país, onde as autoridades locais e os moradores se inquietam quando observam vans repletas de trabalhadores migrantes mexicanos estacionadas nas ruas residenciais.



Mas, no início do ano passado, os moradores de Ventura perceberam que os carros estacionados na frente das suas casas à noite não eram aquelas latas velhas, mas carros em ótimas condições. E as pessoas que dormiam dentro deles não eram colhedores de frutas ou sem-teto, mas seus antigos vizinhos. De repente, um número duas vezes maior de pessoas estava recorrendo aos programas de refeição gratuita oferecida pelo seu serviço social



Por um período, os EUA pareciam ter saído relativamente ilesos da pior crise já observada em décadas com mais energia e vigor - como se verificou em crises anteriores.



O governo anunciou novos dados de crescimento no fim do ano passado, muito mais cedo do que o esperado. Os bancos, moribundos até recentemente, voltaram a lucrar bilhões. Empresas reportaram um forte crescimento e a bolsa quase chegou aos níveis anteriores à crise. Até o número de bilionários aumentou: 17% em 2009.



Há duas semanas, Bill Gates, fundador da Microsoft, e mais 40 bilionários, prometeram doar pelo menos a metade da sua fortuna para instituições filantrópicas, ainda em vida ou após sua morte. Serão os EUA um país tão abençoado com a riqueza que alguém pode se permitir doar bilhões de dólares, como é o caso? A decisão de Gates também pode ser interpretada como uma campanha de relações públicas, num país onde os super-ricos sentem que, enquanto lucram com a crise, como é de se esperar, o número de pessoas afetadas por ela cresceu enormemente. E percebem que aumenta cada vez mais o ressentimento na sociedade americana contra aqueles que estão no topo.



Para as pessoas de baixa renda, a recuperação já parece ter se desintegrado. Especialistas temem que a economia possa continuar frágil por muitos anos. E, apesar de muitos programas de assistência do governo, a pouca esperança que deveriam produzir ainda não foi sentida pela população de um modo geral. Pelo contrário, para muita gente a tendência é sempre de queda.



Segundo uma recente pesquisa, para 70% dos americanos a recessão continua a pleno vapor. E desta vez não são apenas os pobres os mais atingidos, como costuma ocorrer nesses períodos. A crise também está atingindo pessoas diplomadas que até agora tinham um bom nível de vida. Indivíduos considerados de classe média e que hoje sentem-se mais ameaçados do que em qualquer momento na história do país.



1. Quatro em cada dez americanos que fazem parte dessa classe acham que não conseguirão manter sua condição social. De fato, os EUA, na esteira da crise, estão ameaçados por uma Idade do Gelo social mais severa, jamais observada desde a Grande Depressão.



2. O número de pessoas sem emprego há muito tempo é três vezes maior do que o observado em qualquer outra crise, e ele ainda está crescendo. Mais de um ano após o término oficial da recessão, a taxa de desemprego continua consistentemente acima dos 9,5%. Mas esses são dados oficiais. Quando ajustados para incluir aqueles trabalhadores que já desistiram de procurar emprego ...a taxa de desemprego real sobe para mais de 17%.



3. No seu relatório anual, o Departamento de Agricultura observou que a "insegurança alimentar" vem aumentando e que, no ano passado, 50 milhões americanos não conseguiam comprar a quantidade de alimento suficiente para se manter.



4. Um em cada quatro americanos adultos e uma a cada quatro crianças sobrevivem às custas de vales-alimentação do governo. São dados inacreditáveis para uma nação considerada a mais rica do mundo.



Foi só nos últimos meses, quando a economia cresceu, mas o emprego não voltou, os lucros aumentaram, mas os índices de pobreza sobem a cada semana, que o país parece ter reconhecido que está lutando com uma crise estrutural profundamente arraigada que já vinha se formando há muitos anos....









































TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO